Serotonina e balanço do cálcio podem ser chave para tratamentos de demência
Do VivaBem, em São Paulo
12/05/2018 09h46
Tentando descobrir uma maneira de melhorar a memória e retardar casos de demência relacionados à idade, cientistas acreditam ter encontrado uma resposta promissora em um receptor de serotonina -famosa por regular funções como apetite, sono e humor.
Ainda é muito cedo para falar na criação de medicamentos, mas a medida que os neurocientistas exploram mais o cérebro, os mecanismos de formação das nossas lembranças ficam mais claros e chegamos um passo mais perto de um tratamento concreto.
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Pesquisadores da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, concentraram um novo estudo na liberação de serotonina no hipocampo.
Para começo de conversa é preciso conhecer melhor o hipocampo. Ele é uma simpática parte do cérebro em formato de cavalo-marinho que fica atrás das orelhas. O hipocampo desempenha um papel vital na memória, armazenando memórias de curto prazo e as transformando em lembranças de longo prazo.
No estudo, os cientistas priorizaram a parte do hipocampo chamada CA1. Pesquisas anteriores mostram que pessoas com danos nesta região têm um profundo prejuízo no aprendizado e nas memórias autobiográfica e episódica.
Os autores do estudo descobriram que a força da comunicação neuronal através da região CA1 está ligada à formação de memória. Além disso, notaram que o hipocampo é fortemente influenciado pela serotonina.
Para aprofundar essas constatações, os cientistas “brincaram” com neurônios do cérebro de camundongos usando uma técnica que permite desligar e ligar os neurônios usando pulsos de luz.
Assim, os neurocientistas descobriram que quando a liberação de serotonina é aumentada, a comunicação neuronal em CA1 se torna mais forte, melhorando a memória espacial dos animais. Quando a liberação de serotonina é bloqueada, a memória espacial é prejudicada. Isso prova que a formação da memória é dependente dessa via.
O receptor específico responsável por tudo isso é o 5-HT4, segundo o estudo. Se uma droga pudesse ser criada para aumentar a atividade nos receptores 5-HT4, na região CA1 do hipocampo, poderia ajudar as pessoas a permanecerem mentalmente afiadas até a velhice.
Molécula pode reduzir demência ao balancear cálcio no cérebro
Em outra pesquisa, feita pela Universidade de Purdue, também nos Estados Unidos, cientistas descobriram que uma minúscula molécula pode melhorar nossa memória e cognição.
A molécula é apelidada de SERCA e trabalha para corrigir o equilíbrio de íons de cálcio das células, reduzindo o estresse celular e prevenindo a perda de células nos neurônios. A descoberta abre portas para uma nova estratégia terapêutica para o desenvolvimento de drogas de neurodegeneração.
"Estamos interessados em condições neurodegenerativas como as doenças de Alzheimer e Parkinson. A perda de células cerebrais ocorre quando o equilíbrio de cálcio das células é interrompido. Nós nos concentramos em corrigir o manejo do cálcio intracelular através do desenvolvimento de moléculas que têm como alvo proteínas de manuseio de cálcio, como a SERCA," resumiu a co-autora do estudo, Katie Krajnak.
Pesquisadores descobriram que a molécula preservava a massa de células cerebrais e aumenta a memória em pacientes tratados. A SERCA também produziu uma redução de 60% nas placas cerebrais de Alzheimer.
Mais uma vez, ainda é cedo para pensar em um remédio que chegue ao paciente em breve, mas as novidades são empolgantes por abrirem portas para possíveis tratamentos eficientes.