Irritação masculina preocupa em país rico governado por mulheres
Sveinung Sleire
da Bloomberg
26/03/2018 09h34
O poder político na Noruega é dominado por mulheres. Elas ocupam o cargo de primeira-ministra, ministra da Economia, ministra das Relações Exteriores e presidente do Parlamento.
"Não é uma conspiração feminina", diz a primeira-ministra Erna Solberg. Mas até mesmo para os altos padrões escandinavos de igualdade de gênero a Noruega se destaca quando se trata do cenário político (os números não são tão bons na Noruega corporativa). Então, com que questões de gênero essas políticas estão preocupadas?
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"O desafio nos países escandinavos é não acabar tendo um grande grupo de homens jovens sem objetivo na vida, sem esperança de emprego", disse Solberg em entrevista, em Oslo.
Esse é um grupo demográfico que precisa de uma atenção política cuidadosa para evitar uma reação perigosa, disse a primeira-ministra. Na Universidade de Oslo, cerca de 57 por cento de todos os estudantes de doutorado no ano passado eram mulheres. O risco de os homens ficarem para trás também os torna mais vulneráveis a perderem seus empregos para a automação.
"Isso é o que vemos nos homens brancos furiosos que não apenas não gostam de muçulmanos e imigrantes, mas também detestam as mulheres, pelo menos se não puderem manter a mulher só para eles", disse Solberg.
A Noruega foi palco de um dos maiores crimes de ódio da Europa neste século, quando em 2011 o supremacista branco Anders Behring Breivik massacrou 77 pessoas, a maioria membros da ala jovem do Partido Trabalhista do país.
A ministra das Relações Exteriores, Ine Eriksen Soreide, diz que "o problema apontado por Erna é um problema gigantesco, mundialmente. Muitos países muito vulneráveis têm uma taxa enorme de desemprego juvenil e a maioria dos desempregados é homem."
Tone Troen, recém-nomeada presidente do Parlamento norueguês, diz que está confiante de que a próxima geração se sairá melhor. Mas "é importante que meninos e meninas façam escolhas não tradicionais quando se trata de educação", disse ela.
#MeToo
Os homens também têm certo poder na Noruega. Eles ocupam a maior parte dos cargos executivos em empresas de capital aberto, administram o banco central e o fundo soberano de investimento do país, de US$ 1 trilhão (o maior do mundo). E, embora a Noruega seja superada apenas pela Dinamarca em termos de igualdade salarial, os homens ainda ganham em média cerca de 7 por cento a mais do que as mulheres.
Assim como o restante do mundo, a Noruega foi abalada pelo movimento #MeToo, que revelou uma série de casos de conduta inadequada tanto na política quanto no mundo empresarial, inclusive no Partido Conservador de Solberg. O vice-líder do maior partido da oposição renunciou em meio a acusações de conduta inapropriada.
"O limite para o que é aceitável mudou", disse Eriksen Soreide. "Essa é provavelmente uma das vitórias mais importantes." Mas alcançar a igualdade total demorará "muito tempo", disse ela. Solberg brincou dizendo que talvez seja preciso esperar até "2072".