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Ghosn diz que distância da mulher pesou em fuga: "Valeu correr o risco"

Ghosn diz que distância da mulher pesou em fuga Imagem: Reprodução/Globo News

Do UOL, em São Paulo

08/01/2020 23h02

Ex-CEO da Renault e da Nissan, o brasileiro Carlos Ghosn afirmou, na noite de hoje, que o fato de ter sido impedido de receber a visita da esposa na prisão ajudou a tomar a decisão para fugir do Japão.

O executivo, que ganhou status de herói nacional após salvar a Nissan da falência, foi preso em 2018 sob acusação de má conduta financeira e estava em prisão domiciliar nos últimos meses. Ele fugiu ilegalmente do país no fim de dezembro e atualmente se encontra no Líbano, onde concedeu entrevista ao programa "Roberto D'Avila", da Globo News.

"Eu estava proibido de falar com meu filho, com minha mulher, que já não via há nove meses. Isso tudo fez com que eu pensasse 'não dá mais'. Tudo isso gerou uma grande ansiedade em mim", disse ele, ao justificar motivos que levaram a tomar a decisão da fuga. "Eu já estava projetando um futuro sem a minha família. Preferi correr o risco. Valeu a pena, porque não havia mais nenhuma chance de ter um julgamento justo e equilibrado", completou.

Questionado sobre erros cometidos, Ghosn afirmou que se arrepende de pelo menos dois deles —como o fato de aceitar o novo mandato na Renault e quando não deixou completamente a diretoria da Nissan—, além de confiar em pessoas nas quais não deveria ter confiado.

"Mas você reconhece esses erros somente depois. Eu confiei em pessoas que, com o tempo, vi que não eram adequadas", desabafou.

Ainda durante a entrevista, Ghosn também voltou a fazer críticas ao sistema judiciário do Japão e citou um suposto complô armado contra ele.

"Quando uma coisa assim acontece com você, subitamente... você tem um cara, que é o procurador, diz que quer conversar com você e você não pode usar o telefone e, três horas depois, você está na prisão... o mundo caiu. É como se você tivesse falecido", avaliou Ghosn. "Eu não falo muito bem japonês, mas somente depois eu percebi que tudo era um plano da Nissan com o procurador", completou.

Direitos humanos essenciais

A Ministra da Justiça do Japão, Masako Mori, admitiu ter recebido "diversas críticas" sobre o sistema judiciário, mas tratou de defendê-lo dizendo que ele assegura "os direitos humanos essenciais" de qualquer pessoa.

Mori afirmou que o Japão pode requisitar a extradição de Ghosn junto ao Líbano. Justamente por isso é que a ministra disse que o pedido precisaria ser tratado com cuidado, já que os dois países não possuem um acordo deste tipo.

Estilo impetuoso e salário alto

O relacionamento entre Ghosn e a Nissan se deteriorou nos últimos anos por conta do temor de que a Renault poderia influenciar nas decisões da empresa japonesa.

Segundo Stephen Givens, professor de Direito da Universidade de Sophia, em Tóquio, a Nissan nunca gostou da ideia de ter um CEO e um investidor estrangeiros - no caso, a Renault.

Ghosn foi duramente criticado quando cortou 20 mil empregos e fechou fábricas logo após assumir a Nissan, mas gozava de prestígio por ter livrado a empresa da falência. Mesmo assim, o prestígio do empresário não era mais o mesmo de outrora, especialmente por seu estilo impetuoso e pelo generoso salário que ganhava no Japão.

A consultoria Proxinvest estima que o executivo ganhou 13 milhões de euros (quase R$ 56 milhões) em 2017. Desse total, 7,4 milhões de euros (R$ 31,7 milhões) se referiam aos seus ganhos no grupo Renault.

Normalmente, os salários de cargos executivos no Japão são mais baixos do que nos Estados Unidos. Um estudo feito no mês passado pela consultoria Willis Towers Watson apontou que a média salarial de um CEO no Japão foi de 156 milhões de ienes em 2018, ou aproximadamente R$ 5,8 milhões. O valor é bem inferior aos R$ 55,5 milhões pagos nos EUA.

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