Opinião

Heroínas da pátria: o que seria da Independência do Brasil sem as mulheres?

Você já parou para pensar em como as mulheres fizeram parte da história da Independência do Brasil? Neste 7 de setembro, queremos reconhecer o importante papel das figuras femininas na emancipação do nosso país.

Quando falamos da Independência do Brasil, nomes como D. Pedro 1° e José Bonifácio são mencionados como os protagonistas dessa data, invisibilizando as mulheres que estiveram inseridas no debate público. É fato que a participação das mulheres na Independência teve um apagamento, pois os relatos estavam centrados na figura do homem. Além disso, existe toda uma estrutura ligada ao predomínio dos homens na formação da sociedade brasileira. Entretanto, tivemos as figuras femininas que desafiaram esse sistema e lutaram contra o poder instituído naquela época. Por isso, quero trazer a memória destas mulheres que tiveram atuações corajosas para que as próximas gerações reconheçam que as mulheres sempre desempenharam um papel fundamental na construção da história do Brasil.

Exalto aqui algumas das nossas heroínas da pátria que tiveram coragem, força e audácia em diversas áreas para se expor.

Joana Angélica, a primeira mártir do movimento da Independência, defendeu bravamente o Convento da Lapa com o seu próprio corpo contra a invasão de portugueses. Joana Angélica se pôs de braços abertos diante dos militares, e mesmo sendo um sacrilégio matar uma freira, foi brutalmente assassinada.

Maria Felipa, mulher negra, revolucionária e marisqueira, liderou um batalhão de mulheres chamadas de Vedetas - mulheres sentinelas. Maria Felipa teve um papel fundamental na segurança dos pontos principais de resistência contra Portugal. Ela enfrentou as tropas lusitanas, com o apoio de outras mulheres, queimando embarcações para afastar os portugueses.

Maria Quitéria, a primeira mulher a integrar o Exército Brasileiro. A princípio, ocupou esse espaço se disfarçando. Alistou-se e guerreou com muita engenhosidade na montaria e no manejo de armas. Se tornou símbolo da emancipação feminina e foi condecorada patrona do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro.

Hipólita Jacinta, uma inconfidente ativa, teve uma atuação relevante na resistência que ficou conhecida como Conjuração Mineira. Foi uma das lideranças e tomou o protagonismo da Conjuração, principalmente após a morte de Tiradentes. Hipólita traçou um caminho distinto ao esperado por uma mulher na época.

As mulheres relatadas são algumas das que atuaram na construção da Independência do nosso país. Resgatar essas memórias é reforçar que não cabe mais alimentar essa narrativa nos quais diversos grupos sociais, entre eles as mulheres, tenham as suas histórias silenciadas. Relembrar suas vidas e trajetórias, é reconhecer o papel das mulheres na construção da sociedade brasileira e resgatá-las do esquecimento.

É imprescindível ressaltar que muitas mulheres não tiveram seus nomes reconhecidos na história, impossibilitando que suas memórias fossem registradas em nossos livros. Em especial as mulheres negras e indígenas, que apesar de serem a maioria demográfica, são minorizadas historicamente em todos os processos brasileiros. Mas deixo o meu agradecimento ancestral para essas mulheres, que assim como eu e tantas outras contemporâneas, ergueram suas vozes e construíram estratégias de sobrevivência.

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Que neste 7 de setembro possamos subverter as narrativas consolidadas, respeitando e honrando as memórias das mulheres que lutaram bravamente e abriram caminhos para que hoje tenhamos liberdade de ser. Se a nossa sociedade não permite o desenvolvimento das mulheres, precisamos redesenhá-la. Como afirma a escritora Chimamanda Ngozi Adichie, "A cultura não faz as pessoas. As pessoas fazem a cultura. Se uma humanidade inteira de mulheres não faz parte da cultura, então temos que mudar nossa cultura".

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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