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"Trintões" em alta! Federer lidera envelhecimento do circuito do tênis

Imagem: AP/Mark J. Terrill

Rubens Lisboa

Colaboração para o UOL, em São Paulo

21/04/2017 04h00

Com o primeiro trimestre do tênis concluído, o suíço Roger Federer está novamente como o centro das atenções após títulos conquistados nos três principais torneios disputados até agora no circuito: Aberto da Austrália, Masters 1000 de Indian Wells e Masters 1000 de Miami. Aos 35 anos, ele lidera a Corrida para Londres, se postula como candidato ao número 1 do mundo e lidera uma geração de ‘trintões' que está crescendo a cada ano.

No ranking divulgado na última segunda-feira, há um total de 42 jogadores com mais de 30 anos integrando o top 100, quatro deles entre os dez melhores, casos do suíço Stan Wawrinka (32), do francês Jo-Wilfried Tsonga (32) e de Rafael Nadal (30), além de Federer. Ainda chama a atenção dentro do top 100 a quantidade de atletas que batem a marca dos 35, como o croata Ivo Karlovic (38) e o checo Radek Stepanek (38), e mais outros sete jogadores.

Há exatos 20 anos, o top 100 da ATP tinha apenas nove jogadores com 30 anos ou mais no circuito, sendo que o limite máximo era 32 anos e nenhum deles ocupava o top 15. Passados dez anos, e o ranking mundial em 2007 tinha 12 tenistas entre os cem melhores sendo que apenas o sueco Jonas Bjorkman chegava aos 35 e a faixa de colocação deles era fora do top 30.

No caso de Federer, que completa 36 anos em agosto, a técnica privilegiada e o pequeno histórico de lesões facilitam esta longevidade. A possibilidade financeira de carregar consigo uma equipe numerosa, que inclui o preparador físico Pierre Paganini e o fisioterapeuta Daniel Troxler, também é um diferencial. Mas não são muitos os jogadores com as mesmas facilidades individuais.

Como explicar o sucesso dos "trintões"?

A geração que surgiu durante o domínio do suíço no circuito, entre 2004 e 2008, é mais profissional que as anteriores. Além disso, usufrui de um trabalho da própria ATP, que auxilia desde o trabalho de prevenção de lesões e recuperação física com sua equipe de fisioterapeutas até o monitoramento da alimentação e hidratação dos jogadores, nos torneios e também no período fora da temporada com um sistema de informações.

“A ATP tem um trabalho de prevenção para que os atletas possam ter menos lesões ou que possam ao menos reduzir a incidência. Tanto na parte física quanto na nutricional, os jogadores contam com um trabalho preventivo nos torneios, antes e depois de cada jogo, além de trabalhos fora da temporada que eles podem seguir. Temos consultores que podem ser acessados pelos jogadores e orientam toda a parte de alimentação e hidratação”, explica Alejandro Ressnicof, fisioterapeuta da ATP, que trabalha com o tênis há 17 anos e revela que a formação da área médica da entidade está mais exigente.

“Todos manejamos diferentes técnicas de tratamento e reabilitação. Somos chamados de ‘trainer’, mas hoje não tem mais nenhum trainer na ATP, somos fisioterapeutas, temos uma capacitação muito alta e estamos fazendo duas vezes por ano cursos para evoluir, desde acupuntura, osteopatia, diferentes técnicas manuais, diferentes tipos de taping”, ressalta o fisioterapeuta. 

A um mês de completar 40 anos, o mineiro André Sá é o brasileiro que está há mais tempo no circuito ATP. Duplista nos últimos dez anos, ele está em seu 21º ano como profissional e viu de perto as mudanças de todos os fatores em torno dos jogadores nas últimas duas décadas e reforça a mentalidade cada vez mais profissional dos atletas.

“Está muito mais profissional na questão de cuidar do corpo e fazer treinamentos mais específicos para o tênis. Na minha visão o que mais mudou realmente foi a alimentação, a evolução da fisioterapia na questão de recuperação e também o aquecimento antes dos jogos, que antes era uma coisinha rápida de uns 10 a 15 minutos e hoje tem caras que chegam a uma hora. O pós-jogo também com a recuperação muscular faz uma diferença incrível. Eles vincularam agora a alimentação com a recuperação muscular e caras com mais de 30, 35 anos, estão muito bem comparados aos de 23”, explica Sá.

O mineiro revela uma preocupação de ter por perto outros profissionais mesmo entre tenistas que, diferentemente de Federer, não têm condições financeiras de carregar uma equipe pessoal para todos os torneios. 

"Não dá para todo mundo ter um fisioterapeuta o tempo todo como é o caso dos top 10, mas já se vê hoje em dia vários tenistas dividindo fisioterapeuta, uma coisa que não acontecia no passado, mas agora cada vez mais se vê a importância. O jogo ficou mais físico com as quadras mais lentas, então você precisa estar sempre bem fisicamente”.

Evolução tecnológica evita lesões

Outro fator importante é a evolução das técnicas de fisioterapia e também a tecnologia, com a utilização de imagens para identificar possíveis riscos de lesão, assim como o material de jogo é trabalhado de forma mais cuidadosa visando reduzir os problemas.

“Um jogador que está com um problema no ombro, por exemplo, com a biomecânica a gente utiliza imagens do movimento do saque e pode identificar o problema. O material de jogo evoluiu também, a raquete não é a mesma de 20 anos atrás, as bolas também. E os jogadores também. Hoje não é só entrar em quadra e jogar, o cara faz fisioterapia antes e depois, faz físico, treina, faz massagem, banheira de gelo. E nós estamos mais em cima para poder solucionar qualquer problema mais rápido”, ressalta Ressnicof.

Mais novos viram minoria

Embora a ATP reforce que não tenha interesse em aumentar a média de idade do circuito, a melhor capacidade física dos atletas acaba trazendo este envelhecimento e assim aumenta o desafio para que os mais jovens apareçam. Se nas últimas duas décadas, jogadores de até 21 anos brigavam por posições entre os dez melhores do mundo, casos de Carlos Moyá, Marcelo Ríos e Gustavo Kuerten em 1997, e de Rafael Nadal, Novak Djokovic e Andy Murray em 2007, hoje o número de jogadores nesta faixa de idade dentro do top 10 diminuiu e os mais próximos dos dez melhores são o australiano Nick Kyrgios (16º), que completa 22 este ano, e o alemão Alexander Zverev (20º). 

"É um desafio enorme para a geração mais jovem porque você pega um jogador muito mais experiente, com 10 anos de circuito, de experiência de situações de jogo e fisicamente ele aguenta o mesmo que você. Antigamente um cara de 30, 32 quando chegava na segunda hora de jogo, terceira hora de jogo, o gás acabava, hoje em dia não é mais assim, eles continuam a jogar cinco horas de igual com um cara de 20, 22 anos. Quem consegue entrar no top 100 são caras extremamente talentosos e especiais, mas sempre tem espaço para todo mundo, o cara tem que correr atrás", conclui André Sá.

A própria ATP admitiu a mudança etária do circuito ao criar, nos mesmos moldes do ATP Finals de Londres, um torneio voltado apenas a jogadores que tenham até 21 anos na atual temporada, com um ranking específico. O evento será disputado em Milão na semana anterior ao dos oito melhores tenistas do ano.

 

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