Ele é brasileiro

Com sotaque único, Ariel Palacios mistura Brasil e Argentina e faz história na GloboNews

Leandro Carneiro De Splash, em São Paulo Globo / João Cotta

Você provavelmente já ouviu o sotaque desse brasileiro na televisão e achou estranho. Ariel Palacios está no ar com a Globo News desde os primeiros anos da emissora, que completa 25 anos em 2021. Também é um rosto conhecido de quem acompanha esporte no "Seleção SporTV".

O que muita gente provavelmente não sabe é que ele não é argentino.

Aliás, esse foi um dos pedidos de Ariel nesta conversa: contar ao mundo que ele é brasileiro nascido na Argentina. Não entendeu? Bem, a história do jornalista transita muito entre os dois países rivais no futebol, mas não é tão difícil quanto parece.

Ariel nasceu na Argentina. Quando era pequeno, veio para o Brasil. Foi criado por aqui e depois, mais velho, resolveu voltar para o país vizinho. Fala português com sotaque espanhol. Mas, na hora do futebol, torce mesmo é pela seleção brasileira.

Pega essa, Messi.

Globo / João Cotta

Nasce um brasileiro na Argentina

O que todos sabem e veem todos os dias na televisão é que Ariel é cheio de boas histórias e que gosta de contá-las.

Pegando do começo: os pais do jornalista eram argentinos, mas vieram para o Brasil para aproveitar o "país do futuro". Em 1966, a mãe engravidou e quis voltar para seu país, para que Ariel nascesse por lá. Ainda pequeno, a família voltou para cá, e viveram em Governador Valadares (MG), São Paulo e Londrina (PR), onde Ariel passou a maior parte da vida.

Depois de se formar em jornalismo e fazer alguns trabalhos por aqui, a vida de Ariel ganhou mais um novo país. Na Espanha, ele fez um curso no prestigioso El País. Então, retornou mais uma vez para a nação onde nasceu:

"Vim para Buenos Aires com a minha mulher, que na época era namorada, depois de muitos anos sem vir. Encontrei o correspondente do El País em Buenos Aires e ele me perguntou por que eu não me mudava de vez, já que quase não tinha brasileiro Argentina", explica.

Foi o início de uma carreira bem sucedida:

E assim comecei como correspondente do Estadão. Um ano depois, me ligaram da CBN. Nunca havia feito rádio e comecei ali. Meses depois, foi a vez da GloboNews, que estava sendo formada. Nunca tinha feito TV, perguntei se não era um problema. Me disseram para não me preocupar.

Comecei transmitindo por telefone, do orelhão, do celular, de casa. Anos depois, comecei a aparecer na câmera.

Ariel Palacios

Reprodução/Linkedin

Mulheres poderosas

O interesse da mãe de Ariel em ter o filho na Argentina não tinha apenas a ver com a nacionalidade. A família de Ariel tem um histórico importante na luta pelo direito da mulher no país. Sua bisavó fez parte da primeira turma de obstetras da América Latina.

É possível ver essa influência inclusive no cenário de Ariel durante as aparições na TV. Na estante, ao fundo, além de naves de "Star Trek", série da qual é fã, também aparecem dois espéculos vaginais.

Tenho muito orgulho, um era da minha trisavó e outro da bisavó. Minha bisavó foi uma das primeiras obstetras da América Latina. Em 1922, as mulheres não tinham acesso. A mãe dela, minha trisavó, viu a filha estudando, resolveu estudar e entrou na faculdade também. Tiveram um consultório de excelência, e, por isso, guardo os espéculos, tenho muito orgulho desse lado feminista da minha família.

Globo / João Cotta

E o esporte?

Um dia, Ariel que já havia trabalho com entretenimento e falava sobre política na Globo News, foi convidado por André Rizek para dar seus pitacos esportivos na TV. O motivador foi um acaso.

"Escrevi um livro chamado Os Argentinos, um manual sobre a Argentina para brasileiros, e o capítulo de esportes ficou enorme. O editor encomendou outro livro por causa da Copa de 2014, no Brasil, e que escrevi junto com o Guga (Chacra). Eu falo da Argentina e ele do Brasil".

O que era para ser apenas uma participação, acabou se tornando mais frequente. Ariel, então, passou a colaborar com o SporTV.

Ele conta que hoje é conhecido por seu trabalho no SporTV do que na GloboNews, embora esteja há mais tempo na emissora focada em jornalismo. Antes da pandemia, era comum encontrar turistas brasileiros que o reconheciam pelos comentários sobre futebol.

Eu sou brasileiro. Sempre torço pelo Brasil, não nessa Copa América, que sempre fui contra a realização não só aqui, mas como em qualquer país da América do Sul. Colômbia, Argentina, depois Brasil. Achava absurdo promover um torneio desses em plena pandemia. Assim como condenei a aglomeração na Argentina para celebrar a vitória.

Ariel Palacios

Reprodução/Instagram

E quando desliga a câmera?

O esporte também ocupa Ariel nas horas vagas. Mas, apesar de ter raízes em dois países dominados pelo futebol, o tempo livre do jornalista é ocupado com outra modalidade.

Adoro arco e flecha, espero todo sábado para ir lá treinar com a minha mulher e com a minha filha. Tive de parar por vários meses por causa da pandemia. Voltamos agora, com distanciamento enorme. Acho fascinante, relaxo.

Outro hobby de Ariel é ler livros. "Aqui em casa, todo mundo lê. Deitamos os três, cada um com um livro. Gosto de livros de história e de ficção".

Se tem algo com que não gasta tempo é dirigir: Ariel brinca que ocupou a parte do cérebro que lida com carros com outras informações. Por isso, aproveita Buenos Aires para caminhar.

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