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Dicas para usar melhor a sua mente


Tecnologia age como pirata do nosso cérebro: veja 7 dicas para lidar melhor

Imagem: Denis Freitas / VivaBem

Colaboração para o VivaBem

13/01/2020 04h00

Toda vez que uma nova notificação aparece na tela do seu computador, ou você nota o clarão do celular, ou mesmo ouve o som hipnótico que indica uma nova mensagem, você sai do foco. Para voltar à atividade anterior pode demorar até 20 minutos. E, o pior, isso tende a acontecer a cada quarto de hora, o que consome 40% do seu tempo produtivo. Ao navegar pelo mar da internet, você está na mira dos piratas. O tesouro que eles querem roubar é a sua atenção.

Estar atento ao que acontece ao redor é uma habilidade que permite aos seres humanos rastrear e selecionar informações relevantes para se protegerem de situações de risco ou encontrar recompensas. Tal competência é limitada e estar constantemente exposto a estímulos aumenta a carga cognitiva e compromete a capacidade de filtrar o que realmente importa. A explicação é de Keitiline Viacava, fundadora e diretora da empresa Decision Making Lab, em São Paulo.

Quando um banner, um pop up ou uma notificação do aplicativo entram na sua tela, você percebe o ocorrido e, mesmo que não responda imediatamente a esse estímulo, registra o fato e fica na expectativa do que virá a seguir. Sem que você perceba, o hormônio do estresse, o cortisol, entra em ação: a frequência cardíaca aumenta, a respiração muda, os músculos se contraem. O problema é que seu corpo não foi projetado para esse estado de alerta constante.

Risco de dependência

E tem mais. Ao ver um novo like nas redes sociais, a região pré-frontal do seu cérebro, encarregada pelas ações executivas, dá espaço à dopamina. Quando esse neurotransmissor é liberado, as sensações de prazer e bem-estar aparecem. "Isso ativa o sistema de recompensa, o mesmo relacionado às dependências químicas. Em altas doses, essas sensações levam a um ciclo vicioso", fala João de Fernandes Teixeira, doutor em Filosofia pela Universidade de Essex, na Inglaterra, e estudioso da filosofia da mente e da tecnologia.

O fato é que todas essas características não são ignoradas pelos fabricantes de videogames, caça-níqueis e aplicativos. A tecnologia, em si não tem a capacidade de prejudicar a sua saúde mental. O problema é o seu mau uso, que potencializa o risco de dependência. Sem falar que esses excessos podem ainda revelar outras enfermidades (ansiedade, depressão, transtorno obsessivo compulsivo). Apesar disso, os especialistas garantem: com algum bom senso e as estratégias certas, dá para prevenir os "ataques desses piratas do seu cérebro". Confira:

  • Imagem: Denis Freitas / VivaBem
    Imagem: Denis Freitas / VivaBem

    Compreenda o poder da tecnologia

    O uso excessivo da tecnologia tira você da vida real e pode gerar vício ou dependência. O primeiro se relaciona a algum hábito ou consumo que gera prazer. Ele pode ser esporádico ou não, prejudicial ou não --para você ou para as pessoas com as quais convive. São exemplos: roer unhas, ter pensamentos destrutivos e negativos, comer chocolate, consumir álcool etc. Já perder o controle dessas situações é definido como dependência ou compulsão. Para o cérebro, "os sistemas de abstinência da tecnologia se manifestam no mesmo grau dos apresentados por quem é dependente de drogas ou jogo, quando privados do objeto de sua compulsão", explica Lidiane Klein, psicóloga clínica especializada em neuropsicologia e professora da UFCSPA, no Rio Grande do Sul.

  • Imagem: Denis Freitas / VivaBem
    Imagem: Denis Freitas / VivaBem

    Saiba reconhecer os sinais

    Até hoje não está claro se há um perfil mais suscetível à dependência tecnológica. Contudo, pessoas impulsivas, que têm fobia social, dificuldade para lidar com frustrações e instabilidade emocional seriam as mais propensas ao problema. "Elas tendem a compensar seus sentimentos negativos, buscando diferentes formas de prazer", relata Yuri Busin, psicólogo especializado em Neurociência do Comportamento e diretor do CASME, em São Paulo. Aliás, os sintomas podem demorar a se fazerem notar. Antes, virão as queixas ortopédicas, oftalmológicas, cansaço, irritabilidade, dores de cabeça, pescoço e costas, e a falta de sono. Depois, vêm o afastamento dos amigos e familiares, o desejo de ficar conectado, o aumento do uso da rede para ter mais prazer; a tentativa de parar e não conseguir; a ansiedade pela falta da internet; mudanças de humor; perda da noção do tempo e as mentiras sobre o tempo de conexão. Identificar-se com 5 dessas atitudes já sugere dependência.

