Brasil Tricolor

Censo da seleção olímpica mostra que não é só no técnico que Brasil aproveitou do São Paulo

Bruno Grossi e Danilo Lavieri Do UOL, em São Paulo e Armênia (Colômbia)

Até a convocação final para o Pré-Olímpico, que está sendo disputado na Colômbia, André Jardine convocou 56 jogadores para a seleção brasileira sub-23. E assim como no ano passado, com o time principal comandado por Tite, o UOL Esporte realizou um censo para traçar o perfil do jogador médio que está sendo formado no Brasil e que, em 2020, pode estar em Tóquio para defender o ouro olímpico pela primeira vez na história.

Mais da metade desses 56, por exemplo, estreou no profissional com 18 anos ou menos. O São Paulo é o clube dominante na formação desses atletas e também na hora de deixá-los estrear em casa. Essa influência do Tricolor Paulista passa, naturalmente, por Jardine, que de 2015 a 2019 trabalhou no clube do Morumbi.

O próprio comandante do time olímpico é o mais influente entre os técnicos. Há ainda seis treinadores europeus participando do lançamento dessas promessas e seis clubes do exterior que abriram as portas para os garotos jogarem pela primeira vez.

Essas e outras curiosidades, como a origem de talentos como Reinier, Rodrygo e Pedrinho, você confere abaixo.

Alexandre Loureiro/CBF Alexandre Loureiro/CBF

Mais da metade dos testados por Jardine estreou com 18 anos ou menos

O levantamento feito pelo UOL Esporte mostra uma tendência de estreias precoces. Dos 56 jogadores testados por André Jardine na seleção sub-23, 32 estrearam como profissionais em seus clubes com 18 anos ou menos.

O mais velho a jogar foi Lucas Perri, goleiro que atuou pela primeira vez no time principal do São Paulo no fim de 2019, aos 21 anos. O mais novo foi Yuri Alberto, pelo Santos, com 16 anos, superando em dias Rodrygo, também no Peixe, Martinelli, pelo Ituano, e Paulinho, pelo Vasco da Gama.

Assim como na seleção brasileira principal, é nítido como os defensores demoram mais para estrear, embora comecem a aparecer exceções como o lateral-direito Dodô, lançado pelo Coritiba e hoje no Shakhtar Donetsk, e o zagueiro Ibañez, lançado pelo Fluminense e hoje na Atalanta.

Ainda não estrearam os goleiros Lucão, do Vasco, e Daniel Fuzato, da Roma, que, aos 22 anos, poderá levar o posto de mais velho quando pisar no gramado pela primeira vez.

O mais importante não é trazer um jogador jovem para resolver o problema do time. É ajudar o jogador a ficar firme e depois ele resolver em campo. O técnico precisa ser um coautor, participar ativamente do momento de colocar. Se não acontecer no primeiro momento, tem que saber acolher e cuidar para lançar em um segundo. Isso acontece muito, aconteceu com o Bruno Guimarães.

Fernando Diniz, técnico do São Paulo, sobre o momento de estreia como profissional

Daniel Vorley/AGIF Daniel Vorley/AGIF

São Paulo é quem mais permite estreia das pratas da casa. Palmeiras decepciona

O São Paulo já havia mostrado forte influência na formação de jogadores para a seleção principal e fica ainda mais forte quando o nicho é o time sub-23. Sete atletas chamados por Jardine estrearam como profissionais no Tricolor Paulista: o goleiro Lucas Perri, os zagueiros Walce, Rodrigo e Lyanco, os meias Lucas Fernandes e Igor Gomes, e o atacante Antony.

O segundo lugar no pódio é compartilhado por Fluminense, Vasco e Santos, que permitiram as estreias de quatro atletas cada. Corinthians e Flamengo completam o Top 3 com três estreias cada. Comparado com os rivais paulistas, o Palmeiras fica bem abaixo, com apenas um jogador lançado: o atacante Artur, que pouco atuou pelo Verdão e recentemente foi vendido para o Red Bull Bragantino após seguidos empréstimos.

O estado com mais times que proporcionaram as estreias é São Paulo, seguido por Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. A decepção nesse quesito é Minas Gerais, com apenas dois atletas lançados — um por Cruzeiro e um por Atlético-MG —, atrás de Paraná e Santa Catarina. É interessante notar que seis jogadores estrearam no exterior: o goleiro Gabriel Brazão, o lateral-esquerdo Caio Henrique, o volante Allan, os meias Bruno Tabata e Mauro Júnior e o atacante Matheus Cunha.

