Restos de 'muito rico": por que famosos preferem seminovos para ostentar
Alessandro Reis
Do UOL, em São Paulo (SP)
09/06/2021 04h00
Muitos famosos com atuação em diferentes áreas fazem questão de ostentar nas respectivas redes sociais com seus carrões - muitos dos quais chegam a custar mais de R$ 1 milhão, caso sejam adquiridos zero-quilômetro.
No entanto, há máquinas que estão longe de valer tanto por um motivo simples: na verdade, são veículos seminovos, com alguns anos de uso.
Essa preferência tem um motivo: o gasto com a aquisição é muito inferior se comparado à compra do mesmo veículo zerado, sem afetar o objetivo pretendido: ganhar exposição na mídia e engajamento de seguidores ao virar notícia com um bólido de marca consagrada na garagem.
Estes automóveis caros, porém de segunda mão, poderiam ser chamados de "restos de muito ricos": não raro seus primeiros donos foram bilionários anônimos, que não fazem a menor questão de publicidade, mas têm bala na agulha para comprar o que quiserem - sem preocupação com orçamento nem necessidade de economizar.
O que os famosos não contam
A ex-BBB Viih Tube, por exemplo, chamou a atenção há alguns dias ao postar no Instagram uma foto à frente do seu recém comprado Porsche Cayenne. Alguns sites de celebridades chegaram a publicar que o SUV da youtuber custaria mais de R$ 600 mil, com base nos valores cobrados atualmente por uma unidade zerada.
Contudo, na verdade o Porsche de Viih é usado, modelo 2014 e da versão de entrada S. De acordo com a Tabela Fipe, custa cerca de R$ 235 mil.
O funkeiro Kevinho também preferiu gastar seu dinheiro em um seminovo. No fim de 2018, o músico ganhou as manchetes ao posar nas redes seu Audi R8 vermelho. Na época, chegou a ser publicado que o esportivo com motor V10 de Kevinho beirava R$ 1 milhão, mas na verdade o preço é bem menor.
O R8 V10 do artista é modelo 2014; portanto, segundo a Fipe, seu preço médio é de R$ 690 mil. Um exemplar zerado do mesmo modelo sai por R$ 1,53 milhão e, provavelmente, o interessado precisará encomendar o veículo e aguardar pela entrega.
O especialista no setor automotivo Flavio Padovan, que acumula passagens por Ford, Volkswagen e Jaguar Land Rover, aponta os motivos já mencionados e outros para que famosos prefiram veículos de luxo de segunda mão - ainda que tenham condição de levar uma unidade novinha.
Alta desvalorização
Uma das principais motivações para levar um usado é o quanto seu preço cai em pouco tempo, tratando-se de carros "premium".
"Carro de luxo tem desvalorização muito maior na comparação com modelos de marcas generalistas. São veículos com mercado reduzido e elevado custo de propriedade, incluindo preços de seguro e manutenção. Escolher um seminovo ajuda a reduzir esses gastos", pontua o consultor - sócio da consultoria MRD Consulting.
Padovan complementa dizendo que a pandemia do coronavírus elevou as vendas de veículos de alto padrão, tanto zero-quilômetro quanto seminovos.
"Quem tem realmente muito dinheiro está deixando de gastá-lo em viagens e bons restaurantes devido às restrições à circulação. Para compensar, os 'super ricos' têm preferido comprar o que lhes dá prazer, o que inclui carros novos", destaca.
"Quem não tem tantos recursos, mas é capaz de levar um seminovo, o faz pela mesma razão: obter status e satisfação, pagando R$ 200 mil em um veículo que parece custar R$ 500 mil", finaliza Padovan.