Inspirado em Carmem Miranda, Pedro Lourenço redefine a silhueta feminina
O estilista brasileiro Pedro Lourenço apresentou nesta terça-feira (1º), em Paris, sua coleção para a temporada primavera-verão 2014 inspirada em Carmen Miranda, com looks que, graças às novas tecnologias, parecem se misturar ao corpo.
O caçula dos estilistas, que desfilou pela primeira vez na passarela de Paris quando tinha apenas 19 anos, optou desta vez por uma apresentação online e um showroom para imprensa. Lourenço está com 23.
No final de um polêmico processo, o governo brasileiro deu sinal verde para um incentivo financeiro no último segundo para Lourenço e outros estilistas, como Alexandre Herchcovitch e Ronaldo Fraga, com isenção de impostos por meio da lei Ruanet de incentivo à arte.
Mas esse dinheiro chegou tarde para que Lourenço pudesse montar em pouco mais de um mês seu desfile na passarela da semana de moda de Paris.
Tirando o melhor de condições ruins, Lourenço aproveitou esse ano para "reestruturar a marca para o próximo ano", quando espera poder voltar ao evento parisiense.
"Teremos projetos, queremos produzir mais coisas na Europa", explicou Lourenço em entrevista à AFP. "Por isso decidimos focar mais na reestruturação da empresa, na coleção e nas técnicas do que no desfile".
Para este jovem nascido em um lar de estilistas -filho de Gloria Coelho e Reinaldo Lourenço-, que começou a criar aos 12 anos e completou sua formação trabalhando em Paris com Giambattista Valli, "o importante é poder mostrar minhas ideias, com música e um conceito".
A apresentação em vídeo supre essas funções na falta de toda a parafernália que define um desfile completo e caro. "O que importa é ter a possibilidade de mostrar o que tenho na cabeça", explicou.
Para o próximo verão, Lourenço propõe uma linha de roupas com a inspiração focada em Carmen Miranda, a atriz e cantora brasileira nascida em Portugal que causou furor na Hollywood dos anos 1940 e 50 cantando samba com figurinos coloridos e um arranjo de frutas na cabeça.
Na passarela em vídeo de Pedro, as modelos usavam estampas de abacaxi com acessórios exuberantes evocando a "sex symbol brasileira". Apesar disso, os tons são sóbrios e se limitam ao preto, branco e nude, com toques de laranjas ou púrpura aqui e ali.
As estampas de borboletas, flores e os ombros marcados também tiveram vez. O ponto alto da coleção é um técnica que usa o degradê para dar um aspecto de fusão da roupa ao corpo da mulher.
Com esse degradê, que vai do mate até o transparente, tem-se a impressão de que a roupa se perde na pele. "É uma nova definição da silhueta: não é curta, não é larga, é algo que se funde com o corpo".
"Tem um lado um pouco louco, tropical, com os abacaxis e tudo isso, mas tratado de uma maneira mais abstrata, para a mulher atual", comenta Pedro.
Entre as influências mais importantes de sua vida Pedro cita a grande editora de moda americana Diana Vreeland, que morreu em 1989, um ano antes de seu nascimento, e cuja capacidade "para gerar desejo com algo sempre novo" fascina o estilista.
Pedro defende São Paulo por seu papel como uma das grandes formadoras de tendência no Brasil e na América Latina. "Existe muita gente que tem bom gosto, e há mulheres brasileiras que se vestem muito, muito bem", ainda que admita que outras "nem tanto".
Mas nos projetos de Pedro está também a Europa. "Instalar-me aqui é realmente uma das ideias que tenho em mente, e é uma meta na qual quero focar minhas energias no próximo ano".
"É claro que para mim é importante manter meus negócios no Brasil, mas a França também é um objetivo: quero ter um produto feito na França", diz.