  • Imagem: Denis Freitas / VivaBem
    Imagem: Denis Freitas / VivaBem

    Invista em conexões reais

    Use as horas livres para fazer atividades que, igualmente, lhe trarão prazer. Faça escolhas mais conscientes: ligue para algum ente querido, faça uma caminhada ao ar livre, vá a locais onde possa estabelecer relacionamentos ou amizades reais --você pode associar-se a um clube ou voluntariar-se em sua comunidade, por exemplo. "As horas de lazer nunca devem estar associadas à tecnologia. Prefira ler, conversar e, no caso das crianças, brincar mais", sugere a psicóloga Alice Willhelm, professora da FACCAT e da Wainer Psicologia Cognitiva, em Porto Alegre.

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    Imagem: Denis Freitas / VivaBem

    Mantenha-se no presente

    Todos nós estamos sujeitos a nos tornarmos um pouco dependentes da tecnologia, porque ela integra o nosso dia a dia. E é até considerado natural que sintamos falta de estímulos que nos são úteis em diversas situações. Mas não se esqueça de focar no presente, de estar atento às pessoas com as quais fala no trabalho, à tarefa do momento, às atividades sociais e até mesmo na sala, assistindo à sua série favorita. Invista em técnicas de meditação, respiração. Isso ajuda a melhorar o foco, além de deixá-lo mais relaxado. Persevere nessas práticas.

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    Imagem: Denis Freitas / VivaBem

    Compre um despertador

    Estabeleça os momentos do dia ou da sua rotina nos quais você estará desconectado, mesmo que seja deixando seu telefone em um outro ambiente. Uma das dicas do psiquiatra Henrique Bottura, psiquiatra da Clínica Psiquiatria Paulista e colaborador do PRO-AMITI do Ipq do HCFMUSP (Ambulatório de Impulsividade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), é definir áreas da casa onde é vetado usar tecnologia. ?Nada de levar o celular para o quarto ao dormir. Eu sempre indico comprar um despertador para desvincular o celular da cabeceira?. Aliás, uma alternativa é voltar usar relógio de pulso, para não cair na armadilha de, ao conferir as horas, dar só uma espiadinha nas redes sociais.

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    Imagem: Denis Freitas / VivaBem

    Use os alertas a seu favor

    Todos os telefones celulares possuem opções de alertas sonoros e configurações do tipo Não Perturbe. Eles podem ser personalizados para lembrá-lo a hora certa de parar de receber mensagens ou chamadas. Avise familiares, amigos e até colegas de trabalho que passará a fazer uso dessa facilidade. Parentes e amigos específicos podem ser avisados que, em caso de urgência, eles podem insistir. O próprio sistema libera o sinal sonoro quando a pessoa faz uma segunda chamada imediata durante o período por você definido.

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    Imagem: Denis Freitas / VivaBem

    Tire férias da tecnologia

    Dá medo de pensar nisso? Mas você não precisa ter coragem. Basta ter curiosidade de saber como se sentirá sem ter de responder a todos os estímulos que as telas trazem à sua vida diária. Pode ser até por um dia, um final de semana. Observe como se sente. Caso observe que seus hábitos têm prejudicado sua saúde física e mental, e todas essas estratégias não forem suficientes para ajudá-lo, busque ajuda profissional. Profissionais com experiência em abordagens práticas, como a Terapia Cognitivo-Comportamental podem auxiliá-lo a lidar melhor com a tecnologia.

Fonte: Revisão técnica: Keitiline Viacava. Referências: APA (American Psychological Association); Roberto Poli. Internet addiction update: diagnostic criteria, assessment and prevalence. Neuropsychiatry. 2017; Gloria Mark, Daniela Gudith e Ulrich Klock. The Cost of Interrupted Work: More Speed and Stress. Conference Paper. CHI.2008.

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