Consórcio com participação brasileira conclui o genoma do boi
Do UOL Ciência e Saúde<br>Em São Paulo
23/04/2009 17h13
Atualizada às 20h02
Um consórcio internacional envolvendo 25 países, inclusive o Brasil, acaba de concluir, após seis anos de pesquisas, o sequenciamento do genoma do boi.
O trabalho, o primeiro do gênero relativo a um animal doméstico de produção, traz novas informações sobre a evolução da espécie bovina e deve contribuir para gerar mais sustentabilidade a produtores de carne e leite do mundo.
A pesquisa, que será capa da revista "Science" desta sexta-feira (24), foi liderada pelo Centro de Sequenciamento do Genoma Humano do Baylor College of Medicine e pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), e contou com a participação da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e também da Universidade de São Paulo (USP) Ribeirão e a Embrapa.
No principal artigo, os autores concluíram que o genoma bovino é constituído por pelo menos 22.000 genes. As informações foram obtidas a partir do sequencimento de uma fêmea taurina, da raça Hereford, chamada L1 Dominette.
Seleção
Segundo um dos autores do trabalho, o pesquisador José Fernando Garcia, da Unesp de Araçatuba (SP), a parte mais relevante do trabalho, no entanto, foi o estudo da variabilidade genética dos animais, por meio de uma ferramenta criada pelos cientistas, chamada de SNP Chip. "Com isso, é possível selecionar características como uma carne mais macia ou a produção de mais lente de 'dentro para fora', ou seja, a partir do genes", explicou Garcia ao UOL Ciência e Saúde.
Garcia lembra que o Brasil detém o maior rebanho comercial do mundo, mais ainda perde pela venda de produto com baixo valor agregado. "Com esse conhecimento, o país pode sair na frente na padronização da produção de carne", espera.
O trabalho fez a comparação do animal sequenciado da raça Hereford com outras 19 raças que diferem pela biologia ou origem geográfica. Os animais são divididos em duas grandes categorias de bovinos: os taurinos e zebuínos.
Análises mostram que a diversidade genética entre as raças taurinas, de maior ocorrência em países temperados, é inferior a das raças zebuínas, base genética do rebanho tropical e brasileiro. Os pesquisadores acreditam que, no futuro, as ferramentas desenvolvidas a partir do genoma permitirão a melhor conservação da variabilidade genética da espécie, o que é importante para garantir sua continuidade e seleção.
Mais próximo que o rato
O pesquisador conta, também, que uma das informações confirmadas pelo estudo foi a de que o genoma do boi é mais parecido com o do homem que o do rato e do camundongo, amplamente usados para o estudo de doenças humanas. "Por ser um ruminante, o boi possui uma rica flora bacteriana, o que pode torná-lo um modelo para estudos sobre imunidade, por exemplo."
A ciência já sabia que os homens e os bovinos divergiram de um ancestral comum que viveu há 95 milhões de anos. A maioria dos cromossomos do boi corresponde, na sua totalidade, ou em partes, aos cromossomos humanos.
As pesquisas que se desenvolverão a partir do projeto também podem beneficiar o meio ambiente, segundo Garcia. "A ferramenta pode permitir, no futuro, que sejam selecionados animais que causem menor impacto", afirma, referindo-se ao fato de que o gado é um importante emissor de gases de efeito estufa.
Um consórcio internacional envolvendo 25 países, inclusive o Brasil, acaba de concluir, após seis anos de pesquisas, o sequenciamento do genoma do boi.
O trabalho, o primeiro do gênero relativo a um animal doméstico de produção, traz novas informações sobre a evolução da espécie bovina e deve contribuir para gerar mais sustentabilidade a produtores de carne e leite do mundo.
O genoma do boi doméstico contém 22 mil genes separados, dos quais 80% são idênticos aos genes humanos |
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No principal artigo, os autores concluíram que o genoma bovino é constituído por pelo menos 22.000 genes. As informações foram obtidas a partir do sequencimento de uma fêmea taurina, da raça Hereford, chamada L1 Dominette.
Seleção
Segundo um dos autores do trabalho, o pesquisador José Fernando Garcia, da Unesp de Araçatuba (SP), a parte mais relevante do trabalho, no entanto, foi o estudo da variabilidade genética dos animais, por meio de uma ferramenta criada pelos cientistas, chamada de SNP Chip. "Com isso, é possível selecionar características como uma carne mais macia ou a produção de mais lente de 'dentro para fora', ou seja, a partir do genes", explicou Garcia ao UOL Ciência e Saúde.
Garcia lembra que o Brasil detém o maior rebanho comercial do mundo, mais ainda perde pela venda de produto com baixo valor agregado. "Com esse conhecimento, o país pode sair na frente na padronização da produção de carne", espera.
O trabalho fez a comparação do animal sequenciado da raça Hereford com outras 19 raças que diferem pela biologia ou origem geográfica. Os animais são divididos em duas grandes categorias de bovinos: os taurinos e zebuínos.
Análises mostram que a diversidade genética entre as raças taurinas, de maior ocorrência em países temperados, é inferior a das raças zebuínas, base genética do rebanho tropical e brasileiro. Os pesquisadores acreditam que, no futuro, as ferramentas desenvolvidas a partir do genoma permitirão a melhor conservação da variabilidade genética da espécie, o que é importante para garantir sua continuidade e seleção.
Mais próximo que o rato
O pesquisador conta, também, que uma das informações confirmadas pelo estudo foi a de que o genoma do boi é mais parecido com o do homem que o do rato e do camundongo, amplamente usados para o estudo de doenças humanas. "Por ser um ruminante, o boi possui uma rica flora bacteriana, o que pode torná-lo um modelo para estudos sobre imunidade, por exemplo."
A ciência já sabia que os homens e os bovinos divergiram de um ancestral comum que viveu há 95 milhões de anos. A maioria dos cromossomos do boi corresponde, na sua totalidade, ou em partes, aos cromossomos humanos.
As pesquisas que se desenvolverão a partir do projeto também podem beneficiar o meio ambiente, segundo Garcia. "A ferramenta pode permitir, no futuro, que sejam selecionados animais que causem menor impacto", afirma, referindo-se ao fato de que o gado é um importante emissor de gases de efeito estufa.