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Resgate na Tailândia: Como plano de Elon Musk acabou em acusação de pedofilia e ameaça de processo

Elon Musk, CEO da Tesla e da SpaceX Imagem: Diego Donamaria/Getty Images

16/07/2018 14h50

De um lado o bilionário dono de uma empresa de exploração espacial que, no ano passado, mandou um foguete ao espaço com um carro da Tesla dentro. Do outro, um mergulhador inglês que teve participação importante no resgate dos meninos presos numa caverna da Tailândia.

Nos últimos dias, o que começou como uma crítica pontual acabou gerando uma polêmica que pode acabar nos tribunais. Tudo teve início quando Elon Musk, CEO da Tesla e da SpaceX, apresentou a ideia de resgatar os 12 adolescentes e seu treinador de futebol usando um minissubmarino.

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A ideia não chegou a ser posta em prática. Os jovens e o treinador foram salvos mais de 15 dias depois de entrarem numa caverna em Chiang Rai, numa operação que envolveu mergulho pelos corredores escuros e estreitos da caverna.

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Os jovens foram transportados por uma equipe internacional de mergulhadores. Todos estão bem, em observação no hospital, e devem receber alta nesta quinta-feira.

Após o resgate, o mergulhador Vernon Unsworth classificou de "manobra publicitária" a ideia de Musk de usar um submarino. O britânico teve papel-chave na operação de salvamento ao fazer um mapeamento da caverna.

Ele entrou lá quando os meninos ainda estavam desaparecidos e repassou informações sobre a estrutura e os pontos de alagamento. Também teria ajudado a selecionar, para atuar no resgate, um grupo com os maiores especialistas em mergulho do mundo.

Em entrevista à imprensa, Unsworth afirmou que o submarino sugerido pelo bilionário não "teria absolutamente chance alguma de funcionar" no emaranhado da caverna Tham Luang. Musk chegou a enviar o protótipo à Tailândia, mas as autoridades envolvidas no resgate rejeitaram a ideia.

Bilionário reage com agressividade

A reação de Musk à declaração de Unsworth fugiu das expectativas. Em uma mensagem no Twitter, ele se referiu ao mergulhador como "pedo guy", diminutivo em inglês para homem "pedófilo".

"Nós vamos fazer (um vídeo mostrando) o minissubmarino entrando na caverna 5 sem problemas. Desculpe, cara pedófilo, você pediu por isso", disse o empresário em sua conta do Twitter.

Quando começou a ser questionado pela rede social sobre o fato de ter se referido ao mergulhador como "pedo", o bilionário ainda questionou a relevância de Unsworth para o resgate.

"Nunca vi esse britânico expatriado que vive na Tailândia em nenhum momento quando estávamos na caverna", afirmou. Pouco depois, o empresário apagou todos os tuítes que faziam referência ao mergulhador.

Unsworth disse ao Canal 7, da Austrália, que não havia lido todos os tuítes de Musk, só ouvido falar deles. Perguntado se tomaria providências legais contra o empresário, ele afirmou: "Sim. Isso não acabou. Acho que ele me chamou de pedófilo. Isso mostra que tipo de pessoa ele é".

O britânico, que passa alguns meses na Tailândia a cada ano, se voluntariou para participar das buscas pelos meninos - de idades entre 11 e 17 anos - e o treinador de futebol deles, de 25 anos. Os esforços terminaram no dia 10 de julho, com uma operação bem-sucedida.

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Leia a entrevista

O submarino que chegou atrasado

Musk tinha proposto usar um "microssubmarino, de tamanho infantil", com tecnologia desenvolvida pela sua empresa de exploração espacial, a SpaceX.

O bilionário chegou a viajar para a Tailândia com o protótipo. Mas os responsáveis pelo resgate declinaram a oferta. Antes de Unsworth, o chefe da operação de salvamento, Narongsak Osotthanakorn, já tinha sido alvo da insatisfação de Musk pela rejeição do minissubmarino.

O empresário questionou, também pelo Twitter, se Osotthanakorn realmente estava à frente dos esforços para salvar os meninos, ao dizer que o tailandês estava sendo chamado "incorretamente de chefe da operação de resgate".

Na época, Musk compartilhou uma troca de e-mails com o especialista britânico Richard Stanton, que integrava a equipe de resgate e quem, segundo Musk, realmente estaria chefiando as operações.

Repercussão negativa

Os tuítes de Musk criticando o mergulhador britânico geraram reações de quem participou da operação de resgate na caverna. Claus Rasmussen, um instrutor de mergulho dinamarquês, chamou os ataques de "inapropriados" e elogiou o trabalho de Unsworth no resgate.

"Ele foi um dos principais vetores em permitir que tudo fosse feito e em esclarecer para nós, mergulhadores, o que estava acontecendo", contou à AFP.

Ações filantrópicas

O fundador da Tesla é famoso por investir em ações humanitárias com um bom potencial para atrair a atenção do público.

No ano passado, ele recebeu agradecimentos do governador de Porto Rico por montar um sistema de energia solar capaz de fornecer eletricidade para um hospital infantil após a passagem de um furacão.

Apesar de ter colhido elogios com a oferta do submarino, alguns questionaram suas motivações.

"Elon Musk é conhecido por buscar as manchetes, mas, para ser honesto, ele só se envolveu neste caso depois de receber uma enxurrada de mensagens de seus fãs no Twitter", disse o repórter de tecnologia da BBC, Rory Cellan-Jones.

"O fato é que o know-how das empresas de Musk com exploração espacial e com escavação de túneis se mostrou irrelevante desta vez, e isto é um lembrete de que o super-herói da tecnologia nem sempre está à altura do que pensam os fãs", diz ele.

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