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O cérebro de um corrupto é diferente do normal?

Lilian Ferreira*

De Gramado

11/06/2010 21h42

Seria o cérebro de um corrupto diferente dos outros e isso explicaria o desvio de conduta? Apesar de não terem analisados exames de imagem com essa finalidade, neurocientistas arriscam hipóteses que poderiam explicar por que uns se corrompem e outros não. O tema foi destaque no 6° Congresso Brasileiro de Cérebro Comportamento e Emoções, que termina neste sábado (12), em Gramado, no Rio Grande do Sul.

Segundo Jáderson Costa, coordenador do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul, a neurociência diz que a moral é formada por três aspectos principais no cérebro: as emoções processadas na amígdala, o lobo frontal, que é responsável pela negociação e resolução de conflitos, e por neurônios espelhos, que correspondem ao aprendizado por imitação do outro. “A formação da moral vai depender de quão bem ou mal você se sente ao adotar tal postura”.

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Sabe-se que o cérebro está em pleno desenvolvimento até os 20 anos, sendo que os anos da primeira infância são essenciais para o aprendizado. “O que a pessoa aprende em casa é muito importante”, completa o neurocientista.

Antoine Bechara, da Universidade do Sul da Califórnia, nos EUA, acredita que muitos dos corruptos podem ser sociopatas, por isso a falta de crítica. “Os sociopatas não só são assassinos em série como diz o senso comum, eles são pessoas comuns, que têm o juízo de valor deturpado. Não se envolvem sentimentalmente e geralmente são cativantes e bem sucedidos”, explica. De acordo com o ele, de 3 a 4% da população mundial é sociopata.

Eles podem ter danos no córtex pre-frontal, sejam de origem genética ou adquiridos por traumas físicos até o cérebro estar totalmente desenvolvido. “Este tipo não aprende com os erros, fazem uma coisa mesmo sabendo que ela está errada”, conta. Os sociopatas não têm medo por não se envolver afetivamente, mas respondem a punições.

Outra opção levantada por Bechara são que pessoas que sofreram traumas psicológicos muito jovens ou com abuso de drogas estariam mais predispostos a serem corrompíveis.

Já André Palmini, neurologista da PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), supõe que a vulnerabilidade para comportamentos corruptos está ligada a pequenas alterações nas redes neurais que não processam adequadamente a moral.

“Quanto mais socialmente adequada é a pessoa, melhor é a ligação entre o circuito afetivo-moral e maior a capacidade de indignação e de entendimento de certo e errado”. Ele explica que existem bases cerebrais que determinam diferenças em como cada um valoriza e reage às questões do mundo externo.

Algumas pessoas também têm a capacidade de sentir medo reduzida, conta Palmini. “Existem casos em que uma situação aversiva não mobiliza a adrenalina e a pessoa não sente medo”. Estudos feitos com crianças de 3 anos que mostraram essa característica, relatam que aos 8 anos elas têm mais chances de ter um comportamento fora do padrão e muitas vezes agressivo. Depois dos 20 anos, essas mesmas crianças tinham maior risco de cometer crimes por não respeitarem limites.

Agora só falta algum político corrupto disponibilizar seu cérebro para estudo. Imagens de ressonância hoje já conseguem captar grande partes dessas alterações cerebrais. Mas esta seria uma desculpa para políticos corruptos?

* A editora-assistente viajou a convite da organização do evento

 

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