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Ele faliu três vezes, mas um post mudou tudo: a história do 'Rei do iPhone'

Wissam Atie, o "Rei do iPhone": "Cliente contente é um soldado vestindo a armadura da sua empresa" Imagem: Fernando Moraes/UOL

Adriano Ferreira

Colaboração para Tilt

05/08/2022 04h00

Quanto tempo se leva para construir um império? Ou, no caso, um reino? Para o empresário Wissam Mohamed Atie, 35, conhecido como 'Rei do iPhone', foram necessários 15 anos - e três falências. Até jeans ele já tentou vender.

O sucesso veio mesmo com a assistência técnica dedicada à Apple. De um box minúsculo na Santa Ifigênia, inaugurado em 2013, ele expandiu para uma matriz que permanece no bairro, uma filial no Itaim Bibi e um quiosque no shopping Mega Polo no Brás. No total, coordena 50 funcionários.

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Se a história parece um conto de fadas, houve um "fado-padrinho": o publicitário Caio Rossoni. Em 2016, ele chegou à assistência com um iPhone que não carregava mais. Atie achou o conserto tão simples que nem cobrou.

Chocado, Caio decidiu contar a história no Facebook. Em poucos dias, o post teve mais de 70 mil compartilhamentos. Resultado: a frequência de clientes na lojinha de Atie saltou de 10 por dia para 150.

Com sua tranquilidade e serenidade típica, Atie resume: "Cliente contente é um soldado vestindo a armadura da sua empresa."

Atie: a paixão pelo iPhone não diminui Imagem: Fernando Moraes/UOL

Saber vender

Atie aprendeu o valor do bom atendimento em sua primeira tentativa como empreendedor: vendendo aparelhos de MP3. Era 2007, o auge do sucesso dos tocadores de música.

A concorrência na Santa Ifigênia já era puxada. Ele vendia um modelo de 500 MB, por R$ 75. Mas seu vizinho, chinês, oferecia o de 1 GB por R$ 50.

"O valor do produto é o que o mercado dita. E nisso eu perdia, porque não tinha capital para ter um estoque grande", relembra.

Mas ele tinha um diferencial: sempre explicava ao cliente como baixar músicas, como criar pastas, etc. - coisa que seu rival não conseguia.

"Eu sempre gostei de tecnologia, sempre fui um cara fuçador", conta ele. Sua infância foi na loja de eletrônicos de seu pai, em Ciudad del Leste, no Paraguai, quando sua família ainda morava em Foz do Iguaçu (PR).

"Eu achava bizarro que tinha uns caras com umas lojas que vendiam Nintendo 64, PlayStation, o último Mortal Kombat, como se aquilo fosse qualquer coisa. O cara não dava uma explicação boa, não sabia incentivar o cliente a levar o produto. Aquilo sempre ficou na minha cabeça."

Deu pau

No antigo atendimento do 'Rei do iPhone' Imagem: Arquivo Pessoal

Em 2008 e 2009, Atie decidiu disputar o mercado de som automotivo, que estava aquecido na Santa Ifigênia. Deu certo, mas faltou experiência para gerenciar a empresa.

"Quando você não sabe administrar e se dá mal, é um problema. Mas, quando você se dá bem, é outro problema. 'Será que é hora de abrir outro negócio ou trocar de carro? Ou dar uma entrada num apartamento?' Nesta época eu quebrei", conta.

Ele chegou a perder o ponto e tentou se reerguer bem longe da tecnologia: vendendo roupas e jeans, no Brás. Faltou o conhecimento do produto para seduzir o freguês e fechar o negócio. Em quatro meses, caiu fora e tentou seguir o exemplo do pai, comercializando produtos do Paraguai. Também não funcionou.

Em 2013, voltou à Santa Ifigênia, mas com um cenário bem diferente, de baixo movimento. Contratou um amigo, que era técnico de eletrônicos, e vê-lo consertar telefones reacendeu aquela velha paixão.

"Acabei me interessando. Eu já sabia fazer configurações, jailbreak [tipo de desbloqueio de iOS para apps não autorizados pela Apple], desbloqueio de operadora, essas coisas", relembra.

