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Além do Jogo: documentário "Indie Game: The Movie" faz bom retrato de produtores amadores de jogos

Guilherme Solari

Do UOL, em São Paulo

13/07/2012 09h15

“Indie Game: The Movie” é um documentário que acompanha a produção de três jogos independentes: “Braid”, “Super Meat Boy” e “Fez”. O filme tem bastante em comum com os games independentes que retrata, sendo financiado no site de crowdfunding Kickstarter, distribuído por plataformas digitais como Steam e, claramente, é feito por jogadores, para jogadores.

Sendo eu um gamer “indieígena” - sou viciado em aderir a jogos ainda em alpha e um dia mediano tem uma breve sessão de “Minecraft” antes do café – assisti com bastante curiosidade ao “Indie Game: The Movie” e, de fato, o documentário traz um retrato intrigante dos bastidores da produção de um jogo independente.

Se o potencial criativo desse tipo de jogo é conhecido faz tempo, foi “Braid” em 2008 um dos que primeiro mostraram o potencial financeiro dos títulos independentes. “Indie Game: The Movie” faz um bom trabalho didático de mostrar como plataformas de distribuição digital e redes sociais impulsionam vendas de jogos feitos por equipes minúsculas e às vezes por uma única pessoa. Algumas vezes, com resultados milionários.

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Os personagens do documentário podem ser descritos mais ou menos assim:

Jonathan Blow (“Braid”): o Artista Incompreendido – Talvez o que mais valoriza o uso dos videogames como forma de expressão artística. Passa por alguns meses de depressão após o lançamento de "Braid" porque, apesar das boas vendas e notas, ele sente que “poucos entenderam o jogo de verdade”.

Tommy McMillen e Edmund Refenes (“Super Meat Boy”): os “Forever Alones” – Falam abertamente como os jogos são uma válvula de escape devido à dificuldades de se socializar. McMillen desabafa como não tem amigos, namorada ou dinheiro. Refenes conta como seu interesse por videogames remonta de sua infância solitária.

Phil Fish (“Fez”): a Eterna Promessa – Seu jogo foi a maior promessa do Independent Games Festival. De 2008. Ano após ano, seu jogo é atrasado por uma combinação de ambição excessiva, problemas legais e o perfeccionismo de Fish. "Fez" foi lançado em abril deste ano, mas o documentário ficou pronto antes do jogo e não retrata o final da produção.

Por um lado, o documentário pinta demais os desenvolvedores como gênios incompreendidos. Por outro, é preciso mesmo ser meio doido para dedicar tanto esforço, tempo, medo sem garantia de retorno.

Veja o caso de McMillen, que vive com os pais e durante a produção de “Super Meat Boy” teve como rotina acordar às 4 da tarde, esquentar um hambúrguer no microondas, tomar uma injeção de insulina – segundo ele, “por causa do hambúrguer” – e programar até as 10 da manhã do dia seguinte.

Dadas as neuroses e aparente incapacidade crônica de McMillen de conseguir ficar contente – até quando seu jogo se torna o título indie mais vendido da história do Xbox Live – seu  companheiro Refenes acaba sendo a voz que coloca melhor em palavras o desafio dos produtores independentes.

"Indie Games: The Movie" peca um pouco por se centrar muito nos desenvolvedores e não dar muita voz aos seus familiares, o que poderia dar mais profundidade, como em "King of Kong", outro ótimo documentário sobre games. A exceção é a namorada de Refenes, que tem como sonho de consumo o que parece ser o gato mais feio do mundo. Curiosamente, tão rapado de pelos quanto o próprio Meat Boy.

Também faz falta mostrar mais o lado dos negócios de um jogo independente. Como os nanicos negociam com a Microsoft por exemplo? Que tipos de exigências são feitas, quais os entraves?

ASSISTA AO TRAILER DO DOCUMENTÁRIO

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Como o documentário se passa depois do lançamento de "Braid", é mostrado pouco da rotina de Jonathan Blow, que age como costuma em entrevistas, citando teorias estéticas e de game design. Por isso, "Indie Game: the Movie" acaba mostrando pouco do ser humano por trás do discurso de artista. O único vislumbre que temos é quando o documentário mostra as dezenas de protótipos não acabados de jogos, retrato de uma mente em ebulição criativa, mas com dificuldades de finalização.

O caso de Fish é um dos mais intrigantes. "Fez" exemplifica quando o desenvolvimento de um projeto cai no inferno, enfrentando problemas de todos os lados. O jogo foi criado "três vezes", segundo Fish, que refaz partes já completadas por achar que podem ficar melhor.

É angustiante assistir à combinação de sua obsessão com o jogo — diz sem titubear que se matará se não terminar "Fez" — com os constantes entraves na produção. Em um dos momentos mais claustrofóbicos, Fish monta um estande em uma feira sob o risco de processo de seu ex-sócio e a demo que o público joga enfrenta constantes bugs matadores.

Apesar de se deslumbrar um pouco demais com o tema, “Indie Game: The Movie” traz um bem-vindo retrato desses bastidores. Em um momento em que a palavra “indie” praticamente virou uma grife. Jogos independentes são feitos por amadores obcecados por games, no sentido de que trabalham por amor mesmo, e não por pessoas sensatas. E ainda bem que esses amadores existem.

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