CEIA DE NATAL À BRASILEIRA
As receitas de Norte a Sul do país que formariam nossa autêntica mesa natalina
As receitas de Norte a Sul do país que formariam nossa autêntica mesa natalina
Seco e salgado, o maior peixe da Amazônia vira substituto do bacalhau em receitas cozidas, assadas e até na salada. Uma das receitas natalinas mais comuns é o pirarucu de casaca, que sobrepõe camadas de peixe com cebola, tomate, pimentão, leite de coco e banana frita.
Na região Sul, sobretudo nas cidades de colonização alemã, persiste o hábito de servir a ave na noite de Natal, recheada com uma mistura de pão umedecido, miúdos e temperos. As guarnições também têm sotaque alemão: repolho-roxo e purê de maçã.
A receita, surgida há cerca de 150 anos na Cidade de Goiás, leva frango, carne suína, linguiça, azeitona, palmito, queijo e ovo - com o tempo, foram incorporados o pequi e a guariroba. Além de servi-lo à mesa, as famílias assam para presentear os amigos.
Os portugueses gostavam tanto de carne suína que trouxeram os primeiros animais no século 16. Pelos interiores do Brasil, servir o leitão inteiro assado segue como tradição de Natal. Nos centros urbanos, o pernil e o lombinho foram adotados em nome da praticidade.
Muita gente pensa que importamos a tradição do Thanksgiving, Dia de Ação de Graças americano, mas o legado é português - foram os colonizadores que disseminaram o hábito. Símbolo de prosperidade, porque ganha peso facilmente, o peru assado já faz parte da ceia em diversas regiões do país.
O animal é uma iguaria no sertão nordestino - e, no Natal, tem lugar garantido à mesa. A versão festiva costuma ser um ensopado com muito molho, batata, batata-doce, milho, quiabo e maxixe. Como acompanhamentos, pirão e arroz de leite, cozido no leite de cabra (ou de vaca).
Parece meme: nos anos 1950, quando o frigorífico Wilson importou os primeiros presuntos defumados dos EUA, a embalagem estampava a expressão em inglês tender made, que significa "feito com carinho". Rebatizado, o tender virou tradição especialmente nos centros urbanos do Sudeste.
A receita não pode faltar na ceia do Pantanal. Faz-se com frango caipira ou com galinha gorda, arroz e pequi, tudo bem temperado com cebola, alho, colorau e cheiro-verde. Manda a tradição que o prato seja acompanhado pela farofa de natas, à base de farinha de mandioca refogada na gordura do leite.
A culpa é dos imigrantes do Hemisfério Norte, que celebravam o Natal em pleno inverno e, de lá, trouxeram o hábito de comer frutas secas - nozes, amêndoas, tâmaras e figos viraram símbolo de fartura na ceia. A uva-passa acabou entrando no arroz como uma espécie de roupa de festa.
Onipresente na mesa do brasileiro de norte a sul, seja com farinha de mandioca ou de milho, a farofa é invenção indígena que não tem paralelo no mundo. No dia do Natal, ganha reforços com o refogado dos miúdos do peru ou da galinha, frutas secas e passas.
A mistura de carne desfiada e legumes, ligados por molho, maionese ou creme de leite, resulta nessa receita que nasceu na França, no século 14. Em diferentes regiões do Brasil, ingredientes regionais deram origem a interpretações - por cima de tudo, a batata-palha virou item obrigatório.
Publicado em 24 de dezembro de 2023
Reportagem: Flávia G. Pinho
Edição: Eduardo Burckhardt
Ilustração: Thiago Limón
Design: Carol Malavolta