Homens não entendem como consentimento sexual funciona, aponta estudo
do UOL, em São Paulo
14/12/2017 11h35
Diante das denúncias de assédio e abuso em Hollywood — e por mulheres no mundo todo através da hashtag #MeToo — um estudo publicado pela Universidade de Binghamton, em Nova York, em novembro, indicou que é possível que os homens tenham pouca compreensão do que é consentimento sexual.
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A pesquisa, entitulada "Determinantes Situacionais da Percepção de Homens Universitários sobre Desejo e Consentimento de Mulheres para o Sexo" ouviu 145 homens de, em média, 20 anos. O especialista responsável pelo estudo disse à revista americana "VICE" que pretende ampliar a amostragem (que contou com 92% de jovens brancos e 58% de protestantes), mas afirma que a pesquisa encontrou, a priori, resultados interessantes.
Cada participante foi apresentado a seis cenários envolvendo uma mulher. Em cada um, eles recebiam a informação de que a mulher era "muito atraente e alguém com quem esperavam fazer sexo".
As mulheres eram descritas em termos de roupas, histórico sexual e de relacionamento, consumo de álcool e nível de intimidade durante a interação; ou seja, fatores estes que são frequentemente indicados, em pesquisas, como parte da percepção de que a vítima é responsável por ataques sexuais.
Cada cenário, em seguida, apresentava a resposta da mulher ao convite para o sexo: seja através da recusa ou passividade exibidos em comportamento verbal, não-verbal ou uma combinação das duas reações.
Segundo o Dr. Mattson, a maior parte dos homens confunde exibições de desejo sexual com consentimento — eles assumiram que, ao perceberem que elas queriam mais interação, consideravam aquilo como um "sim" para o sexo. Nos cenários em que a mulher parava de responder aos avanços, mas não resistia, a resposta média era de 3,71 na escala de consentimento do estudo (que iria de 1 a 7). O valor, próximo de 4, significa "não concordo, nem discordo".
"Nossos resultados estabeleceram que homens confundem fatores contextuais indicativos de desejo sexual com consentimento implícito", diz o estudo. Dr. Mattson explicou à publicação: "Se o participante percebia desejo [por parte da mulher], ele achava que ela estava comunicando que aceitava os avanços sexuais e também presumia que ela estava comunicando consentimento final para o coito”.
O estudo apontou ainda que a média de entendimento de uma recusa verbal foi de 2,34, ou seja, quando uma mulher vocaliza que não quer fazer sexo, mesmo assim não fica entendido para o homem, imediatamente, que ela não consente com os avanços dele. Apresentados a um cenário em que eles já haviam tido um relacionamento íntimo anterior com a mulher, eles demonstravam ainda mais dificuldade para discernir se elas queriam transar ou não.
Os universitários ainda responderam a questões para avaliar características como psicopatia, empatia, níveis de sexismo hostil, aceitação do mito do estupro e comportamentos associados à hipermasculinidade. Os resultados sugeriram uma realidade desconfortável: até homens de perfil mais progressista e que respeitam as mulheres em situações sociais podem confundir consentimento e falta dele, e acabar cometendo agressão sexual.