E agora, Ney?

Neymar volta a bater na trave na Champions League. Saiba como isso pode afetar o futuro do craque

Pedro Lopes e João Henrique Marques Do UOL, em São Paulo Aurelien Meunier - PSG/PSG via Getty Images

Qualquer pessoa que convive com Neymar irá confirmar que vencer novamente a Liga dos Campeões é, praticamente, uma obsessão para o camisa 10 do PSG. Depois de chegar à final da competição de maior prestígio do futebol mundial em 2020, o brasileiro voltou a bater na trave nesta temporada, eliminado nas semifinais pelo Manchester City de Pep Guardiola.

A derrota adia, por mais um ano, o sonho de título. E acontece em uma temporada cheia de particularidades para Neymar: a hora de tomar uma decisão sobre seu futuro se aproxima, já que o contrato com o clube parisiense termina no meio de 2022. Na mesma data, termina também o contrato de Mbappé, amigo e parceiro ofensivo.

O Barcelona sempre foi visto como uma alternativa à permanência na França, mas, na Catalunha, as coisas também estão indefinidas: Messi fica livre no mercado a partir do meio deste ano, e não tem a renovação assegurada.

Além da eliminação continental, o PSG também enfrenta obstáculos inéditos na Ligue 1. É o segundo colocado, com 75 pontos, um atrás do líder Lille. O "G4 francês" está embolado, com o Monaco, 71 pontos, e o Lyon, 70.

Se o sucesso continental vem escapando do PSG, um fracasso na competição doméstica cairia como uma bomba no ambicioso clube de Paris. Perder o título para um time com muito menos estrelas e investimento provavelmente levaria o presidente Nasser Al-Khelaifi a uma revolução, com trocas grandes, seja no elenco ou no comando técnico. O UOL Esporte mostra como todos estes fatores podem afetar o futuro de Neymar.

Aurelien Meunier - PSG/PSG via Getty Images

Após tentar sair do PSG, Neymar bate na trave na Champions

Neymar tem a obsessão de conquistar seu segundo título da Liga dos Campeões. Muito por conta disso, as duas primeiras temporadas no Paris Saint-Germain (2017-2018 e 2018-2019), com queda nas oitavas de final, deixaram o atacante desiludido e, consequentemente, arrependido de ter saído do Barcelona.

Houve uma tentativa frustrada de volta ao ex-clube em 2019, mas o cenário de esperança logo se modificou com o PSG atingindo a final diante do Bayern de Munique, em 2020. O time perdeu a decisão por 1 a 0, mas Neymar comentou estar satisfeito diante da nova realidade do clube francês de participar de jogos decisivos.

"Quando cheguei ao PSG, o objetivo sempre foi ganhar a Champions League. Chegamos à primeira final da história do clube na temporada passada e somos uma equipe que ainda está progredindo. Temos todos os ingredientes para vencer: jogadores, time ... Trabalhamos muito e o ambiente é ótimo. Estamos perto da conquista", disse Neymar na véspera de iniciar o confronto de semifinal contra o Manchester City.

A derrota para o time inglês nesta temporada, no entanto, coloca a realidade de Neymar em perspectiva: já se passaram 4 dos 5 anos de contrato com o PSG sem atingir o objetivo inicial. Agora, a discussão do futuro do camisa 10 passa pelo PSG mostrar capacidade de manter um time de ponta em condição de dominar jogos contra rivais como Bayern de Munique e Manchester City, algo que, apesar da eliminação o clube alemão pelo PSG nas quartas de final, não aconteceu nessa temporada.

Melhor do mundo? Depende da Champions

Plano de carreira sempre passou por chegar livre aos 30 anos

Para compreender o futuro de Neymar, é necessária uma viagem ao passado do jogador. O planejamento de carreira do craque, traçado em conjunto com seu pai, Neymar da Silva Santos, sempre passou por chegar como agente livre à marca dos 30 ou 31 anos e, assim, negociar o último grande contrato no destino de sua preferência, atendendo aos seus desejos esportivos e financeiros.

