Topo

Edits ressuscitam obras, e geração Z descobre novelas e cinema nacional

Vídeos virais nas redes sociais transformaram 'Hilda Furacão' em fenômeno internacional Imagem: Divulgação/TV Globo

Do UOL, em São Paulo

10/05/2024 04h00Atualizada em 10/05/2024 15h00

O que te incentiva a assistir a um filme ou série hoje em dia? Para muitas pessoas, pouco mais de um minuto de vídeo é o suficiente. Os edits se popularizaram naturalmente nas redes sociais, com uma linguagem muito específica e basicamente com zero custo, e fizeram com que produções nacionais do passado ressurgissem como fênix nos catálogos de streaming.

Entre os casos mais comentados estão 'Hilda Furacão' e o filme 'Bingo - O Rei das Manhãs', que viraram febre e figuraram entre os títulos mais assistidos. A série de Gloria Perez, inclusive, foi alvo até de pirataria no exterior após gringos se apaixonarem por vídeos com cenas do romance de Hilda (Ana Paula Arósio) e frei Malthus (Rodrigo Santoro).

Os primórdios

Para entender o fenômeno dos edits, voltar no tempo é necessário para perceber que a semente já estava plantada anos atrás. Sendo mais exato, no momento em que as redes sociais viraram uma febre, ali por volta de 2005 em diante, YouTube, Orkut e Fotolog dariam um pontapé no que viria ser os edits que conhecemos hoje.

Naquela época, porém, não havia um termo exato para tais produções. O que acontecia - e ainda ocorre, diga-se de passagem - era a criação de vídeos, montagens de fotos e gifs sobre personagens queridos de séries.

Uma rápida pesquisa no YouTube e você ainda encontra compilados de cenas para personagens das séries que eram febre, como "The O.C.", "Gossip Girl", "The Vampires Diaries", "Pretty Little Liars", etc.

De meme a dor de cabeça

No meio do caminho, com a popularização do Twitter, ainda teve um breve período em que gifs viralizavam fazendo pequenas biografias. A cada foto exibida, uma legenda era feita com adjetivos aleatórios. Mas o que viria a ser os edits atuais é um resultado influenciado diretamente pelas fancams.

Em 2019, os usuários mais famosos do Twitter sofreram com o surgimento desse formato. Os vídeos eram criados já com a proposta de servirem como divulgação. Fãs, especialmente das bandas de k-pop e divas pop, produziam as fancams e as compartilhavam exaustivamente em posts aleatórios ou utilizando tags que estavam em alta.

O youtuber Felipe Neto chegou a se posicionar publicamente contra a prática e incentivou que internautas denunciassem os perfis como spam.

"Amigos do meu coração... Esse troço de colocar um vídeo do seu ídolo dançando em ABSOLUTAMENTE TODOS OS TWEETS QUE VOCÊ POSTA está realmente insuportável. Vocês fazem isso até quando interagem num post sério, aí fica parecendo que estão debochando. Que coisa mais chata", Felipe Neto.

Renascimento das cinzas

Justamente para desvincular dessa má-fama, o que era fancam passou a se chamar edit. Ao contrário do caráter aleatório das fancams, os edits são produzidos de forma mais orgânica, a princípio sem grandes objetivos, para viralizarem por serem interessantes somente.

Até mesmo os fãs de k-pop ressignificaram o que era fancam entre eles. Hoje, os vídeos são compilados ou registros feitos pelos admiradores desses artistas de forma amadora em apresentações ao vivo.

Brincadeira que deu (muito) certo

Para os mais céticos ou desconectados, os edits podem parecer uma grande besteira. Mas não se engane, porque dá muito certo. E quem pode comprovar isso é a própria indústria do audiovisual.

A Globo é responsável por inúmeras produções históricas de nossa cultura, que muitas vezes são passadas de geração em geração. E mesmo assim, várias 'se perdem' no tempo e não ganham a oportunidade de serem apresentadas aos jovens. Esse obstáculo parece ficar no passado quando os edits entram no meio.

Não à toa, 'Hilda Furacão' não apenas quebrou a barreira geracional, como também a geográfica. As cenas irresistíveis dos personagens de Ana Paula Arósio e Rodrigo Santoro viraram sensação entre os gringos, que chegaram a usar meios ilegais para assistir aos capítulos da minissérie.

E nem isso foi capaz de atrapalhar os bons frutos para a empresa. Disponível no catálogo do Globoplay desde 2021, 'Hilda Furacão' despontou como um grande hit na plataforma de streaming.

'O consumo da série disparou 150% em dezembro de 2023 em relação ao mês anterior, depois que trechos da trama viralizaram nas redes sociais. E a tendência de crescimento continua. O consumo da novela no mês de janeiro/24 foi 72% maior do que o de dezembro/23 e 347% maior que o de novembro/2023', Globoplay.

A projeção é que esse fenômeno da web influencie muito mais. Ainda segundo a plataforma, o consumo de 'Velho Chico' aumentou 21% entre o público com idade entre 18 a 25 anos.

Amém, internet!

Memes e cenas icônicas que rodam toda a internet também possuem um papel fundamental para resgatar essas obras e deixá-las tão relevantes quanto produções atuais. Tanto que os registros do Globoplay mostraram 'A Grande Família' e 'Tapas e Beijos' entre as 10 séries mais consumidas entre o público de 18 a 25 anos.

O programa estrelado por Marieta Severo e grande elenco chegou ao fim em 2014, e teve um crescimento de 115% em 2023 comparado com o ano anterior. Já o programa humorístico com Fernanda Torres e Andréa Beltrão teve um aumento de 34%, também em comparação a 2022. Online ou transmitida pelo sinal da antena parabólica, a TV aberta definitivamente está vivíssima.

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Edits ressuscitam obras, e geração Z descobre novelas e cinema nacional - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade