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Jô Soares: amigos e admiradores falam sobre generosidade e legado do humorista

De Splash, em São Paulo

05/08/2022 20h02

Amigos e admiradores do humorista e escritor Jô Soares prestaram suas homenagens em entrevista ao UOL, relembrando a importância de José Eugênio Soares para a cultura brasileira na televisão, no teatro e na literatura. Aos 84 anos, ele faleceu na manhã desta sexta-feira (5) em São Paulo, no Hospital Sírio-Libanês.

Em respeito à privacidade da família, a causa da morte não foi revelada. O velório foi restrito a amigos e familiares.

A jornalista Mara Luquet conta que a reação inicial de amigos à notícia foi de incredulidade: "Eu estava falando com a Myrian Clark, que trabalhou com o Jô 20 anos na produção, e ela falou: 'Mara, mas será que é verdade mesmo? Já mataram o Jô tantas vezes'. Mas era verdade."

Para Mário Sergio Cortella, Jô deixa um legado como um mediador e alguém que fazia a realidade ser entendida de forma ampla.

"Ele era alguém que inseria o dia-a-dia na história, todas as vezes em que tínhamos a possibilidade de ler algum artigo dele, acompanhar alguma entrevista ou as coisas que ele fazia como entrevistador", reflete o filósofo. "Algumas pessoas diziam que ele opinava muito em uma entrevista, mas era porque ele participava daquilo como uma conversa."

Cacá Diegues, um dos fundadores do Cinema Novo que dirigiu filmes como "Bye Bye Brasil" (1979), "Tieta do Agreste" (1996) e "Orfeu" (1999), concorda: "A principal característica do Jô Soares é que ele se antecipava à realidade, ele se antecipava ao que iria acontecer. O Jô Soares era um fenômeno brasileiro muito estranho, porque ele sabia de tudo, ele se manifestava em todas as formas de cultura."

Otaviano Costa e Fábio Porchat destacam a importância de Jô ao dar oportunidades para novas vozes do entretenimento e do humor. "Ele foi um entusiasta do talento alheio. A democracia que hoje a gente vê nas redes ele já praticava ali", diz o apresentador do "OtaLab".

"O Jô é dos maiores gênios da comédia que a gente tem, e transformou a vida de muita gente", segue Porchat. "Não só pelo seu humor, mas pela possibilidade de abrir as portas do seu programa para o mundo. O Jô era o YouTube da época. O que acontecia no Jô acontecia no país."

Idealizador do Prêmio do Humor, Fabio Porchat abraça Jô Soares, homenageado da primeira edição paulistana - Leandro Menezes/Divulgação - Leandro Menezes/Divulgação
Idealizador do Prêmio do Humor, Fabio Porchat abraça Jô Soares, homenageado da primeira edição paulistana
Imagem: Leandro Menezes/Divulgação

Mas Otaviano também recorda que Jô se portava de forma diferente dependendo do seu entrevistado, e tinha apreço pelas próprias lembranças.

"Quando ele se encontrava com humoristas da mesma geração, da mesma escola que a dele, era um transbordo de riso", pontua. "Ele ficava à vontade, as histórias se coincidiam, falavam das mesmas referêncais e experiências. Era o Jô triplicado."

Eterno saxofonista do Sexteto, Derico Sciotti vê Jô como um pai. "Vivi 28 anos da minha vida com ele. Dos 56 anos que tenho de idade, metade passei com ele. É de um caráter único, de uma generosidade ímpar."

Para Zeca Camargo, ficam as lembranças do que simboliza o "Programa do Jô":

"Ele criou um lugar de honra na televisão. Estar participando daquele programa não era mera participação para se vender um produto cultural, uma candidatura, um campeonato a ser comemorado, nada. Era um lugar em que você queria estar, era um prestígio. Eu tive o privilégio de estar lá duas vezes, e havia sempre a responsabilidade de estar à altura do meu anfitrião."

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