Foi assim que foi desenhado o seu contrato com o Barcelona: se nunca tivesse saído da Catalunha, Neymar terminaria seu vínculo com o Barça em 2021, com 29 anos. O planejamento foi seguido em Paris, com o acordo que termina no ano que vem, quando o brasileiro terá 30 anos.

Tudo isso para ilustrar que, caso não renove com o PSG e aguarde os meses finais de seu contrato, Neymar estará seguindo o que foi planejado lá atrás, em 2014. O processo de decisão do futuro do atacante não passa só por questões financeiras, mas também pessoais, de proximidade com jogadores com os quais se identifica, e esportivas - quem lhe trará as melhores chances para atuar em alto nível e vencer a Liga dos Campeões?

Na esteira da boa campanha do PSG na maior competição europeia no ano passado, esquentaram também as notícias sobre a felicidade de Neymar em Paris e a proximidade de sua renovação com o clube da capital francesa. Em mais de uma ocasião, o brasileiro falou em permanecer. O contrato, entretanto, não foi assinado.

Divulgação/PSG

A gente está em conversação com o Paris, sim. Acho que não precisamos ter pressa de nada. São coisas que estão praticamente pré-definidas. Me sinto à vontade, me sinto mais feliz aqui no Paris Saint-Germain".

Neymar, em abril de 2021.

Aurelien Meunier - PSG/PSG via Getty Images Aurelien Meunier - PSG/PSG via Getty Images

Renovação virou assunto quente, mas não saiu do papel

Nos bastidores, o entorno de Neymar e o PSG tratavam a renovação do camisa 10 até 2026 como assegurada em meados de fevereiro. A proposta do clube francês já estava formalizada, mas o brasileiro jamais a assinou.

O PSG não vê por Neymar o assédio que recebe por Mbappé. Por isso também, não há pressão no brasileiro para garantir a permanência. Ainda existe a confiança de que um acerto está próximo. "Vamos com calma com o Neymar. Daremos boas notícias aos torcedores em breve", disse recentemente o diretor esportivo do clube, o brasileiro Leonardo.

Mesmo sem o acerto, Neymar segue se posicionando em tom de satisfação no PSG. As especulações sobre o futuro fora do clube francês sempre são respondidas como se o contrato já estivesse renovado.

"Isso já não é mais novidade para ninguém (ficar no PSG). Eu sou feliz aqui e satisfeito com o meu time. Não tem para que ficar tocando nesse tema agora, não há mais nenhuma novidade sobre isso", disse Neymar à imprensa francesa na semana passada.

Alexander Hassenstein/Getty Images

Fatores Messi e Mbappé

Neymar não se manifesta publicamente sobre a demora nas negociações pela renovação com o PSG, mas nunca escondeu de pessoas próximas o apreço, pessoal e futebolístico, por alguns jogadores. Mbappé, seu companheiro de time, e Messi, ex-companheiro no Barcelona, são dois amigos com quem o brasileiro gostaria de contar.

Em uma situação pouco usual, todos estão na reta final de seus contratos. Messi pode deixar o Barcelona no meio deste ano, quando termina seu contrato. O argentino quer jogar novamente ao lado do brasileiro e já tentou pedir sua contratação à diretoria catalã. O mesmo movimento existe na direção oposta, com o PSG monitorando a situação de Messi.

Do lado parisiense, lida-se com assédio enorme sobre Mbappé, que só tem contrato até o meio de 2022 e também não assinou a renovação. A saída do atacante francês ou a chegada de Messi podem acabar sendo fatores determinantes também na definição de futuro de Neymar.

O ano de 2022 pode trazer mais surpresas no mercado. Cristiano Ronaldo também encerrará seu vínculo com a Juventus, e pode ficar livre para reforçar outro grande clube europeu. No Borussia Dortmund, Erling Haaland passa a ter multa rescisória de 75 milhões de euros -o número pode parecer alto, mas para um jogador como ele não é e essa cifra praticamente uma garantia de que reforçará um dos gigantes europeus.

