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Como alemã se casou com um dos mineiros do Chile após contactá-lo pelo Facebook

Meyer e Herrera se casaram há um ano após se conhecer no Facebook Imagem: Reprodução/Daniel Herrera

Paula Molina

De Santiago para a BBC Mundo

19/10/2015 10h26

Calcula-se que 1 bilhão de pessoas assistiram, há cinco anos, ao resgate de 33 mineiros chilenos pela televisão. Mas, de todas elas, apenas uma se apaixonou por um dos resgatados, fez contato pelas redes sociais e terminou se casando com ele.

Hoje, Melanie Meyer e Daniel Herrera, o resgatado número 16 da mina San José, vivem no Chile e aguardam, na Alemanha, o nascimento da primeira filha, que vai se chamar Sofia.

"Sim, eu me apaixonei por ele pela televisão", disse Meyer à BBC Mundo, de Weingarten, uma cidade de 24 mil habitantes, no sul da Alemanha, onde Herrera acaba de chegar, após participar com seus companheiros de uma audiência com o papa.

É a primeira vez que o mineiro voa sem o grupo dos 33. "Não gosto de viajar, não sou de aviões. Com a delegação, é mais fácil, porque estamos todos juntos. Mas tive de vir sozinho, sem saber inglês. Imagina como foi difícil e como eu estava assustado. Mas estou na Alemanha e vim conhecer a família", conta.

Sorriso que apaixona

Há cinco anos, em 13 de outubro, Herrera saía da terra em uma estreita cápsula metálica após passar 69 dias preso.

A 11.523 km de distância, Meyer voltava para casa depois do trabalho e via o resgate no canal de notícias alemão N24. Ela viu Herrera voltar à superfície. E o viu abraçar a mãe, Alicia Campos.

"Não importa, mãe, já passou", ela escutou Herrera dizer durante a transmissão. "Vi o sorriso de Daniel dentro da cápsula", diz Meyer. "Era um sorriso que tinha algo especial, não sei dizer o que, mas era algo que achei muito interessante. Estava com meu filho e minha irmã e disse a eles que gostei."

Nos frenéticos dias que se seguiram ao resgate, Meyer usou o espanhol que havia aprendido no colégio para contactar Herrera no Facebook e conversar com ele. Mas o mineiro a respondia com evasivas ou sequer respondia. Achava que Meyer era da imprensa, que na época não dava sossego aos mineiros.

"Nossa história se baseia em sua persistência. Muita gente se aproximou de mim no Facebook. Muita, muita, muita, muita gente. Mas ela foi diferente. Ela insistiu. Eu não acreditava em amor pela internet, mas ela me mudou", disse Herrera.

"Sou muito perseverante", conta Meyer. "E a princípio só queria saber se a impressão que eu tinha tido dele estava correta ou se eu havia me enganado. E não. Era exatamente como imaginei."

Após algumas visitas ao Chile, chamadas por vídeo, chat e mensagens, Herrera e Meyer se casaram no Chile, em um programa de televisão.

Herrera foi com câmeras buscar a namorada no aeroporto para pedi-la em casamento. Um ator, uma modelo, um jornalista, uma bailarina e um estilista organizaram a festa e a cerimônia.

Um grupo de figurantes levantou cartazes em espanhol e alemão nos quais se lia:"Willst du mich heiraten?" "Diz que sim".

A apresentadora do programa fez o primeiro brinde.

A mãe do noivo pediu uma boa acolhida a Melanie: "aos que são parte da família, amem-na da mesma forma, porque ela está longe da sua (família)". 

Estamos com vocês

Meyer assistiu três vezes a "Os 33", o filme sobre o resgate com Antonio Banderas no papel principal. "É muito emocionante", disse.

"O filme é muito bem feito, é bonito. Diz a verdade e mostra tudo com muito respeito. A diretora queria que as histórias dos 33 estivessem refletidas nas histórias de seis mineiros que saíram dali. Eu era o operador, o que estava ensinando o boliviano", detalha Herrera.

Casados há um ano, o casal vive em Santa Cruz, no centro-sul do Chile. Herrera, que fez um tratamento psicológico e psiquiátrico depois do resgate, voltou para a mineração. Ele trabalha no norte do país, em Radomiro Tomic, uma das divisões da mineradora estatal Codelco. Dos 33, ele é um dos poucos que voltou à atividade.

"Tenho o mesmo trabalho que fazia na San José, mas agora em uma mineradora grande, com padrões de segurança. Não tenho nada de ruim a dizer sobre ela. Aqui o capital humano importa e temos a opção de parar um trabalho. Em San José não podíamos reclamar, tínhamos de assumir (as tarefas) e pronto."

Herrera viaja a cada sete dias para a mina. Melanie Meyer, que trabalhou por 17 anos como secretária em uma empresa na Alemanha, diz que a vida na mineração lhe cai bem.

"Como mulher de um mineiro, sabia que passaríamos um tempo separados. Mas os dias que passo sozinha são necessários para mim. Nós alemães somos assim, precisamos de tempo para nós mesmos."

Atualmente, existem pelo menos sete cópias da cápsula que resgatou os mineiros, a Fénix, espalhadas pelo país. Uma delas está no no museu da cidade de Santa Cruz. Às vezes, Daniel Herrera é chamado para mostrá-la aos turistas.

"Vou quando precisam de mim e dou uma de guia pelo Pavilhão do Grande Resgate. Conto o que aconteceu, mostro. As pessoas me tratam com respeito, e vão embora muito felizes. Elas me contam que estavam com a gente, lembram do resgate. Faço isso também para retribuir algo e para que eles fechem um ciclo de suas vidas, assim como eu fechei."

Daniel Herrera tinha 27 anos no dia do acidente. Hoje, tem 32. E seus sentimentos sobre o acidente são paradoxais.

"Tenho lembranças sobre as quais não gosto de falar, claro, as partes trágicas. Mas é estranho, porque também se pode dizer que o acidente me trouxe coisas boas. Graças ao acidente, tenho uma mulher e estamos construindo nossa família. Minha vida mudou, mas para melhor."

E ele ainda gosta da mineração?

"É o melhor trabalho do mundo", responde.

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