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Tânia Maranhão teme que a CBF tire o incentivo ao futebol feminino

Tânia Maranhão fez história com a camisa da seleção brasileira feminina Imagem: Reprodução

Roberto Salim

colaboração para o UOL, em São Paulo

31/07/2021 04h00

Pouca gente no território brasileiro possui o conhecimento que ela tem do que acontece dentro e fora de um campo de futebol. Ela disputou quatro Olimpíadas, dois Mundiais, defendeu a seleção por 23 anos. E hoje, aos 46 anos, ainda atua profissionalmente, defendendo o Lusaca Nacional, de Camaçari, equipe que disputa o Campeonato Baiano. Seu nome é Tânia Maranhão e a zagueira sofreu como ninguém com a eliminação de Marta e companhia na disputa de pênaltis contra as canadenses nas quartas de final dos Jogos Olímpicos de Tóquio.

"Já é de noite, já se passaram várias horas desde a disputa do jogo e eu ainda não me conformei, não acreditei no que aconteceu", comentava inconformada a jogadora que foi capitã da seleção brasileira em vários torneios internacionais. "Desta vez, eu tinha certeza de que o sonho da medalha de ouro seria realizado".

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Por defender a seleção nacional desde os tempos em que jogava no Radar, Tânia Maranhão sempre sofreu com o pesadelo coletivo que se abate sobre o futebol feminino em nosso país: "Comecei na seleção aos 15 anos e o comentário era sempre o mesmo: se o Brasil não for bem na competição, pode ser que os clubes terminem com os times e os campeonatos acabem".

Um verdadeiro martírio, em que só o título olímpico ou o mundial poderiam por fim.

Algumas das muitas medalhas que Tânia Maranhão conquistou com a seleção brasileira feminina de futebol Imagem: Arquivo pessoal

"Tenho todas as medalhas dos Pan-Americanos que participei: todas de ouro, com exceção de uma prata no México, quando perdemos pro Canadá. No Mundial, tenho uma prata e um bronze. E na Olimpíada, duas pratas. Joguei quatro Olimpíadas e só não fiz a quinta porque já estava com 41 anos e não aceitei o convite do técnico Vadão."

Para Tânia e suas companheiras da época da seleção falta o ouro consagrador. Aquele resultado que não deixará nunca mais a CBF pensar em recuar no apoio ao futebol das mulheres.

"Por isso, quando acordei hoje cedo, foi como se eu fosse jogar também. Quando a Debinha perdeu aquele gol, eu chutei junto. Tentei evitar aquela bola canadense que bateu na trave. Não me controlo!"

Tânia Maranhão, a líder de sua época, ainda entra mentalmente no campo. Ainda pensa como se estivesse em Tóquio suando a camisa com Marta e Formiga.

"Sabe que aquela vitória na estreia contra a China, aqueles 5 a 0 me animaram, e ao mesmo tempo me preocuparam. Se eu estivesse no grupo, eu diria a elas para não se iludirem. Na Olimpíada, é jogo a jogo. Eu diria: não esperem que vai ser fácil. Nunca achem que haverá jogo fácil. Foco!"

Ela sabia que cada jogo era uma decisão de campeonato.

"A caminhada até o ouro é difícil. Mas quando a Bárbara pegou o pênalti contra as canadenses, eu pensei: agora vai. Mas fomos desclassificadas, a decepção é grande. Sinto como se eu estivesse junto com as meninas."

E agora as dúvidas rondam a cabeça de Tânia.

"Não se pode dizer mais, como na minha época, que não houve apoio dos dirigentes. Que não houve tempo para treino. O trabalho da Pia Sundhage também é bom, embora eu só ache que numa partida como a de hoje, uma jogadora como a Cristiane poderia decidir a nosso favor. Eu teria levado a nossa artilheira. Mas não é hora de meter o pau. Se eu estou assim triste, imagine o que as meninas que estão lá em Tóquio estão sentindo."

"E eu agora, além de triste, só tenho medo que a CBF pare com os investimentos, com o apoio, com o trabalho de base que está sendo muito bem feito. Será que eles vão parar?"

Tânia Maranhão, ex-jogadora da seleção brasileira de futebol Imagem: Reprodução/Arquivo pessoal

Se a CBF vai parar é difícil responder, mas uma coisa é certa: Tânia Maranhão, 46 anos, não vai sair de cena tão cedo.

"Vou agora disputar o campeonato baiano. Depois volto para Manaus para jogar pelo Iranduba ou por outra equipe amazonense. Depois..."

Depois ela tem uma proposta para jogar mais uma temporada e iniciar um grande projeto de futebol feminino em Juiz de Fora.

O segredo da juventude?

"Eu sou apaixonada por futebol."

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