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Sexo frágil? Mulheres ainda enfrentam preconceito e cantadas nos games

Théo Azevedo

Do UOL, em São Paulo

27/08/2014 10h30

De acordo com a ESA (Entertainment Software Association), 48% dos jogadores nos Estados Unidos são mulheres. Em outras palavras, há uma grande chance de você já ter sido derrotado no “Call of Duty” ou no “League of Legends” por uma garota. Não há nada de errado com isso, mas mesmo assim elas ainda precisam lidar com o estigma de “sexo frágil” e situações constrangedoras que, por vezes, até tornam-se “engraçadas”.

Flávia Teixeira, 27 anos, joga desde criança. Começou no Master System, apaixonou-se por “Tomb Raider” no caminho e hoje trabalha em uma loja de games em Bauru (SP).

“A maioria dos caras que vem à loja acha que eu tenho só um rosto bonito, mas quando começo a falar sobre um determinado jogo eles ficam muito surpresos. É a melhor parte”, diverte-se ela, que passa as horas de folga entre “GTA V”, “The Last of Us” e outros.

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Provar a si própria parece fazer parte da rotina da mulher que joga videogame. Ainda mais online: “Se a menina é boa no jogo, muito boa mesmo, os meninos acabam desconfiando e acham que não é uma menina que está jogando”, conta Nivea Barros, 25, estudante de Psicologia. “[Os homens] ficam pedindo para ligar câmera, falar no microfone”.

Nivea conta que, ao jogar “GTA V” online, já chegou a ser excluída da partida antes mesmo de começar a jogar, apenas por ser mulher. “No ‘Combat Arms’ tive que manter alto meu K/D [índice de performance que avalia os inimigos que você matou versus quantas vezes morreu], sendo que meu amigo é muito ruim e não tem esse problema”.

No “League of Legends”, conhecido pela grande quantidade de jogadores tóxicos, elas também enfrentam obstáculos extras: “Meu nome de usuário é meu próprio nome, então já fui muito xingada só porque era uma mulher. O negócio é não se estressar com isso e fazer mais ‘kill’ que ele, aí fica tudo certo”, diz Ana Paula Soares, 25, blogueira e estudante de Design de Interiores, que joga desde os sete anos e tem “Skyrim” como jogo favorito “de todos os tempos”.

Eventualmente, o preconceito nas partidas online dá lugar às cantadas. Cynthia Izquierdo, 16 anos, aprendeu a lidar com a questão de uma forma bastante simples: mantendo-se calada, ao menos na maior parte do tempo, para ocultar a identidade.

Quando solta a voz por algum motivo, a maioria das reações se desenrola de duas maneiras: “Existem aqueles que xingam porque perdem para uma garota e os mais desinibidos, que mandam aquelas cantadas de pedreiro”.

Faltam mulheres nos jogos?

Em junho, na E3 2014, a costumeira avalanche de anúncios, trailers e novidades tomou conta do principal evento de games do planeta, em Los Angeles. Boa parte dos títulos exibidos tinha algo em comum: eram protagonizados por homens, o que pegou mal nas redes sociais e gerou justificativas duvidosas por parte das empresas do mercado.

"Qualquer personagem que possui aparência, voz, mecânicas ou movimentação diferentes requer mais trabalho", explicou Eric Hirshberg, CEO da Activision Publishing, em entrevista à CBC. "Mas isso não é razão para deixar de fazer algo. Criamos diversos personagens diferentes, com muitos movimentos diferentes", tentou contemporizar.

“Quanto mais mulheres jogarem games, mais será possível criar um equilíbrio entre homens e mulheres nos games”, diz Yves Guillemot, CEO da Ubisoft, também à CBC, aparentemente ignorando os dados da ESA que praticamente igualam os públicos masculino e feminino enquanto jogadores.

Embora seja fã de “Uncharted”, especialmente por conta do protagonista Nathan Drake, Flávia opina:

“Dou preferência a jogos em que eu posso jogar com uma mulher. Mulheres são mais atentas aos detalhes, dão um ar mais charmoso ao jogo”.

“A maioria dos jogos tem o público masculino como foco, e meninas jogam ‘jogos de meninos’. Porém, se lançarem um jogo com características femininas dificilmente vamos ver um menino jogando. Acho que é assim que o desenvolvedor pensa: menina joga jogo de menino”, teoriza Nivea.

Segundo a Women in Games International, organização norte-americana que advoga a inclusão e o progresso das mulheres na indústria de jogos, há apenas algo entre 12% e 18% de mulheres entre os desenvolvedores de jogos, o que pode ajudar a explicar a predileção por protagonistas do sexo masculino.

Talvez ainda leve tempo até as mulheres serem tratadas como merecem nas partidas multiplayer. Até lá, Ana Paula tem a solução: “Acho que isso [preconceito e cantadas] acontece e sempre vai acontecer, e as mulheres precisam se defender e saber colocar os homens em seus devidos lugares”.

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