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Com jejum de 9 anos, presidente diz que Mocidade só se prepara para ganhar

Solange Cruz, presidente da Mocidade Alegre, é famosa por seus terços e guias

Flávio Ismerim

Colaboração para o UOL, em São Paulo

15/02/2023 12h00

Figura emblemática nas apurações do Carnaval de São Paulo, sempre aflita e cheia de terços nas mãos, Solange Cruz afirma que sempre chega ao Anhembi para ganhar. Presidente da Mocidade Alegre, ela se mostra confiante com o desfile deste ano após um jejum de nove anos sem levar o troféu para a escola do bairro do Limão (zona norte).

Em entrevista ao UOL, a comandante da Morada do Samba explicou que nunca faz Carnaval para brigar para voltar no Desfile das Campeãs, muito menos para apenas tentar se manter no Grupo Especial.

"A Mocidade sempre vem pro título porque a gente se prepara para isso. Aqui não existe se preparar para ficar entre as cinco, se preparar para não cair. Ser campeão ou não é diferente. Não depende de nós, é com o jurado", disse Solange.

Esse ano, a Mocidade cantará a história de "Yasuke", o primeiro samurai negro, e defenderá no Anhembi que ele vive nos sonhos de cada jovem negro brasileiro.

O último dos dez títulos da Mocidade Alegre foi em 2014, falando sobre a fé com o enredo "Andar com fé eu vou que a fé não costuma falhar". De lá para cá, a escola bateu na trave com os vice-campeonatos de 2015, 2018 e 2022; e ainda conquistou duas vezes o terceiro lugar, em 2018 e 2020.

Título preferido rompeu outro jejum. Em 2023, Solange completa 20 anos à frente da agremiação. Sob seu comando, a Mocidade Alegre foi campeã seis vezes e só ficou fora do desfile das campeãs em três oportunidades: 2011, 2017 e 2019. De todos os títulos, o preferido da presidente é o de 2004, que encerrou um jejum de título que durava 24 anos, além de ter sido no seu ano de sua estreia no comando da escola.

"O desfile deu muito certo e a escola passa a acreditar mais em si mesma. As pessoas tinham prazer em vestir a camisa, orgulho em dizer 'sou do Limão', 'sou da Mocidade'. A gente conseguiu fazer esse resgate", comentou.

Em 2004, a vermelho e verde levou ao Anhembi um enredo que contava a saga dos imigrantes para comemorar os 450 anos da cidade de São Paulo, com "Do Além-Mar à Terra da Garoa... Salve Esta Gente Boa".

Escola grande e familiar, ao mesmo tempo. Apesar de a Mocidade ser uma das maiores e mais tradicionais escolas da capital paulista, Solange atribui o sucesso da sua atuação à frente da agremiação do Limão à gestão familiar.

A escola fui fundada em 1967, pelo pai e pelos tios de Solange, que eram oriundos do Bloco das Primeiras Mariposas Recuperadas do Bom Retiro. Além do pai, sua irmã, Elaine, também presidiu a agremiação.

"É uma liderança familiar que desde que fundou permanece. Então é natural que esse amor vá evoluindo dentro da agremiação com as pessoas que lá estão, lá ficaram e as que vão chegar", explica.

A presidente também adianta que a dinastia Cruz à frente da Mocidade deve ser perpetuada. Seu filho Sombrinha atua ao lado do seu marido, Mestre Sombra, no comando da bateria da escola. Além disso, há menos de um mês, o jovem foi pai do primeiro neto de Solange: Marcos.

"O Sombrinha desponta juntamente com o pai. O filho dele já nasceu, o meu neto. A gente percebe que as coisas vão fluindo. Meu sobrinho desfila, minha irmã desfila, meus primos desfilam."

Equilíbrio entre tradição e inovação. Em 2023, a Mocidade Alegre será a única entre as maiores campeãs do Carnaval paulistano a desfilar no Grupo Especial. O Vai-Vai (15 títulos), a Nenê de Vila Matilde (11) e o Camisa Verde Branco (9) se apresentam no Grupo de Acesso 1.

A escola do Limão, inclusive, nunca foi rebaixada e figura na elite das escolas de samba de São Paulo desde 1968, quando os desfiles foram oficializados pelo então prefeito Faria Lima.

Apesar de ser tradicional e antiga, a Mocidade vem mostrando que não perde a queda de braço com o tempo e bate de frente com as escolas mais jovens —como a Mancha Verde, atual campeã.

"A Mocidade é uma das poucas escolas que se manteve no Grupo Especial até hoje. Não é fácil, o Carnaval está cada vez mais acirrado, mas também não vai ser esse ano que isso vai acontecer, não. Estamos preparados", afirma afastando da mente a ideia de fazer um desfile fraco em 2023.

Para Solange, o grande trunfo dessa atualização é justamente a capacidade de oxigenação dos setores mais tradicionais da escola, como a velha guarda —grupo que reúne os baluartes mais antigos da Mocidade.

"Tem muita gente na nossa velha guarda, no nosso dia a dia que faz parte, que opina dentro da escola, que são ativos. Mas as cabeças evoluíram junto com a escola. Isso é importante para caminharmos também", declara.

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