A mesma migração daqui pra fora existe internamente. Nenhum jogador termina os primeiros anos no Ceará, na Bahia, no Pará ou na Paraíba. Esses jogadores são retirados de suas famílias e vem hegemonicamente para Sul e Sudeste, que é um erro. Você ceifa a oportunidade do jogador conviver com a própria família e isso pode afetar o emocional dos garotos.

Fernando Diniz, técnico do São Paulo, sobre o migração de talentos

Fabio Menotti/Divulgação

Palmeiras reage na formação de atletas, que tem Ponte e Ceará como "intrusos" no pódio

Se dá poucas chances para seus garotos estrearem no profissional, o Palmeiras pelo menos tem conseguido ser influente na formação dos atletas. Além de Artur, o clube criou os goleiros Daniel Fuzato e Anderson. Assim, compartilha a terceira posição desse ranking com Internacional, Ceará, Ponte Preta, Flamengo, Grêmio e Coritiba.

O São Paulo também lidera nesse quesito. Sua lista tem um jogador a mais do que nas estreias: o lateral-direito Emerson, que despontou na Ponte e hoje atua no Bétis em acordo com o Barcelona, passou o começo da carreira nas categorias de base em Cotia. A segunda colocação desse ranking tem, empatados com cinco jogadores formados, Fluminense, Corinthians, Santos e Vasco.

Na divisão por estados, São Paulo é soberano, novamente com Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul fechando o pódio. Minas Gerais sobe um pouco de nível, agora com participação na formação de quatro atletas — dois para o Galo e dois para o Cruzeiro. E apenas três atletas fizeram base no exterior: Allan no Liverpool, Caio Henrique no Atlético de Madri e Ricardo Graça, em breve empréstimo, no Vitória de Guimarães.

Vale ressaltar que o número de clubes de base é superior aos de estreia já que muitos jovens passam por mais de uma equipe ao longo de sua formação, caso de Emerson e Caio Henrique.

Diniz e Renato formam mais do que Tite para a seleção olímpica. Jardine lidera

No ranking de técnicos mais influentes, André Jardine é o único responsável pela estreia de três jogadores no profissional, todos eles pelo São Paulo: o zagueiro Rodrigo, o meia Igor Gomes e o atacante Antony. Ele também treinou esse trio na base, bem como os outros sete atletas que estrearam no Tricolor Paulista. Isso mostra a confiança em seus pupilos de Cotia.

Há nove técnicos empatados na segunda colocação, com duas estreias na conta. O grupo tem nomes como Cuca, Mano Menezes, Fernando Diniz, Renato Gaúcho e até o novato Elano, que vai treinar a Inter de Limeira neste Campeonato Paulista. Todos eles lançaram mais jogadores para a seleção olímpica do que Tite, por exemplo. O atual comandante da seleção principal só promoveu a estreia de um jogador: o volante Maycon, ex-Corinthians, atualmente no Shakhtar Donetsk.

Ao todo, seis estrangeiros foram responsáveis por escalar garotos do time sub-23 do Brasil pela primeira vez no profissional. Jorge Jesus, sensação no Flamengo, está na lista por lançar Reinier no mata-mata da Copa Libertadores da América do ano passado. O outro português da lista é Vitor Oliveira, que usou Bruno Tabata no Portimonense. Há representantes de Finlândia (Simo Valakari, com Allan no SJK), Holanda (Dennis Haar, com Mauro Júnior no PSV B), Itália (Paolo Tramezzani, com Matheus Cunha no Sion) e Espanha (Luis Ramis, com Gabriel Brazão no Albacete).

Eu vim de um projeto no São Paulo, que me favorecia por trabalhar com eles. Tive felicidade de lançar atletas como Igor Gomes, Rodrigo e Antony... Mas a verdade é que não interfere muito. É uma parcela pequena do grupo. São atletas que eu conheço bem

André Jardine, técnico da seleção sub-23, sobre os talentos que lançou no São Paulo

Brasileirão é o berço dos craques, que despontam sem hora marcada

Entre os jogadores da seleção brasileira principal, havia uma tendência de estreias no profissional no primeiro semestre, aproveitando a disputa de Estaduais ou do início do Campeonato Brasileiro. No time sub-23, não há essa dominância. Dos 54 que já estrearam, 30 tiveram essa oportunidade no primeiro semestre.

As estreias se espalham ao longo de uma temporada, com o Brasileirão ainda sendo palco da maioria das apostas dos técnicos. Mas é possível ver quem desponte em torneios mais tensos, como Reinier na Libertadores ou os atacantes Arthur Cabral e Malcom na Copa do Brasil.

A extinta Primeira Liga, atrás apenas do Brasileirão e do Campeonato Paulista, completa o pódio dos torneios.

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