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Dono da Playboy divulga receita de longevidade para sociedade cada vez mais velha

Hugh Hefner, fundador da revista 'Playboy' é beijado por duas de suas namoradas Imagem: Efe

Adam Nagourney, do New York Times

Em Los Angeles

30/12/2011 06h00

Enquanto os mais jovens membros da geração do "baby boom" –a geração "jovem para sempre"- chegam aos 50 anos, e a expectativa de vida em grande parte do mundo desenvolvido aumenta. Pedimos a Hugh Hefner, mestre da vida longa e boa, que compartilhasse alguns de seus segredos. Ele conversou com o diretor do escritório do "The New York Times" em Los Angeles , Adam Nagourney, na Mansão Playboy.

"Ao envelhecermos, quem nos diz o que é 'agir de acordo com nossa idade'?"

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A frase é de Hugh Hefner, e a pergunta é para saber se alguém da idade dele –ou seja, de 85 anos, apesar de não parecer, muito menos agir como se tivesse essa idade- ainda deveria usar o Twitter, como faz Hefner, quase compulsivamente. Hugh Hefner sendo quem é, o fundador da Playboy, usou essa pergunta para criticar o preconceito de idade que teve que enfrentar em sua velhice, em um caso relacionado (evidentemente) com sua vida sexual.

"Só a imprensa", disse ele. "Eles não acham que eu deveria sair com mulheres que têm idade para serem minhas netas. Vivemos em uma sociedade livre. Vamos julgar menos as pessoas".

"Chegar aos 100 será muito comum agora", continuou, com uma Pepsi em uma mão e água mineral com o logotipo da Playboy na outra. "Combati preconceitos de vários tipos durante os anos. Para começar foi o machismo. Depois, o racismo, agora é o preconceito da idade".

Hefner vestia pijama de seda e um paletó de smoking bordado. Ele estava sentado na biblioteca da mansão em Holmy Hills que ele habita há quase 40 anos. O imóvel –a Mansão Playboy- é lotado de lembranças. Há fotos de Coelhinhas, esposas e namoradas, muitas nuas, nas paredes. Há a capa da primeira Playboy, com Marilyn Monroe. Há fotos de Hefner com celebridades que vão de Bill Clinton a Kevin Spacey, de Doris Day a Mick Jagger. Há reproduções de Frankenstein, e retratos de Hefner, com um cachimbo, mais jovem. Ele está sentado em uma mesa de gamão, e atrás dele há uma modelo de seios fartos e nus, um de seus primeiros amores, Barbi Benton.

Hefner teve uma vida longa e muito variada, e não espera terminar as coisas tão cedo. Ele acaba de transferir a sede corporativa privada da Playboy Enterprises de Chicago para Los Angeles e disse que está intimamente envolvido na publicação da revista. Ele se reúne com sua equipe editorial todas as manhãs, depois de acordar, por volta das 10h, 11h para apreciar um café da manhã leve em sua suíte antes de se vestir –"desse jeito".

"Não edito todas as linhas", disse ele. "Mas escolho todas as capas, escolho a reportagem central; aprovo o layout geral de cada edição. Escolho as piadas. Edito as cartas, edito as piadas de festa. E dou minha opinião na arte e na fotografia, na cara da revista".

Hefner seria o último a negar que a idade tem seu preço. Ele anda com dificuldade e só fica em pé cinco minutos para tirar a foto, reclamando de dores nas costas. Ele ouve mal e toma remédios para pressão alta e colesterol. 

Em uma concessão à idade, ele parou de fumar cachimbo em 1985, após um derrame. Hefner ainda bebe um Jack Daniels e uma Coca por dia –"Meu amigo Jack!", disse ele, alegrando-se com a pergunta– e disse que come tão pouco que não se dá o trabalho de vigiar sua dieta. Hefner sente-se muito bem, obrigado, bem o suficiente para não hesitar quando perguntado se gostaria de viver até os 100.

"Claro", disse ele. "Se estiver bem, sem dúvida". Viver para sempre é outra questão. "Acho que para sempre seria um pouco entediante".

Para os que querem dicas de como viver muito e bem, Hefner aconselha a não se aposentarem. "É a combinação de trabalho e prazer que cria uma vida boa e longa", disse ele. "Quando você se aposenta, acho que é o início do fim. Sou muito ativo, mentalmente e fisicamente, e acho que permanecer ativo é a chave para a longevidade".

Apesar disso, Hefner não é dado a exercícios. "Tenho uma academia, mas não a uso de verdade", disse ele. "Tenho uma quadra de tênis, mas não a uso de verdade. Tenho uma piscina, mas tampouco a uso".

Ele também não sai muito. Hefner disse que construiu seu mundo próprio em Holmby Hills –onde ele vive com duas namoradas, duas Coelhinhas recentes –e raramente é visto pela cidade. "Criei um mundo onde as pessoas, com efeito, vêm até a mim –de forma que não há muitas ocasiões que exigem que eu esteja em outro lugar", disse ele. Ele tem uma sala de cinema onde se reúne com convidados para assistir aos clássicos, às sextas e sábados, e lançamentos aos domingos. Suas terras são um zoológico. Literalmente. Flamingos rosas e grous africanos passeiam pelo gramado e os macacos descansam em gaiolas (eles ficavam soltos até que pularam os muros e roubaram bolas de golfe em um campo próximo). Tem uma gruta e uma sala de jogos com máquinas de pinball da Playboy e uma jukebox com uma coleção de músicos da juventude de Hefner. 

Hefner, porém, passa a maior parte de seu tempo na suíte do segundo andar, onde livros e revistas estão empilhados no chão, prateleiras, em uma escrivaninha e ao lado da cama. "É um quarto de garoto", disse ele. "Com armas de raios do Buck Rodgers de quando eu era moleque". As cortinas estão fechadas, apesar de ser um dia brilhante em Los Angeles. Há espelhos sobre a cama, que fica diante de uma enorme tela de vídeo. Pilhas de filmes, inclusive pornôs, estão ao lado da tela.

O magnata da Playboy sofre com algumas das indignidades da idade. Ele leu outro dia que tinha morrido; certamente que não tinha, e passou um Twitter para assegurar seus quase 900.000 seguidores que estava bem vivo. Uma coelhinha que ele deveria esposar, Crystal Harris, 25, desistiu no último minuto –mudou de ideia, anunciou no Twitter- mas, na opinião de Hefner, foi ele quem escapou.

Ainda assim, Hefner disse que nunca pensa na morte ou na mortalidade, enquanto avança para sua nona década. "Há preços a pagar", disse ele. "Em certos aspectos, é melhor, porque você colhe as recompensas de uma vida bem vivida, do que você realizou, e você recebe algum crédito com a passagem do tempo. Mas há alguns lados negativos. Algumas dores". 

Apesar de todo o preconceito que Hefner sofreu, ele acredita que criou um legado. "Quando a Playboy foi lançada, jovens da classe média não viviam com suas namoradas antes de se casarem", disse ele. "Engravidar antes do casamento podia destruir a sua vida. Ter filhos fora do casamento era impensável. Bem, ajudei a mudar tudo isso. De fato, se você quiser apontar uma única pessoa nos EUA que mudou isso, foi esse cara sentado bem aqui".

"Uma das satisfações da minha idade", disse ele, enquanto duas Coelhinhas esperavam por ele na cozinha, "é viver em um mundo que ajudei a criar".

Tradutor: Deborah Weinberg

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