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Rússia e COI já esquentam o clima político de Paris-2024

25/03/2024 09h00

Rússia e COI (Comitê Olímpico Internacional) deflagaram na última semana o início de uma crise que tem tudo para se prolongar durante os Jogos Olímpicos Paris-2024. A entidade vetou a presença de atletas russos e de Belarus na cerimônia de abertura, no dia 26 de julho, e ainda divulgou uma carta acusando os russos de "politizarem o esporte". O contra-ataque veio de forma fulminante. No dia seguinte, o próprio governo da Rússia afirmou que as punições e acusações do COI o afastam dos princípios do olimpismo caem no "racismo e neonazismo", segundo a porta-voz russa.

Há quatro meses do início da Olimpíada, se alguém tinha esperança de ver um clima geral de confraternização e entendimento através do esporte, é bom tirar o cavalo da chuva. A tendência é piorar.

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O COI, ao publicar as regras sobre os AINs (Atletas Neutros Individuais), na prática seguiu o que o IPC (Comitê Paralímpico Internacional) havia divulgado semanas antes. Ou seja, os atletas russos e bielorrussos serão considerados elegíveis após comprovarem que que não apoiaram a Rússia na Guerra da Ucrânia. Participarão apenas de provas individuais, sem bandeiras, emblemas ou hinos nacionais.

As medalhas que os atletas dos dois países conquistarem ao longo dos Jogos não serão computadas no quadro geral do evento. Por fim, os AINs estão vetados da cerimônia de abertura. O COI justifica que como ela é voltada para delegações e equipes e os atletas não compõe nenhuma delegação, não faz sentido que estejam no desfile de barcos que acontecerá no Rio Sena. Participarão dos Jogos, no máximo, 54 atletas da Rússia e 28 de Belarus.

Tom elevado?

Mas o que fez com que Moscou perdesse a paciência e elevasse o tom contra o COI foi um longo comunicado no qual acusa a Rússia de fazer uma "tentativa cínica" de politizar o esporte. A entidade ataca diretamente a primeira edição dos Jogos da Amizade de Verão, marcados para Moscou e Ecaterimburgo em setembro deste ano. Os russos vão organizar também uma edição de Inverno, na cidade de Sochi, em 2026.

Eis aqui uma grande ironia: foi a mesma Sochi que abrigou a edição da Olimpíada de Inverno em 2014 que teve por trás um esquema de doping dos atletas russos organizado pelo governo, e que detonou a primeira grande punição ao país, nos Jogos Rio-2016. Na ocasião, a World Athletics (Federação Internacional de Atletismo) vetou a presença de atletas russos nas provas daquele ano.

As condições impostas deixaram o governo russo indignado. "Estas decisões demonstram até que ponto o COI se afastou de seus princípios e caiu no racismo e no neonazismo", afirmou Maria Zakharova, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia.

A réplica do COI também veio em um tom elevado. "Isso vai além do aceitável. Ligar o presidente [Thomas Bach], sua nacionalidade e o Holocausto no contexto desta questão atinge um novo nível", disse Mark Adams, porta-voz do COI.

Guerra de palavras

Algumas coisas parecem bem evidentes após essa verdadeira guerra de palavras nos últimos dias. A primeira é que a temperatura política tende a subir cada vez mais, à medida que os Jogos de aproximam. A segunda é a completa inutilidade das tais punições ao COI, que terão efeito zero em relação ao conflito russo na Ucrânia. Além disso, a entidade nunca mostrou a mesma veemência contra os Estados Unidos, por exemplo, que participam de guerras e conflitos, invadindo países, há décadas.

Por fim, ignorar as conquistas dos tais Atletas Neutros no quadro de medalhas foge a qualquer lógica ou espírito esportivo. Como escrevi há duas semanas, quando forem estudar e escrever sobre os Jogos de Paris-2024 daqui a 50 anos, terão trabalho para justificar esta bizarrice.