No começo, ele também consertava Android, mas acabou se especializando em iPhone. "A Apple não gosta que consertem os aparelhos, ela quer que você compre um novo", avalia Atie. Ainda assim, ele se arriscou: mudou o nome do box para Rei do iPhone.

A profecia visionária começou a se concretizar.

25 de abril de 2016: tudo mudou

Atie: guarda-sóis "de emergência" para a fila surpreendente em 2016 Imagem: Arquivo Pessoal

O post viral de Caio Rossoni funcionou melhor do que qualquer aceleradora de startup. Dois dias depois, já havia fila chegando na esquina da calçada.

Atie não teve dúvida: "Saí comprando guarda-chuva dos ambulantes para a galera não ficar no sol. Tudo para segurar os clientes".

Tempos depois, mesmo problema, outra solução: o Rei do iPhone havia crescido tanto que o empresário ocupou o espaço de seis lojas no fundo do Shopping 51. Os clientes ficavam até duas horas esperando num calor intenso. Atie passou a distribuir sorvetes - de graça.

"A galera ficava louca. Tinha gente que tirava foto com dois, três sorvetes", relembra. "O brasileiro não está acostumado com isso. Uma casquinha para mim custava R$ 0,30. Quanto custa uma hora sua para ficar sentado?", considera.

Por causa da pandemia, a máquina teve que ser retirada, mas ele tem planos de trazer algo divertido para os clientes em breve - por enquanto, é segredo.

Esse não foi o único impacto da covid-19. Assistências técnicas se mantiveram abertas, por serem consideradas serviço essencial pelo Governo de São Paulo. Mas o estrago na economia já estava feito.

"A situação do país não está boa. Você olha para todo lugar e o movimento está fraco" avalia.

Atie na principal loja do Rei do iPhone Imagem: Fernando Moraes/UOL

Sempre ele: o cliente

Para Atie, o caminho da retomada é o mesmo que sempre praticou a vida toda: foco no cliente. "Hoje, o mercado está inflamado porque em qualquer bairro é fácil achar assistência técnica. Mas o cliente que conhece ainda vem procurar e os novos acabam chegando."

"O nosso diferencial é que a gente sempre estudou o comportamento dos consumidores porque tem a ver com o que acontece no aparelho", explica. Um exemplo? Quando Atie detectou muitos iPhones 6 Plus curvados, entendeu que o problema não estava no celular, e sim no bolso do dono.

"O cara botava no bolso de trás e sentava. A bunda é redonda, entorta o aparelho. Não tem como", explica.

Aliás, bolso é um inimigo terrível para qualquer aparelho - especialmente os de calça jeans.

"O cara guarda o iPhone lá. Entra pelinho no dock de carregamento. Aí ele vai no bar. Deixa o celular na mesa. Respinga cerveja. Aí volta pro bolso. Mais pelinho, mais poeira. E toda vez que ele coloca o cabo de conexão, empurra aquilo mais pra dentro. Vai diminuindo a conexão", resume.

Em vez de cobrar R$ 180 para trocar o dock, Atie se acostumou a simplesmente pegar sua ferramenta e tirar "um tufão de sujeira".

"O cliente olhava e falava 'mas o que você fez?'. Eu respondia: 'Limpei. Não vou cobrar nada, só fala bem de mim'".

Caio Rossoni taí pra provar que essa técnica de marketing funciona. E muito.

Atie analisando componente eletrônico do celular Imagem: Fernando Moraes/UOL

E o novo iPhone?

Atualmente, o que a assistência mais recebe são clientes com tela quebrada e problemas de bateria.

Em relação à manutenção preventiva, Atie orienta evitar o contato com a água, manter o backup em dia e usar só cabos e carregadores originais ou MFI, sigla para "made for iPhone". (Claro que na loja dele há várias opções à venda).

Assim como outros fanáticos pela Apple, Atie está de olho no lançamento do próximo modelo, previsto para setembro. Mas o interesse também é profissional: toda vez que sai um novo iPhone, ele e a equipe abrem o aparelho para "dissecar" a nova estrutura e entender os prós e contras técnicos.

Segundo ele, as novidades da marca nunca o decepcionaram. Mas ele tem um certo desejo ou expectativa: que o iPhone 14 seja mais "reparável". Afinal, a Apple pode até não gostar que consertem seus aparelhos, mas ele não pretende parar.

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