Não foram os modernos: neandertal já desenhava nas cavernas há 64 mil anos
Do UOL, em São Paulo
22/02/2018 17h00
Um estudo da revista científica "Science", divulgado nesta quinta (22), revelou que a arte de caverna mais antiga da Europa é ao menos 20 mil anos mais velha do que os homens modernos e, portanto, deve ter origem Neandertal.
"Esta é uma descoberta incrivelmente emocionante que sugere que os neandertais eram muito mais sofisticados do que se acredita popularmente", disse o autor principal, Chris Standish, arqueólogo da Universidade de Southampton. "Nossos resultados mostram que as pinturas que datamos são, de longe, as mais antigas artes das cavernas conhecidas do mundo".
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A partir da análise de amostras de três cavernas espanholas (La Pasiega, Maltravieso e Ardales), os pesquisadores identificaram várias artes rupestres criadas pelas mãos de Neandertais, com data de até 64 mil anos.
Esta é a primeira evidência clara de que os nossos primos extintos tinham o hábito de desenhar em cavernas, o que, até então, era atribuído aos homens modernos.
Em um estudo relacionado publicado na revista "Science Advances", conchas marinhas tingidas e decoradas encontradas em cavernas espanholas --anteriores ao aparecimento do homo sapiens na região-- também sugerem que os Neandertais possuíam sistemas de comunicação simbólicos e complexos.
Nas cavernas da Espanha, foram encontrados desenhos do que parecem ser animais, sinais lineares, sinais claviformes e pontos nas cores vermelha e preta, bem como manchas que parecer ser as marcas de mãos com tintura. Os cientistas consideram que as marcas são claramente "um tipo de arte claramente intencional".
Para precisar a data dos desenhos, os pesquisadores recorreram a uma técnica que envolve a análise de carbonatos acima e abaixo da superfície dos desenhos. A idade mínima das três coleções, de acordo com o estudo, é de aproximadamente 64.800 anos. Época em que os Neandertais eram a única espécie de hominídeos na Europa.
Acredita-se que os seres humanos modernos tenham chegado à Europa muito mais tarde, entre 45.000 e 40.000 anos atrás.
Em uma das cavernas, as pinturas tinham diferença de datas de até 25.000 anos, o que sugere que a criação de arte não era um estímulo único, mas uma longa tradição.
No estudo da "Science Advances", envolvendo uma caverna espanhola diferente, Hoffman descreveu conchas marinhas perfumadas e coloridas, que estão associados ao surgimento do materialismo simbólico. Em Cueva de los Aviones, na Espanha, duas das quatro amostras analisadas tinham cerca de 115 mil anos --novamente, muito antes da presença dos humanos modernos na região.
Os autores dizem que essas descobertas --tanto da arte das cavernas como dos artefatos decorados-- não deixam "nenhuma dúvida de que os Neandertais compartilharam o pensamento simbólico com os primeiros humanos modernos". Portanto, eles propõem que a capacidade de simbolismo tenha sido herdada do antepassado comum e não desenvolvida pelos humanos modernos quando apareceram na Europa.
"O surgimento da cultura material simbólica representa um limiar fundamental na evolução da humanidade", disse o coautor principal Dirk Hoffmann, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva. "É um dos principais pilares do que nos torna humanos." (*Com informações da AFP)