Conteúdo publicado há 3 meses

Grupo e padre vivem conflito por bloco: 'Não adianta só desligar o som'

Um grupo de regueiros e o padre titular da Igreja Nossa Senhora do Ó, na Freguesia do Ó, zona norte de São Paulo, vivem clima de tensão devido à apresentação de um bloco de Carnaval.

Os eventos, realizados na principal praça pública do bairro, têm obrigado a igreja a reagendar casamentos e batizados.

O que aconteceu

O bloco de rua Jah É, voltado para a cultura do reggae, foi lançado no Carnaval de 2019 com a proposta de se juntar a regueiros antigos.

O grupo se apresentou na praça pública, em frente à Matriz. E é aí que o problema começa.

Aldenor Alves de Lima, mais conhecido como padre Aldo, de 53 anos e mais de duas décadas de igreja católica, bate de frente com os organizadores do bloco.

Ele afirma que os eventos de Carnaval trazem prejuízos à paróquia, como o cancelamento de casamentos, batizados e a agenda pastoral.

Neste sábado, por exemplo, a igreja realizou duas missas (às 11h e às 16h), mas precisou reagendar o casamento da noite. O desfile do bloco começou às 18h, mas estava previsto para as 17h.

A subprefeitura tem feito reuniões com os dois grupos, mas nenhuma solução foi encontrada até agora.

Os eventos de Carnaval, vale ressaltar, são autorizados pelo poder público.

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Estou aqui como representante não só espiritual, mas também civilmente e moralmente a paróquia. Então, faz parte da minha função defender os interesses centenários da população católica desse bairro. Não tenho absolutamente nada contra o Carnaval. O que eu me enervo é quando a gente não cria uma sintonia. Eu não estou dizendo que a igreja precisa ser 'a dona do pedaço' ou 'a intolerante'. A igreja está aqui para atender ao interesse de uma população. O bairro nasceu com essa igreja. Então, um pouco de humildade quando querem inserir na geografia onde esta paróquia está localizada. Eu acho que isso é respeitar a própria história.
Padre Aldo, de 53 anos

Ensaio do bloco Jah É, que rolou na Freguesia do Ó, em São Paulo
Ensaio do bloco Jah É, que rolou na Freguesia do Ó, em São Paulo Imagem: Marcelo Justo/UOL

Não adianta só desligar o som. Ou você acha que se desligar o som às 17h, você acha que às 17h15, a população estará aqui para a missa? Não vai. Ela se afasta. Então há esses prejuízos. Desmarcamos todos os casamentos da noite, todos os batizados e a nossa agenda pastoral (nos três finais de semana que antecedem ao Carnaval). Não temos catequese por conta da praça, do Carnaval. Já teve um evento aí na praça, ao ponto de ser um transtorno.

Ao UOL, Gustavo Xavier, de 41 anos, líder, mestre de bateria e idealizador do Jah É, rebate a declaração do padre e culpa o conservadorismo que teria transformado a Freguesia.

O músico diz que o grupo, na verdade, está apenas reocupando um espaço que já pertencia a eles.

Os últimos dez anos foram muitos conservadores no entorno do bairro, que tinha uma raiz muito reggae e periférica. Mas houve uma remodelação das pessoas que vivem aqui e frequentam a praça. Isso daqui era ocupado por nós. Então, assim, a gente só está reocupando o que já era nosso.
Gustavo Xavier, de 41 anos, líder do Jah É

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"Quando era o outro padre [esqueceu o nome], ele era simpatizante [do movimento]. Mas os dois últimos padres (esse e o anterior a ele) acham que... assim, vivemos num estado laico, onde a ocupação da rua é legítima... Então, sempre vai ter algum tipo de embate. Mas eu, repito, a gente não está aqui [desde] ontem. Temos mais tempos que esses padres. Estamos aqui fazendo um evento familiar, com muita criança", finaliza.

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