Tilt - A insatisfação das pessoas pode fazer algumas companhias repensarem seu modelo de negócios, já que as pessoas estão ficando cada vez mais desconfiadas de como seus dados são usados?
CC - Nós vemos companhias que são premiadas por se importarem com a privacidade. Apple e o Tim Cook [executivo-chefe da Apple] são bons exemplos. Algumas pessoas usam [produtos] Apple porque se importam com privacidade —não é todo muito, mas há uma porção: tipicamente pessoas mais educadas, que tendem a se importar mais com privacidade. Não que isso tenha a ver com sua renda, mas, sim, com compreensão e conscientização.
As pessoas já estão mudando o jeito como encaram alguns negócios. Veja o Facebook, que caiu muito. Tenho amigos que pararam de usar o Facebook, vejo pessoas que pararam de postar informações coisas como "eu estou doente" ou "a noite passada foi selvagem". Agora, elas estão procurando saber o que um app faz com minha informação.
Tilt - A forma de uma companhia tratar a privacidade dos usuários pode interferir na vontade de se trabalhar lá ou de se investir nela?
CC - Sim, vai ser difícil contratar gente. Esse é o efeito dominó. Se você não confia em uma empresa, não vai querer trabalhar para ela, investir nela ou ser parceiro dela de jeito algo. O que está acontecendo é que quando uma companhia passa por um incidente [de segurança ou de privacidade], todas as pessoas reparam.
Mas não é apenas uma questão de 'eu não vou comprar de você se eu não confiar em você'. Eu já tenho feito minhas decisões pessoais de investimento com base na reputação da companhia. Tudo bem, eu estou nessa indústria, mas eu vejo que outras pessoas, que não são técnicas, dizendo, 'eu não confio no que essa companhia faz com meus dados, então não vou fazer mais negócio com ela'. E a [consultoria] Gartner já estima que companhias que se importam com privacidade terão 10% a mais de receita. É mais dinheiro, um incentivo.
Tilt - Cuidar da privacidade é benéfico para o negócio?
CC - Dois terços das companhias acham que leis de privacidade mostram ao consumidor que elas podem ser confiáveis. Elas também veem nisso uma forma de transformar o jeito como fazem segurança, privacidade e o gerenciamento de dados, e veem nisso uma forma de transformar seus negócios em algo que se apoie no melhor uso de dados.
Se você confia em uma companhia, está mais disposto a dar informação real e em maior quantidade já que obterá algo em troca. Ela pode criar serviços ou produtos mais direcionados. Não seria demais se a Under Armour criasse um tênis apenas para você caso ela tivesse acesso às suas preferências?
Quando você constrói confiança, pode oferecer produtos e serviços que são mais personalizados, mas também pode mostrar aos consumidores que não vai usar de forma incorreta os dados dele.