Topo

Não são só os daltônicos: nós não enxergamos as mesmas cores

Ana Carolina Nunes

Colaboração para o UOL

18/12/2017 04h00

Apesar de envolver um engenhoso processo biológico, a percepção das cores não é necessariamente igual entre todas as pessoas de visão normal. Essa percepção ocorre provocada por uma onda ou faixa de luz e envolve os sistemas ótico e cerebral. 

No entanto, a percepção das cores pode variar conforme gênero, ambiente e cultura de cada um. 

No processo de recepção, a luz atinge células especiais da retina e é transformada em informação nervosa, processo chamado de transdução, que então passa pelo nervo ótico, responsável por enviar o registro para o sistema nervoso.

Veja também

Leia também:

Toda essa engenharia também é influenciada por processos mais subjetivos. O fato de falar línguas diferentes é um deles. Se em algumas línguas, como em português ou em inglês, se usa ‘azul claro’ ou ‘vermelho escuro’, em outras línguas elas são definidas como um nome específico para elas e não apenas como diferenciação de tonalidades.

Costuma-se acreditar também que mulheres teriam mais sensibilidade para identificar uma variedade maior de cores que homens, mas a neurocientista Claudia Feirosa-Santana explica que esse senso comum é explicado mais pelo viés da linguagem que algo físico-biológico.

Povos da floresta têm maior facilidade para distinguir diferentes tons de verde Imagem: Reprodução/Wallpapers

“Mulheres falam mais que os homens sobre cores e assim, conseguem especificar melhor”, explica Claudia, que é pós-doutora em Neurociência pela Universidade de Chicago e professora visitante da Universidade Federal do ABC e da Casa do Saber.

O ambiente e a cultura são outros fatores de influência. Indígenas que vivem florestas, não enxergam necessariamente mais tons de verdes como se costuma acreditar, porém possuem mais facilidade e rapidez em diferenciar esses tons.

O mesmo em relação aos povos inuítes, que vivem em meio à neve, e a percepção de diferentes tons de branco. Uma cor pode provocar sensações diferentes entre as culturas, o que significa que pintar as paredes do escritório de amarelo, por exemplo, pode ter efeitos diferentes entre japoneses e mexicanos.

Profissionais que estudam a psicologia das cores já estão se dedicando a pesquisar a influência de mais luz de verão ou de inverno nessas percepções.

Você consegue ler o que está escrito neste quadrado? Imagem: Reprodução

E os daltônicos?

O que acontece no caso dos daltônicos é algum grau de deficiência nas células da retina de identificação da luz. E, apesar de geralmente os daltônicos serem identificados como pessoas que confundem as cores vermelha e verde, este seria apenas um dos tipos de daltonismo, e o mais forte deles.

“O que ocorre é que os daltônicos têm menor capacidade de discriminação das cores, por exemplo, dois tons de vermelho ou laranja muito próximos. O daltônico vai ter mais dificuldade de apontar essa diferença, pois o espaço de cores deles é menor, mas, como as cores têm brilho, eles podem diferenciar pelo brilho”, explica Claudia.

Nesses casos mais severos, a confusão entre verde e vermelho se dá porque essas são consideradas cores oponentes, assim como o azul e o amarelo. Para os daltônicos, a deficiência nas células que identificam essa oposição faz com que eles tenham menor capacidade de detectá-las.

“Os daltônicos podem dirigir normalmente, já que nos semáforos o verde e o vermelho estão em posições diferentes e com certa distância e ainda tem a diferença de brilho”, esclarece.

Em geral, não há prejuízos para a rotina dos daltônicos. “Nosso espectro de cores é um luxo. Nos primórdios da vida na Terra ele era necessário, até para diferenciar verde e maduro, fruta e verdura; mas hoje não precisamos disso para nossa sobrevivência”, afirma a neurocientista.

Logo, são raras as profissões que são proibitivas aos daltônicos. Entre elas estariam piloto de avião (militar ou civil) e astronauta, já que nessas atividades é preciso ter uma percepção de cores muito boas, com capacidade de perceber diferenças pequenas entre verdes e azuis. Ou ainda hematologista (que estuda o sangue) e dermatologista.

O daltonismo é raro em mulheres já que ele é recessivo e está presente no cromossomo X. Como as mulheres possuem dois cromossomos X, os dois teriam que carregar a deficiência para a manifestação dessa condição. Cerca de 10% dos homens teriam algum grau de defeito na pigmentação ocular que identifica a luz, mas, muitas vezes, essa deficiência é tão leve que nem é percebida. 

Além do daltonismo, que é genético, a visão das cores pode ser afetada por outras causas externas, como um acidente ou tumor com lesão cerebral na área responsável pela visão, Parkinson, Alzheimer ou esclerose múltipla.

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Não são só os daltônicos: nós não enxergamos as mesmas cores - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade


Tilt