Diferença salarial entre gêneros no Reino Unido é pior do que aparenta
Elaine He
da Bloomberg
05/04/2018 09h32
Os relatórios exigidos pelo governo britânico sobre a disparidade salarial entre homens e mulheres estão sendo entregues antes do prazo, que termina na quinta-feira.
A desigualdade é gritante nas empresas do setor financeiro do Reino Unido — os dados do mês passado do Goldman Sachs Group mostraram que a mediana da diferença salarial entre homens e mulheres era de 36,4 por cento — em outras palavras, as mulheres ganham 64 pence por cada libra que os homens recebem.
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Embora a mediana dê uma boa noção da situação geral da empresa, a média inclui os casos extremos — aqueles com grandes acordos de compensação.
Portanto, analisar apenas a mediana da diferença de remuneração por hora poderia mascarar o quanto a estrutura salarial de uma empresa pode estar distorcida. Quanto maior a lacuna entre a média e a mediana, maior a probabilidade de que compensações gigantescas favoreçam os homens.
Considere como exemplo o HSBC Bank, uma divisão do HSBC Holdings que inclui operações de varejo. A mediana da diferença salarial por hora em 2017 foi de 29 por cento, mas a média foi de 59 por cento. Isso sugere que as mulheres, em sua maioria, estão excluídas de receber os maiores pacotes de remuneração.
A diferença de remuneração relativa aos bônus é ainda mais preocupante. Os bônus podem representar uma grande parte da remuneração do setor: o bônus médio em empresas financeiras foi de quase 14.770 libras (US$ 20.725) no ano fiscal que terminou em março de 2017, mas ficou pouco acima de 1.600 libras na economia como um todo, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas do Reino Unido.
A maioria das empresas financeiras que analisamos paga um bônus para uma proporção aproximadamente igual de homens e mulheres. O fato de que a diferença favoreça amplamente os homens não pode ser explicado por uma escassez de mulheres que recebem o pagamento de um bônus.
O HSBC Bank não se sai bem aqui. A mediana da diferença de bônus é de 61 por cento, e a média é de 86 por cento. É provável que quem está recebendo os grandes bônus não seja uma mulher.
Todas as empresas tiveram que informar a proporção de homens e mulheres em cada quartil salarial, e Gadfly já apontou que, na maioria das empresas, o quartil mais bem pago do quadro de funcionários é predominantemente masculino. A disparidade entre a média e a mediana sugere que há uma inclinação substancial a favor dos homens até mesmo dentro desse quartil superior.
Os relatórios opcionais que algumas empresas apresentaram embasam essa conclusão. O JPMorgan Chase informou que, dentro de seu quartil superior, a média da diferença salarial é de 7 por cento a favor dos homens, e a diferença de remuneração relativa aos bônus é de 32 por cento a favor dos homens.
O HSBC afirma em seu relatório sobre a disparidade de remuneração entre gêneros que está "confiante em relação à abordagem de pagamento". Sua equipe feminina, que considera que os maiores pacotes de pagamento estão muito longe, talvez não concorde.
A maioria dos relatórios sobre a diferença salarial entre homens e mulheres do Reino Unido revelou um quadro tão terrível que as promessas das empresas sobre seu comprometimento com a realização de avanços podem soar vazias. Agora que há certa transparência nos dados, pelo menos elas podem ser responsabilizadas.