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Campeão mundial não pode entrar nos EUA apesar de acordo de Bolsonaro

Gabriel Silva Costa, campeão de jiu-jitsu que foi convidado para treinar nos EUA, com tudo pago, mas teve o visto negado Imagem: Rafael Roncato/UOL

Paulo Sampaio

Colaboração especial para o UOL Esporte, em São Paulo

29/05/2019 04h00

Com pedido de visto recusado pelo consulado norte-americano em São Paulo, o campeão brasileiro de jiu-jitsu (peso médio, faixa roxa) de 2019, Gabriel Silva Costa, 21 anos, vai ficar fora do Campeonato Mundial da categoria, disputado entre 29 de maio e 2 de junho, em Long Beach, na Califórnia.

É a terceira vez que o consulado nega - com uma justificativa padronizada - o visto a Gabriel. O atleta foi convidado também para treinar em uma academia em Washington, cujo proprietário enviou uma carta assinada e timbrada ao órgão diplomático (abaixo). Seguiu junto aos documentos do atleta no pedido de visto. Por cada tentativa, pagou cerca de 140 dólares.

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"Não tem razão plausível para barrarem a entrada do Gabriel a não ser o descaso. Tudo leva a crer que nem leram a requisição do visto", diz o treinador do atleta, Luiz Guilherme Fernandes de Jesus, 45 anos, o Guigo. "Dos cerca de 1500 atletas que participam do mundial, mais de 250 são faixa roxa. E ele é o melhor de todos".

De lá pra cá

O caso de Gabriel acontece pouco mais de dois meses depois de o presidente Jair Bolsonaro dispensar os cidadãos dos Estados Unidos da necessidade de tirar visto para viajar ao Brasil. A medida foi publicada no dia 18 de março, em uma edição extra do Diário Oficial da União. A Embratur informou, na ocasião, que a medida era inédita.

"A isenção do visto de forma unilateral é um aceno que fazemos para países estratégicos no sentido de estreitar as nossas relações. Nada impede que essas nações isentem os brasileiros dessa burocracia num segundo momento", informou o ministério do Turismo, à época. A medida é extensiva a cidadãos de Japão, Canadá e Austrália.

Destino de campeão

Gabriel Silva Costa nasceu em Bacabal, cidade de 100 mil habitantes a 240 km de São Luís, no Maranhão, onde foi criado pela mãe, que é confeiteira, e o padrasto, funcionário público aposentado. Aos 12 anos, mudou-se com eles para a capital, onde passou a viver em um conjunto habitacional na periferia da cidade. "Um dia, meu padrasto decidiu fazer aulas de jiu-jitsu em uma academia que fica na esquina de casa, eu fui com ele para fazer a matrícula", conta.

Em vez do padrasto, quem começou a ter aulas foi Gabriel. E se encantou pelo esporte. Aos 17 anos, já havia se destacado a ponto de despertar o interesse de Guigo, que tem uma academia na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo, e coordena um projeto de incentivo a atletas promissores. "Em São Paulo, são 30 jovens. Mas a academia tem 50 filiais espalhadas pelo mundo. Treinamos mais de mil atletas", diz o técnico.

Carteira assinada

Desde que chegou a São Paulo, Gabriel treina no projeto, mora no alojamento para atletas e dá aulas na academia: "Há dois anos, ele é contratado de acordo com a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), com carteira assinada", explica Guigo. O fato de Gabriel de ter um emprego formal é mais um atestado de que não pretende trabalhar nos Estados Unidos.

Antes de sagrar-se campeão brasileiro pela CBJJ (Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu), Gabriel já havia levado o título mundial pela CBJJE (Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu Esportivo), que, diferentemente da CBJJ, é disputado apenas no Brasil. Competiu também na Suíça, Peru, Chile e em Abu-Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. Ganhou mais de 100 medalhas.

Primeiro do mundo

Como arte marcial, o jiu-jitsu tem origem japonesa. Mas foi a partir de sua "reinvenção" no Brasil que atraiu milhões de praticantes - amadores e profissionais - ao redor do mundo. "Somos o primeiro país no esporte", diz Guigo. "Pela quarta vez consecutiva, o campeonato brasileiro foi o que teve o maior número de inscritos, 7.600, de todos os lugares do mundo. Já faz algum tempo que o jiu-jitsu é muito procurado por atletas de EUA, Europa e Ásia."

Guigo e Gabriel explicam que, embora os primeiros colocados da CBJJE ganhem prêmio em dinheiro que chega a US$ 5 mil, uma vitória no CBJJ dá mais prestígio ao atleta (mas nenhum tostão). Nos EUA, a CBJJ é chamado de IBJJ (International Brazilian Jiu-Jitsu Federation).

Outro lado

A reportagem procurou a assessoria de imprensa do consulado geral norte-americano para tentar entender qual o critério adotado em um caso como o de Gabriel Silva Costa. Deixou recado duas vezes na secretária eletrônica, mas, até o fechamento do texto, não obteve resposta.

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