FRANCK FIFE / AFP
Neymar discute com Benjamin André na partida entre PSG e Lille

PSG sob pressão e com dificuldades na Ligue 1

Se a torcida e a diretoria sempre toleraram as dificuldades do PSG na busca pelo título da Champions, o sucesso na Ligue 1, o campeonato francês, se tornou regra. Desde 2013, os parisienses só perderam uma edição da competição doméstica, para o Monaco, em 2016-17. Desde a chegada de Neymar, em 2017, foram três títulos em três edições disputadas.

Neste ano, o cenário tem sido diferente. Mesmo com investimentos, o PSG tem tido dificuldades para disparar na liderança. Do outro lado, encontra resistência dos rivais. O Lille é, hoje, o líder do campeonato, com 76 pontos, um à frente do time de Neymar.

Comandado pelo técnico francês Christophe Galtier, o Lille tem como destaques o atacante canadense Jonathan David e o veterano turco Burak Yilmaz. A dupla é muito perigosa, mas é difícil apostar nela contra um ataque tem Neymar, Di Maria e Mbappé, com Icardi saindo do banco de reservas.

O resto do topo da tabela na França também está embolado, com Monaco e Lyon muito próximos de líder e vice-líder. Um fracasso doméstico, somado à queda na Liga dos Campeões, poderia dar à temporada do PSG ares de vexame. Na imprensa local, Neymar tem sofrido, pela primeira vez, críticas pelo seu desempenho dentro de campo.

Tudo isso tem gerado uma bolha de pressão sobre a direção e os jogadores do Paris Saint-Germain. Leonardo, o diretor de futebol, tomou decisões polêmicas, como liberar Thiago Silva e o uruguaio Edinson Cavani. Thomas Tuchel, técnico demitido pelo brasileiro, levou o Chelsea à final da Champions League. O resultado na temporada 2021 deve ser determinante para o planejamento dos parisienses para o segundo semestre.

Imprensa francesa é crítica

Há uma grande decepção pelo que representa o Neymar ao PSG, e pelo que já provou que pode fazer. Mas o craque às vezes aparece sem inspiração. Ninguém pode duvidar do que ele é capaz".

Le Parisien

Neymar, o jogador mais caro do mundo, se torna o mais chato do mundo quando quer resolver tudo sozinho. Mas ele pode ser culpado por tudo isso? Quem além de Di Maria poderia ajudar ele contra o Manchester City?"

L'Équipe

O mais insuportável possível, Neymar queria fazer tudo sozinho. Na ausência de Kylian Mbappé, ele decidiu que o destino da partida mudaria apenas graças a ele."

France Football

FRANCK FIFE / AFP
Neymar reclama após levar segundo amarelo na partida contra o Lille

PSG "mima" Neymar para fazê-lo permanecer

Na tentativa de manter Neymar, o Paris Saint-Germain arma o elenco ao redor do brasileiro. As renovações recentes foram de dois de seus melhores amigos no elenco: Keylor Navas e Di Maria. A vinda do treinador argentino Mauricio Pochettino também foi pensada para que o brasileiro pudesse dialogar mais com o comandante do time.

O PSG ainda mostra esforços para trazer Lionel Messi para a próxima temporada. Mesmo que perca Mbappé, a vinda do craque argentino é vista como uma garantia de que a renovação de Neymar será assegurada.

O camisa 10 também hesita em assinar com o PSG por conta de um descontentamento com o futebol francês. Ele acredita que nos jogos da Ligue 1 é perseguido por muitos árbitros e se torna vítima do excesso de violência da marcação. Nesse ponto, o clube francês também tenta se mostrar ao lado do brasileiro: no último final de semana, o diretor de futebol, Leonardo, esperou o árbitro da partida entre PSG x Lens no túnel para reclamar de faltas não marcadas em Neymar.

"Não é possível que você não veja isso (faltas). Não é a primeira vez que você se comporta assim, e isso é um gesto de implicância de sua parte", gritou Leonardo com o árbitro. A atitude do dirigente agradou o entorno de Neymar nos bastidores.

A definição sobre a permanência, entretanto, pode não acontecer tão cedo. Nas próximas semanas, o PSG lutará para garantir a hegemonia no Campeonato Francês, e começar a preparação para um novo ataque ao tão sonhado título da Liga dos Campeões.

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