Boxe segue na berlinda

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O boxe segue ameaçado de não integrar o programa esportivo dos Jogos de Los Angeles-2028 (Divulgação/COI)

A semana que passou também teve espaço para um outro embate conhecido, entre o COI e a IBA (Associação Internacional de Boxe). Após reuniões do Conselho Executivo, em Lausanne (SUI), o COI confirmou que a IBA segue excluída como órgão dirigente do boxe. Desta forma, a modalidade só fará parte do programa esportivo dos Jogos de Los Angeles-2028 sob a governança de uma outra entidade.

Por sinal, ela já existe: a World Boxing foi criada em 2023, com apoio explícito do COI. Mas para este ano, uma força-tarefa criada pelo Comitê Olímpico Internacional organizou os torneios de qualificação e a competição de boxe em Paris.

Comunicado duro

A IBA, comandada pelo dirigente uizbeque Umar Kremlev, tem enormes problemas financeiros, de governança e acusações de manipulação de resultado. Na quinta-feira (21), emitiu um comunicado bastante duro. Para a IBA, o COI "mais uma vez está tentando destruir a família do esporte e violando todas as regras de democracia e transparência". Disse ainda que o COI viola os princípios da Carta Olímpica, viola a liberdade e quer impor suas próprias regras "fictícias", segundo o comunicado.

Enquanto dispara contra o COI, a IBA aguarda a decisão do Tribunal Arbitral do Esporte (CAS) de seu recurso para voltar a ser o órgão responsável pela gestão do boxe olímpico. No final, as maiores vítimas serão os atletas da modalidade, que podem ver o sonho de participar de uma Olimpíada ir pelo ralo.


Olímpicas

Guatemala liberada

A reunião do Conselho Executivo do COI retirou, de forma provisória, a suspensão do Comitê Olímpico da Guatemala, em vigor há dois anos. Os atletas do país estão competindo sem poder usar a bandeira do país e o uniforme oficial. Nos Jogos Pan-Americanos de Santiago-2023, por exemplo, competiram sob a bandeira da Panam Sports. A suspensão ocorreu por causa de uma intervenção do Supremo Tribunal do país  interferindo na gestão do comitê olímpico guatemalteco. Por enquanto, a Guatemala tem dez atletas classificados para Paris-2024.

Voluntários fashion

Divulgados na última sexta-feira (23), os uniformes dos voluntários que irão trabalhar nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos terá um item icônico da moda francesa. A "marinere", a famosa camisa listrada de marinheiro, será a peça de destaque no uniforme dos voluntários. "É muito importante para nós que eles (voluntários) sejam visíveis na multidão", afirmou Joachin Roncin, diretor de design dos Jogos Paris-2024. Outro detalhe significativo: a equipe terá igualdade de gênero (50% homens e 50% mulheres).

Tocha olímpica mais segura

A polícia francesa testou na última sexta-feira (23) os planos de segurança para o revezamento da tocha olímpica. Durante o trajeto, que passará por 400 cidades e pontos turísticos da França, a tocha e seus condutores serão protegidos por 100 agentes de segurança. O principal objetivo é manter afastados possíveis manifestantes ou até mesmo ataques terroristas. A tocha olímpica será acesa dia 16 de abril, no Templo de Olímpia, na Grécia, palco dos Jogos Olímpicos da Antiguidade. Ao todo, 10.000 pessoas irão carregar a tocha.


O Número

45.000

Voluntários irão trabalhar nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris-2024. É o número mais baixo em comparação com as últimas três edições (Londres-2012, Rio-2016 e Tóquio-2020)


A FRASE

"A cerimônia de abertura tende a apresentar as delegações, os países...portanto, como os atletas de nacionalidade russa e bielorrussa não poderão participar como delegações, o COI manteve sua lógica e não dá a estes atletas a possibilidade de serem apresentados como delegações durante o evento"

Tony Estanguet, presidente do Comitê Organizador dos Jogos Paris-2024, comentando o veto do COI aos atletas neutros da Rússia e Belarus para participarem da cerimônia de abertura, no dia 26 de julho.


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