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Sou viciado em sexo? Quando vira doença e como resolver (não é um número)

Vício em sexo não é sinônimo de prazer: pode gerar sofrimento Imagem: Getty Images

Colaboração com Universa

01/04/2024 04h00Atualizada em 01/04/2024 12h50

Algumas pessoas são mais ligadas em sexo do que outras. Uma libido mais, digamos, em alta pode ser o desejo de muita gente, mas vira um grande problema quando se torna a principal fonte de prazer —ou de contornar a ansiedade— da vida.

Mais do que um contratempo, a sexualidade exacerbada é uma doença que, em 2018, passou a fazer parte da 11ª atualização da chamada CID, sigla em inglês para a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde da OMS (Organização Mundial da Saúde).

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O transtorno do comportamento sexual compulsivo, nome correto do chamado "vício em sexo", é caracterizado, principalmente, por atitudes constantes e repetitivas durante um período de pelo menos seis meses.

A pessoa tenta se controlar, mas não consegue.

Ela começa a priorizar o sexo em detrimento de outras atividades cotidianas, como relacionamentos afetivos, compromissos sociais e profissionais. Nem sempre essa compulsão inclui o sexo com parceiros, mas também o vício em pornografia e em masturbação.

É necessário compreender que não é o número de vezes que uma pessoa faz sexo que determina o problema, mas a função das atividades sexuais.

Isso porque a pessoa sente-se dominada por um desejo incontrolável e busca constantemente contatos sexuais com pessoas variadas, sem atentar para o autocuidado.

Não é sinônimo de prazer

A compulsão sexual prejudica o dia a dia dos doentes em diversos aspectos. A pessoa cria sofrimento, dor e problemas para si e para as pessoas ou para a sociedade em geral.

As cenas de decadência física e emocional da personagem Joe (Charlotte Gainsbourg) mostradas em "Ninfomaníaca - Volumes 1 e 2" (2013), de Lars von Trier, correspondem, de fato, à realidade.

Em tempo: os termos "ninfomania" e o seu correspondente masculino, "satiríase", não são adotados pelos especialistas em saúde mental para se referirem a esses casos.

As consequências vão desde o comprometimento emocional e dos relacionamentos principais, com brigas familiares, possibilidade de divórcio e perda da guarda de filhos, até isolamento social, queda da produtividade no trabalho e problemas financeiros por conta de desemprego até gastos excessivos com profissionais do sexo e consumo de pornografia e acessórios eróticos.

Os perigos mais graves são a contaminação por IST's (infecções sexualmente transmissíveis), já que os compulsivos costumam transar com vários parceiros e, em boa parte das vezes, sem proteção.

Há, ainda, o risco de detenção pela polícia por atentado violento ao pudor, já que muitas pessoas fazem sexo ou têm atitudes libidinosas em ambientes públicos.

É frequente, ainda, o uso de substâncias que alteram a consciência, como álcool e drogas, que acabam potencializando situações de risco como o sexo desprotegido.

O tema ainda é cercado de controvérsia, principalmente sobre as razões de origem, mas, via de regra, os problemas psíquicos que mais acompanham a compulsão sexual são os transtornos do humor, em especial depressão e ansiedade.

Porém, alguns doentes também manifestam outras compulsões, como o vício em compras ou jogo.

Tratamento não exige abstinência

A cura, ao contrário do que se possa imaginar, não é a abstinência sexual.

A psicoterapia (em geral, em grupo) é uma parte fundamental do tratamento, pois as pessoas aprendem ferramentas para lidar melhor com a compulsão e aprender a controlá-la.

Medicamentos como antidepressivos e estabilizadores do humor também são utilizados e, em muitos casos, o acompanhamento psiquiátrico deve ser mantido ao longo da vida.

A necessidade de internação é rara, ocorrendo apenas em casos em que existem outros problemas psíquicos associados.

A internação deveria ocorrer quando o risco na saúde seja imediato ou de modo intenso e extremo.

O problema com a internação é que quando retornar ao ambiente comum as contingências continuarão existindo e produzindo as mesmas condições anteriores que conduziram ao excesso sexual patológico.

Segundo estatísticas do AISEP (Ambulatório de Impulso Sexual Excessivo), cerca de metade dos paciente consegue administrar a compulsão em aproximadamente oito meses de tratamento.

A outra metade costuma apresentar alguns episódios em que a hipersexualidade sai de controle e requer uma observação mais atenta. Ao longo do tratamento —e da vida—, os pacientes recebem instruções sobre como lidar com os gatilhos que costumam desencadear a libido fora de controle: certos ambientes, músicas, consumo de bebida, amizades ou quaisquer outros estímulos que despertam a memória prazerosa do comportamento compulsivo.

O tratamento, em geral, visa levar a pessoa a se enxergar melhor, diminuir a ansiedade da frustração ao se reprimir um pouco, canalizar parte dessa energia para outros campos.

E, ainda, a aprender a ter mais prazer no próprio sexo, substituindo quantidade por qualidade, a procurar outras fontes de satisfação, pois um problema de qualquer vício é os estreitamento do 'cardápio' de prazeres.

Uma revisão de hormônios e uma eventual investigação mais profunda do cérebro (ressonância magnética e outros exames) também podem ser solicitados.

Fontes: Carlos Eduardo Carrion, psiquiatra especializado em sexualidade, de Porto Alegre (RS);Marco de Tubino Scanavino, coordenador do AISEP (Ambulatório de Impulso Sexual Excessivo e de Prevenção aos Desfechos Negativos Associados ao Comportamento Sexual) do Ipq-HCFMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo); e Oswaldo Martins Rodrigues Jr., diretor do InPaSex (Instituto Paulista de Sexualidade Humana), psicólogo e terapeuta sexual, com matéria publicada em 06/12/2018

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