Topo

Como a polêmica racial extrapolou para os esportes nos EUA

Policiais bloqueiam rua em Charlotte durante protestos contra violência policial Imagem: Adam Rhew / Reuters

Do UOL, em São Paulo

23/09/2016 06h00

A morte de Keith Lamont Scott, 43 anos, na última terça-feira (20), desencadeou uma série de protestos contra a violência policial e a repressão racial em Charlotte, na Carolina do Norte, nos EUA.

Segundo a versão da Polícia, Scott foi morto a tiros por um policial porque se recusou a largar uma pistola. Mas sua família e uma testemunha afirmaram que ele segurava um livro, e não uma arma de fogo. “Temos mais dúvidas do que certezas sobre a morte de Keith”, afirmou a viúva.

A divergência sobre a morte de Scott reativou a todo vapor a tensão racial nos EUA. Com efeito, protestos contra a repressão policial à população negra pipocaram em Charlotte desde então. Na última quarta (21), manifestantes e policiais entraram em confronto, transformando as ruas da cidade em campo de batalha: quatro policiais ficaram feridos e um civil foi baleado.

Diante do cenário de tensão, o governador da Carolina do Norte, Pat McCrory, declarou estado de emergência e solicitou a presença da Guarda Nacional para controlar os ânimos em Charlotte.

Mesmo antes da morte de Keith Scott, porém, o debate racial já vinha aflorando os ânimos nos EUA – inclusive nas grandes ligas esportivas. Uma das principais vozes que se levantaram contra a violência policial foi a do jogador de futebol americano Colin Kaepernick, que se ajoelhou durante o hino dos EUA em protesto há menos de um mês.

O UOL Esporte mostra como o debate racial extrapolou as manifestações de ruas, envolvendo algumas das principais ligas esportivas norte-americanas.

O gesto de Kaepernick

Imagem: Thearon W. Henderson/Getty

No fim do mês passado, numa partida de pré-temporada da NFL entre San Francisco49ers e Green Bay Packers, o quarterback Colin Kaepernick decidiu se ajoelhar durante a execução do hino dos EUA. "Eu não vou me levantar para mostrar orgulho à bandeira de um país que oprime pessoas negras e pessoas de cor. Para mim, isso é maior que o futebol [americano] e seria egoísta da minha parte enxergar de outra forma. Têm corpos nas ruas e pessoas se safando de assassinatos", explicou. A postura do jogador gerou uma enxurrada de críticas de torcedores e até colegas de NFL, que o acusaram de falta de respeito e patriotismo. Mas também houve quem saiu em defesa de Kaepernick, engrossando o coro contra a repressão policial em relação aos negros.

Protesto na WNBA

Imagem: Reprodução

O gesto de Kaepernick ecoou no basquete, esporte cuja maioria dos atletas é negra. Na noite da última quarta (21), todas as jogadoras do Indiana Fever, equipe que disputa a WNBA, se ajoelharam durante a execução do hino americano antes da partida dos playoffs contra o Phoenix Mercury. “Foi uma decisão unânime de que deveríamos fazer juntas. Temos uma grande plataforma e acho que seria um desserviço se não a usássemos. Isso é algo maior que basquete. Por mais importante que este jogo seja, há outras coisas acontecendo no mundo", afirmou a jogadora Marissa Coleman.

Michael Jordan pede paz

Dono da franquia da NBA Charlotte Hornets, a lenda do basquete Michael Jordan divulgou comunicado oficial na última quinta (22) solidarizando-se com a família de Keith Scott e pedindo para que a sociedade civil e as instituições da Carolina do Norte trabalhem por uma solução pacífica para os conflitos. “Primeiro, eu quero expressar minhas condolências à família Scott por sua perda. É mais importante do que nunca que reestabeleçamos a calma e fiquemos unidos, como comunidade, numa demonstração de paz. Os Hornets estão comprometidos a trabalhar com os líderes civis, líderes eleitos e forças policiais para promover mais confiança, transparência e entendimento para que possamos nos curar e crescer juntos como comunidade”, escreveu. Vale lembrar que Jordan já foi muito criticado nos EUA por não se posicionar nas polêmicas raciais.

Museu da Nascar é depredado

Durante as massivas manifestações de quarta (21) em Charlotte, o museu do Hall da Fama da Nascar foi depredado. Apesar da parte interna das instalações do museu não ter sido danificada, algumas das janelas do local foram quebradas. Para entender a depredação do museu da Nascar, é preciso lembrar que a modalidade é vista como esporte de elite nos EUA, já que a maioria esmagadora dos pilotos é branca e oriunda das classes mais ricas. Muitos pilotos negros que tentaram carreira na Nascar, aliás, tiveram que conviver com barreiras raciais na modalidade. O primeiro competidor negro a vencer uma prova, Wendel Scott, em 1963, por exemplo, demorou dois anos para ter sua vitória reconhecida. Até hoje, a Nascar é encarada como habitat dos brancos. 

NFL monta esquema de segurança

O Carolina Panthers chegou a cogitar mandar sua partida contra o Minnesota Viking, no próximo domingo, longe do seu estádio em Charlotte. Mas a franquia e a NFL acabaram confirmando a partida para o Bank of America Stadium, que contará com forte esquema de segurança combinado com diversas autoridades da Carolina do Norte. “Estamos monitorando os eventos em Charlotte e estamos em contato permanente com autoridades e policiais locais, assim como com o Carolina Panthers e o Minnesota Viking”, afirmou o porta-voz da NFL, Brian McCarthy. Os militares da Guarda Nacional, que foi ativada pelo governador da Carolina do Norte, devem participar do esquema de segurança montado para realização da partida.  

 

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Como a polêmica racial extrapolou para os esportes nos EUA - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade


Esporte