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Ativista LGBTQIA+ diz que 'maioria contrariada' é contra casal gay na TV

Samuel Gomes comenta que presença de casais gays na TV "não agride a sociedade" e normaliza o amor entre pessoas LGBTQIA+ Imagem: Mariana Pekin/UOL

Nathália Geraldo

De Universa

27/12/2021 04h00

Pesquisa Datafolha publicada na noite de sábado (25) mostrou uma face da população brasileira que se opõe ao discurso de diversidade e pluralidade que empresas e a sociedade civil têm pautado: 51% dos entrevistados concordaram totalmente ou em parte com a frase "comerciais com casais homossexuais devem ser proibidos para proteger as crianças".

Para 45% dos entrevistados, há discordância total ou em parte com a mensagem; 2% declararam não saber e há um grupo que não concorda nem discorda. Ativistas LGBTQIA+ ouvidos por Universa interpretam que a resposta da maioria evidencia o quanto a homofobia, a LGBTfobia e outras opressões ligadas à sexualidade fervilham no debate público sobre costumes e garantem que a visibilidade precisa ser um caminho aberto sem retrocessos.

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"Ver essa pesquisa depois do Natal só mostra que eles não entenderam nada. Em um futuro brilhante e próspero, haverá espaço para todas as famílias", comenta o escritor e criador de conteúdo digital Samuel Gomes. "É uma maioria contrariada", analisa Welton Trindade, ativista LGBTQIA+ e jornalista proprietário da Rede Guiya, que mantém sites com guias gays em diversas cidades brasileiras.

A pesquisa foi feita entre os dias 13 e 16 de dezembro, com 3.666 entrevistas com pessoas de 16 anos ou mais em 191 municípios de todo o país.

Ativistas comentam maioria "contra casais gays em comerciais"

Não é a primeira vez que se questiona a visibilidade de pessoas LGBTQIA+ em propagandas televisivas. Em abril, a Assembleia Legislativa de São Paulo colocou em discussão um projeto de lei que queria proibir a veiculação de comerciais com casais LGBTQIA+ por entender que eles mostrariam "práticas danosas" às crianças. Depois da repercussão negativa entre parlamentares e ativistas defensores da causa, além de empresas que apoiam a diversidade, o tema foi retirado do debate.

A seguir, ativistas comentam sobre o levantamento Datafolha, que mostrou ainda que a concordância é maior entre os homens (55%) e os menos escolarizados (57%) do que entre as mulheres (48%) e aqueles com ensino superior completo (39%).

Entre os evangélicos, a afirmação é defendida por 67% dos entrevistados, em contraste com 50% dos católicos e 40% dos espíritas. DataFolha apurou que entre os eleitores do presidente Jair Bolsonaro (PL), 74% concordaram com a mensagem.

'São ícones da defesa da diversidade'

Welton é ativista LGBTQIA+ há 21 anos e vê o aumento de participação nos comerciais de TV Imagem: Arquivo pessoal

"A visibilidade já ocorre, e quem é contra isso é uma maioria contrariada. A cada dia, empresas abraçam e defendem a pauta LGBT e da diversidade de forma mais compromissada. Nunca houve tantas pessoas LGBT em propaganda no Brasil como em 2021, e não só como vetores de venda das empresas, mas como ícones de defesa da diversidade.

Vejo que pessoas como Gil do Vigor e Pabllo Vittar são disputadas por marcas, e até os prêmios de publicidade possuem categorias com causas identitárias. Mais recentemente, empresas de artigos infantis contrataram Lan Lanh e Nanda Costa, que tiveram filhas, para publicidade.

Penso que é reducionista avaliar homofobia só por essa pergunta, porque o brasileiro se mostra como quem aprova o casamento homossexual, segundo pesquisas.

Neste levantamento, se fala sobre o incômodo com a visibilidade em relação a crianças e acho que é uma barreira a ser quebrada rumo à tolerância."

Welton Trindade, ativista e jornalista proprietário da Rede Guiya

'Temos o direito de nos sentirmos representadas'

Valquíria à esquerda com a família. Elas compartilham rotina no Instagram @2maesde3 Imagem: Reproduão/Instagram

"A propaganda que inclui casais LGBT mostra o quanto a diversidade é legítima e está para todos. Sábias são as empresas que assumem a diversidade como natural. E vamos além: essas empresas ajudam nessa luta de um grupo que está crescendo e exigindo existir com todos os seus direitos.

Não é porque tem gays divulgando produtos, que estão induzindo ninguém a nada. Mais uma vez, esbarramos na questão da liberdade de ser, do seja quem você quiser.

Isso sempre incomoda uma fatia da população. As pessoas não precisam gostar, mas precisam respeitar esse direito do outro gostar de quem quiser.

Por isso, as propagandas devem incluir todas as fatias da população. Dessa forma, nós, nossas famílias e nossos filhos —assim como todos os casais heteronormartivos, suas famílias, seus filhos e outras formações familiares— temos o direito de nos sentirmos representados. Simples assim."

Valquíria Crivelaro, pedagoga e supervisora de Ensino, casada há 13 anos com Debora Mello de Almeida, mães de 3 filhas

'No futuro próspero, há espaço para todas as famílias'

Samuel Gomes, escritor e palestrante, à esquerda, ao lado do marido Luiz Fernando, com quem vive há 7 anos e dois meses Imagem: Arquivo pessoal

"Essa opinião das pessoas também faz parte da agenda do terrorismo moral desse governo.

Se essas pessoas tivessem acesso à educação para entender a sexualidade humana como diversa, entenderiam que ter casais gays nas propagandas não agride a sociedade. Faz com que normalize. Afinal, eles não deixarão de existir por estar ou não nos comerciais.

O Brasil é bem maior do que isso.

Este é o último grito dos fascistas, dos LGBTFfóbicos e dos racistas. Tenho no meu corpo as bandeiras LGBT e a negra, e sinto que estou vivendo do lado certo da história neste Brasil de Bolsonaro que desrespeita a pluralidade humana. E quem não respeita isso, não respeita Deus, porque ele é pluralidade.

Ver essa pesquisa depois do Natal só mostra que eles não entenderam nada, mas quanto mais esbravejam, mais vamos ocupar. Em um futuro brilhante e próspero, haverá espaço para todas as famílias."

Samuel Gomes, criador de conteúdo digital e publicitário, há 7 anos e dois meses com o marido Luiz Fernando

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