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Como mafioso traidor inspirou série que mostra o Brasil na rota de tráfico

Fernand Legros (Raphael Kahn), Tommaso Buscetta (Valerio Morigi) e Lucien Sarti (Aksel Ustun) são os personagens centrais de 'Rio Connection' Imagem: Divulgação/Globo

De Splash, no Rio

03/12/2023 04h00

Três criminosos europeus desembarcam no Brasil e estabelecem o país como base estratégica da rota do tráfico de heroína para os Estados Unidos. São eles: Tommaso Buscetta (Valerio Morigi), Fernand Legros (Raphael Kahn), Lucien Sarti (Aksel Ustun). Essa é a premissa de "Rio Connection", produção gringa do Globoplay em parceria com Sony e Floresta.

Inspirada em fatos reais, a série foi toda gravada em inglês e conta com uma versão dublada pelos próprios atores brasileiros que participaram da produção. Marina Ruy Barbosa, Carla Salle, Maria Casadevall, Bruno Gissoni, Felipe Rocha, Rômulo Arantes Neto, Nicolas Prattes, Aryè Campo, entre outros talentos estrangeiros, integram o elenco.

Tommaso Buscetta é o nome de um famoso criminoso italiano, que morreu em 2000 e participou da Cosa Nostra, a máfia siciliana. Ele ficou por delatar os companheiros à Justiça e falar sobre as estruturas da organização e seus esquemas de corrupção com políticos em diferentes países.

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O criador de "Rio Connection", Mauro Lima, chegou ao nome de Buscetta por acaso durante uma pesquisa no Google sobre outra personalidade, que serviria para outro filme do cineasta. Ao abrir um artigo, que falava sobre o objeto inicial de pesquisa, ele se deparou com a história do mafioso italiano e se encantou pela riqueza da narrativa.

Era um artigo do extinto jornal Opinião, de autoria de Agnaldo Silva. Era sobre um indivíduo que aparecia como colega do que eu estava pesquisando. Quando comecei a ler para entender, abriu-se um universo de loucura diante dos meus olhos. Por alguma intuição, pensei que parecia interessante: nos de mafiosos e traficantes franceses de heroínas, com namoradas brasileiras, isso me acendeu uma luz. Abandonei minha pesquisa original e passei a pesquisar sobre esses nomes o resto da noite. Mauro Lima

A pesquisa ficou na gaveta e, anos depois, foi apresentada a uma produtora que se interessava pelo tema e pelo nome de Tommaso Buscetta após ler a biografia dele escrita por Leandro Demori. "Tem filmes e biografias sobre quando ele foi preso no Brasil e entregou toda a máfia, acabou com todo mundo."

O nome "Rio Connection", que faz alusão ao filme "The French Connection" é inspirado na realidade. O filme dirigido por William Friedkin, em 1973, fala sobre a Conexão França, que é o nome real da rota de tráfico que saía da Turquia e chegava às ruas de Nova York (EUA), por meio do porto de Marseille, operado pela máfia francesa e italiana.

O Rio Connection foi uma tentativa de desviar a French Connection pela América do Sul através das figuras da Unione Corse, a máfia da Córsega, que tinha sido recém-desmantelada, como você vê no 'French Connection', pelo FBI e pela agência de narcóticos americana. Alguns mafiosos foram presos e outros fugiram e vieram para morar na América do Sul — Paraguai, Uruguai e Brasil. Mauro Lima

Tommaso Buscetta, o mafioso traidor, foi um dos que vieram para o Brasil. Ao ser preso pela segunda vez, ele denunciou o esquema e passou a viver escondido dos antigos aliados. "Assim, veio a ideia de tropicalizar a máfia. É uma história real conectada com outra história real, ambas no audiovisual."

Marina Ruy Barbosa como Ana Alves em 'Rio Connection' Imagem: Divulgação/Globo

Desafios

Marina Ruy Barbosa, que vive uma aspirante cantora que se envolve com a máfia, narrou o desafio de gravar em inglês e, também, na pandemia. "Desafiante em vários aspectos. A gente começou as preparações online. Como a gente tinha todo esse cuidado por conta do covid, as gravações foram mais demoradas."

João Côrtes, que interpreta um diplomata, se sentiu mais à vontade de gravar em inglês. "Foi muito gostoso o processo, eu adoro falar inglês e tenho uma naturalidade com a língua. É muito gostoso poder exercer o ofício em outra língua e descobrir de que maneira isso afeta a maneira de você se comunicar e como você pode brincar com a dinâmica e o tom."

Já Nicolas Prattes, que interpreta um italiano, estranhou dublar a si próprio. "A parte da dublagem é que é um capítulo a parte, você fala outra língua e depois fala a sua língua mãe, mas se vendo falando outra língua. É você com você, não é vendo outro ator."

Anos 1970

"Rio Connection" é ambientada nos anos 1970 do Rio de Janeiro. Traz imagens da Urca, por exemplo, além das cores, fotografia, sonoridade e curvas da zona sul da cidade maravilhosa. A série também conta os dilemas da época como o machismo.

A atriz Arye Campos, radicada nos Estados Unidos, interpreta uma agente do departamento de narcóticos e drogas lícitas. "Ela é a chefe do departamento e tem que trabalhar no Brasil com a política do país e o machismo dos anos 70. É a única mulher que tem de sobreviver e lutar não só contra os crimes, mas também contra seus companheiros de trabalho às vezes."

Arye Campos na série 'Rio Connection' Imagem: Dan Behr/Globo

A parte que mais me marcou foi poder misturar meus dois mundos. Fazer uma americana, falando inglês, mas no meu país. Eu sou uma brasileira que mora nos Estados Unidos e esse papel misturou tudo. Foi uma jornada muito legal poder falar português nos bastidores e interpretar uma americana. É raro uma brasileira interpretar uma americana. Tive toda a beleza e a vibe do Rio de Janeiro, mas com um pouquinho dos Estados Unidos. Arye Campos

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