Pedras, hérnia, desgaste: 10 causas de dor na virilha e como tratá-las

Você já sentiu ou ouviu falar na chamada dor inguinal? É uma sensação desagradável que pode se manifestar como ardor, pontadas, pressão ou fraqueza na virilha, ou seja, na zona situada entre a parte baixa do abdome e o interior da coxa. Esse incômodo pode ser agudo, crônico e limitar habilidades, posições e movimentos variados, como sentar, caminhar, correr ou agachar.

Como essa é uma região bastante complexa, com diversas estruturas, como tendões, músculos, articulações, ligamentos, aparelho reprodutor, sistema urinário, nervos e órgãos viscerais, obter um diagnóstico médico geralmente leva um certo tempo. Em geral, pode ser necessário consultar vários especialistas e realizar alguns exames de imagem.

Caso você esteja investigando essa dor, conheça algumas das possíveis causas e seus respectivos tratamentos:

1. Cálculo no ureter

Os ureteres são como dois pequenos canais que transportam a urina dos rins à bexiga. Caso a porção final do ureter, que se conecta à bexiga, seja bloqueada pela migração de um cálculo pequeno, formado quando minerais e sais ácidos presentes na urina cristalizam, pode causar uma dor inguinal pulsante, com ardor e uma frequente vontade de urinar. Às vezes, a pessoa também pode sentir dor lombar.

Como cuidar? O diagnóstico de um cálculo na saída do ureter é feito por meio de tomografia computadorizada e o tratamento envolve terapia expulsiva, que é uma combinação de medicamentos que auxiliam na eliminação dos cálculos. No entanto, para cálculos entre 5 e 7 milímetros, que não são eliminados espontaneamente e causam dor incessante e risco de infecção, a cirurgia é indicada.

2. Lesão do labrum

A lesão do labrum, também conhecida como lesão labral, é uma fissura na cartilagem da articulação do quadril, localizada no encaixe entre o osso fêmur e o acetábulo, a cavidade da pelve. Essa condição pode gerar dor na virilha, sensação de pressão que pode irradiar para a bexiga e os genitais, além de ardência. Se não for tratada, pode levar à osteoartrite e à destruição dessa articulação.

Como cuidar? O tratamento conservador envolve modificações nas atividades físicas e no dia a dia que desencadeiam a dor, uso de analgésicos e anti-inflamatórios, além de fortalecimento e reequilíbrio muscular ao redor do quadril. Se essas medidas não funcionarem, é indicada uma artroscopia de quadril, uma cirurgia minimamente invasiva para reparar a cartilagem e corrigir o excesso de impacto.

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3. Distensão

A distensão pode ocorrer no tendão ou na junção músculo-tendínea, uma área próxima à articulação onde o tendão se une ao músculo. Se ocorrer nas fibras musculares vermelhas, localizadas no meio do músculo, é classificada como estiramento. Na virilha, esses problemas representam até 6% de todas as lesões esportivas e 10% de todas as visitas a centros médicos no planeta.

Como cuidar? Por enquanto, o paciente deve dar uma pausa nos exercícios para evitar que as lesões piorem e deve evitar movimentos de rotação e flexão do quadril. Além disso, a musculatura do quadril deve ser trabalhada, não apenas para aliviar a dor na virilha, mas também para melhorar a amplitude dos movimentos. Além de repouso e fortalecimento muscular, a fisioterapia pode ser necessária, incluindo o uso de anti-inflamatórios.

4. Desgaste no quadril

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Imagem: iStock

O desgaste no quadril é o resultado de uma lesão no labrum e do chamado impacto femoroacetabular, que é o atrito entre o fêmur e o acetábulo, a superfície articular do quadril, devido a algum tipo de crescimento ósseo não tratado. O processo de degeneração (artrose) da articulação do quadril causa dor na virilha de forma crônica, evoluindo para rigidez na movimentação, estalos e deformidades.

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Como cuidar? O tratamento da artrose do quadril envolve fisioterapia, mudanças no estilo de vida, uso de medicamentos condroprotetores (que ajudam na produção e diminuição da degradação do colágeno, embora não haja consenso médico), anti-inflamatórios e analgésicos, infiltrações e viscossuplementação com ácido hialurônico. Em casos mais graves, pode ser necessária uma cirurgia para a colocação de prótese de quadril.

5. Hérnia inguinal

A hérnia inguinal é um inchaço ou protuberância na região da virilha, resultante de um ponto fraco na musculatura da parede abdominal inferior que não suportou uma pressão muito alta, como ao levantar muito peso ou fazer esforço para evacuar. O conteúdo interno, que pode ser gordura ou uma alça intestinal, atravessa a região muscular em direção à pele, causando dor.

Como cuidar? A única opção de tratamento para corrigir essa alteração é a herniorrafia inguinal, uma cirurgia considerada simples, cujo principal objetivo é evitar o estrangulamento do conteúdo interno. Quando esse conteúdo fica preso do lado de fora, ele deixa de receber suprimento sanguíneo, o que pode levar à necrose dos tecidos e até à morte.

