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Representatividade em alta

Contra estereótipos, redatora cria banco de imagens só de mulheres negras em atividades corriqueiras

oferecido por Selo Publieditorial

Acho que toda mulher negra, na nossa sociedade, se acha ou se achou feia. Eu cresci querendo ser loira, porque as mulheres que eu via na TV eram brancas e loiras

A autora da frase é a redatora rondoniense Joana Mendes, 33 anos, criadora de um banco de imagens só de mulheres negras.

Até 2015, apenas 4% dos atores em propagandas eram negros, em um país no qual mais da metade da população se declara negra ou parda. Famílias brancas, crianças rosadas e belas mulheres loiras eram dominantes nos comerciais, fossem eles de margarina ou travesseiros.

O cenário atual ainda está longe do ideal, mas avançou bastante. De acordo com o estudo Todxs, da agência de publicidade Heads em parceria com a ONU Mulheres, em 2019 essa porcentagem subiu para 25% de mulheres e 13% de homens.

Mas a falta de representatividade nas telas reflete uma realidade ainda mais triste: a falta de representatividade no mercado. Joana exemplifica o problema com um caso concreto:

Estava fazendo uma campanha gigantesca e pedi para ver todo mundo que estava trabalhando na filmagem – casting, modelos, redes sociais... Não tinha uma pessoa negra na equipe, além de mim.

Joana Mendes

Ela só deu continuidade ao trabalho depois de conseguir uma assistente de direção negra.

Pouco tempo depois, em 2017, uma amiga reclamou com Joana que não conseguia encontrar fotos de mulheres negras em bancos de imagens. Deu o estalo: "Vamos fazer!". Criou um financiamento coletivo - "assim as pessoas já ficavam sabendo sobre o banco" - e arrecadou o mínimo para pagar todas as envolvidas. "Essa história de fazer de graça, como me sugeriram, para mim é um privilégio de pessoas brancas. Eu não tenho nem coragem de chegar numa mulher negra e perguntar se faz de graça. Elas são as que recebem os menores salários, são preteridas nos empregos, como vou pedir isso?". E foi além: chamou mulheres negras para todas as posições, de técnicas a maquiadoras. "A gente vive no capitalismo, trabalho é o lugar para você estar."

Além de armar as sessões, controlar os gastos e dirigir os trabalhos, Joana também precisava atuar como motivadora emocional. "As mulheres diziam 'eu não sou modelo, eu não sou bonita'. E chegavam na sessão e arrasavam. Encontrei uma vocação minha que não conhecia, de booker".

Joana também faz as vezes de head hunter. "Durante uma sessão com uma venezuelana, ela contou que tinha doutorado em educação, mas não conseguia emprego". No currículo, inglês e espanhol fluentes. "Conseguimos um emprego como revisora numa agência de publicidade e também em uma escola de línguas para refugiados", conta.

Imagem estereotipada

O mesmo estudo da ONU mostrou que os estereótipos ainda dominam a publicidade brasileira, que está longe de representar a diversidade da sociedade. E as mulheres negras são três vezes mais estereotipadas que os homens.

"Durante a pesquisa do banco de imagens, percebemos que não havia foto de mão, foto de mulher negra bebendo água, ouvindo música, fazendo careta… Essas mulheres são invisíveis!", diz Joana. "A ideia do banco foi exatamente essa: fugir dos estereótipos, e colocar a mulher em situações mundanas. Não que sambar ou jogar futebol não sejam situações mundanas, mas a gente já se vê tanto nesses lugares estereotipados, então pra que reforçar?"

O banco foi batizado YGB, abreviação de Young, Gifted and Black (www.ygb.black), em referência a uma música de Nina Simone. Foi criado em dezembro de 2017 e fotografado entre agosto e outubro de 2018. Entrou no ar há um mês, com pouco mais de 100 imagens. As fotos em resolução menor, para uso em apresentações internas e trabalhos de faculdade, por exemplo, são gratuitas. Em sua melhor resolução, sai por R$ 350. O dinheiro será repartido entre modelos e equipe de produção do banco.

O que é sororidade

É olhar para as mulheres primeiro. Primeiro olho para as negras, são essas que quero que subam, que sejam vistas, que atinjam lugares que não estão conseguindo atingir. E quero contar com elas para atingir lugares que não consigo.

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