A conquista do título paulista de 1977 representou o fim da maior prova de fidelidade que uma torcida já viveu no futebol paulista. Naquele ano, a torcida corintiana voltou a soltar o grito de campeão após quase 23 anos na fila. Basílio foi o responsável por colocar o sorriso no rosto da Fiel, mas é outro o personagem mais enigmático daquela polêmica decisão.
A Ponte Preta, adversário da final, tinha em Ruy Rey a esperança de enfim conquistar o primeiro título expressivo de sua história. No primeiro duelo da decisão, o Corinthians levou a melhor e ficou a uma vitória de levantar a taça. No segundo jogo, no Morumbi, mais de 138 mil torcedores foram para soltar o grito de campeão.
Os planos foram miseravelmente frustrados. Ruy Rey, com 24 anos, fez o gol da vitória da Ponte Preta e levou a decisão do Paulista para o terceiro jogo. E foi justamente nesse momento que o jovem atacante revelado pelo Flamengo mudou a história — mas de uma maneira nada agradável.
Ruy Rey entrou em campo na finalíssima confiante de que poderia ser novamente o herói do time. Foram apenas 16 minutos de um sonho que rapidamente se transformou no maior dos pesadelos.
Lançado em profundidade, Ruy Rey dividiu a bola com Moisés e viu a arbitragem assinalar falta. O atacante da Ponte Preta já estava com a cabeça quente com Dulcídio Wanderley Boschillia, que o chamava de "macaquinho" como mera provocação. Inconformado com a decisão, xingou o juiz com vontade. Acabou expulso.
"A minha vontade foi dar um murro no meio da orelha dele e fazê-lo continuar jogando. Como a lei não me permite esse tipo de coisa, falei para ir para fora e chamei a mãe dele de santa", narrou o falecido juiz, em uma antiga entrevista à TV Cultura.
Aquela expulsão mudou a carreira de Ruy Rey. Ele passou a conviver com a acusação de ter forçado o cartão vermelho para facilitar a vitória do Corinthians, time pelo qual viria a jogar meses depois. Com um a mais em campo, o time do Parque São Jorge venceu com o famoso gol de Basílio. Enquanto os torcedores soltaram o grito de campeão, o atacante da Ponte Preta ficou de vez com acusações atravessadas na garganta.
Eu caminho com a polêmica de 77. Eu caminho com essa polêmica".