6. Neuralgia do pudendo

A neuralgia do pudendo é uma condição em que o nervo pudendo, um nervo pélvico, se torna altamente sensível, causando uma dor intensa, muitas vezes descrita como uma queimadura. Essa dor pode irradiar para a virilha, períneo, ânus, vulva (nas mulheres) e testículos e pênis (nos homens). Ela é desencadeada pela compressão do nervo ou trauma direto, frequentemente causados por ficar sentado por longos períodos, andar de bicicleta, esforço durante o parto ou cirurgia pélvica.

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Como cuidar? Para o tratamento da neuralgia do pudendo, é importante evitar situações que agravem ou desencadeiem os sintomas. Além disso, a abordagem terapêutica pode incluir fisioterapia e medicamentos específicos, como antidepressivos, anticonvulsivantes e analgésicos. Quando essas medidas não proporcionam alívio suficiente, podem ser considerados tratamentos mais invasivos, como bloqueios anestésicos, radiofrequência pulsada e cirurgia descompressiva do nervo pudendo.

7. Pubalgia

A pubalgia é uma dor que afeta a região do púbis, que inclui a articulação da sínfise púbica localizada na frente da bacia, o abdome inferior, a virilha (inguinal) e a região superior da coxa, especialmente os adutores, que são os músculos da parte interna da coxa sujeitos a distensões e estiramentos. A causa da pubalgia está relacionada a um desequilíbrio entre músculos, tendões, ossos e articulações.

Como cuidar? O tratamento da pubalgia envolve uma abordagem terapêutica que inclui fisioterapia, com o objetivo de reduzir a dor, restaurar o funcionamento normal das articulações e reequilibrar os músculos. Isso pode ser combinado com exercícios de fortalecimento muscular, reeducação neuromuscular, treinamento proprioceptivo e alongamento. Em alguns casos, pode ser necessário o uso de medicação anti-inflamatória, aplicação de compressas frias, hidroterapia e, em último caso, a consideração de cirurgia.

8. Epididimite

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A epididimite é a inflamação do epidídimo, um pequeno ducto responsável por coletar e armazenar os espermatozoides produzidos pelo testículo. Os homens possuem dois epidídimos, um de cada lado, e quando inflamados (geralmente unilateralmente), causam dor escrotal que pode irradiar para a virilha e a bexiga. Outros sintomas incluem inflamação local, calor e ardência durante a micção.

Como cuidar? O diagnóstico da epididimite é baseado no exame físico, incluindo o toque do testículo pelo médico, e pode envolver exames adicionais, como ultrassom. O tratamento é geralmente realizado com antibióticos, analgésicos e, por vezes, o uso de um suporte escrotal para reduzir a tensão nos tendões e músculos locais. Em casos de epididimite recorrente ou crônica, que podem levar à formação de abscessos e aderências, a cirurgia pode ser necessária.

9. Endometriose

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A endometriose ocorre quando células do tecido que normalmente reveste o interior do útero (endométrio) não são eliminadas durante a menstruação e, em vez disso, se desenvolvem em outras partes do corpo, como ovários, trompas e até mesmo no intestino. Além da dor na região da virilha, outros sintomas incluem cólicas durante o período menstrual, dor durante o sexo e sangramento ao urinar e evacuar.

Como cuidar? O diagnóstico da endometriose geralmente é confirmado por meio de exames de imagem, como ressonância magnética e ultrassom. Mulheres mais jovens podem receber medicamentos para suprimir a menstruação, enquanto lesões maiores de endometriose geralmente requerem remoção cirúrgica. Em alguns casos, especialmente em mulheres que não desejam mais ter filhos, a retirada dos ovários e do útero pode ser uma opção a ser considerada.

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10. Prostatite

A prostatite é uma inflamação ou infecção da próstata e pode ser do tipo aguda ou crônica. Ela pode estar relacionada a infecções bacterianas, traumas locais ou espasmos dos músculos do esfíncter urinário, que irritam a glândula prostática. Os sintomas incluem uma sensação de peso ou pressão na virilha e nos testículos, queimação intensa ao urinar e, em casos graves, incapacidade de esvaziar a bexiga.

Como cuidar? O médico pode avaliar a próstata por meio do toque retal e solicitar exames complementares. O tratamento da prostatite envolve o uso de antibióticos, medicamentos chamados alfa-bloqueadores, que relaxam os músculos da bexiga e da próstata para facilitar a micção, além de anti-inflamatórios. Mudanças nas atividades que exercem pressão sobre a próstata também podem ser recomendadas.

Outras possíveis causas de dor inguinal incluem varizes testiculares (varicocele), gases aprisionados no ceco (quadrante inferior direito do abdômen, correspondente à primeira parte do intestino grosso) e problemas lombares, como compressões de nervos que irradiam dor para a virilha.

Fontes: Alex Meller, urologista da Unifesp; Alexandre Pupo, ginecologista e obstetra associado à Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia); Fabrício Buzatto, médico do esporte e fisiatra do Hospital das Clínicas da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo); Júlio Barbosa, médico pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e neurocirurgião; e Vanessa Prado, cirurgiã do Centro de Especialidades do Aparelho Digestivo, do Hospital Nove de Julho, em São Paulo.

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