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Diniz contra, 'ajuda' de Ganso e saída forçada: bastidores de Nenê no Flu

Nenê deixou o Fluminense rumo ao Vasco após passagem marcada por altos, baixos e histórias nos bastidores Imagem: RICHARD CALLIS/ESTADÃO CONTEÚDO

Caio Blois

Do UOL, no Rio de Janeiro

15/09/2021 04h00

Com 118 jogos e 28 gols, a passagem de Nenê no Fluminense chegou ao fim após 792 dias e incontáveis histórias. Desde a chegada que demorou a acontecer até a saída praticamente anunciada, o meia de 40 anos colecionou momentos bons e ruins com a camisa tricolor. Principalmente nos bastidores.

Nas Laranjeiras e no CT Carlos Castilho, o camisa 77 dividiu opiniões entre comissões técnicas, dirigentes, companheiros, funcionários e principalmente torcedores.

Nem mesmo o 2020 mágico, com 20 gols, foi suficiente para fazer o jogador cair de verdade nas graças dos tricolores, seja por uma predileção a Paulo Henrique Ganso, seu amigo e concorrente na posição em todo o período no clube, ou mesmo por críticas ao futebol e à sua personalidade.

Assim como em outras oportunidades na carreira, insatisfeito, Nenê forçou sua saída, agora do Fluminense, para jogar no Vasco, seu ex-clube. O jogador assinou com a equipe de São Januário até dezembro de 2022

Chegada 'contrariou' Diniz e mostrou força de Celso Barros

Fernando Diniz assumiu o Fluminense no início de 2019. O elenco tinha muitas mudanças após um conturbado 2018, e os reforços contratados eram apostas, além de Ganso, pedido atendido do treinador pela direção. Quem também desejava jogar no Tricolor era Nenê, mas o São Paulo, mesmo com o jogador batendo o pé e forçando a saída, não concordou com a negociação.

Nenê e Fernando Diniz tinham boa relação, mas técnico não via necessidade do reforço no Fluminense Imagem: Lucas Merçon/Fluminense FC

A personalidade forte do veterano já chamava a atenção pela forma com que lidou com as tratativas diretamente com Celso Barros, que viria a ser vice-presidente do clube após a eleição de Mário Bittencourt, em junho.

Reforço ao estilo e agrado do ex-presidente da Unimed, a chegada de Nenê marcou a primeira queda de braço vencida pelo dirigente. Isso porque Diniz, que volta a comandar Nenê no Vasco, já não achava necessária sua chegada, opinião corroborada pelo diretor Paulo Angioni. Contrariado, o técnico — que era entusiasta de sua chegada em janeiro — não deu muitas chances ao jogador, que teve um 2019 melancólico.

'Ajuda' de Ganso por chances

Recebido com festa no aeroporto Santos Dumont e com um contrato de cinco anos com o Fluminense, Paulo Henrique Ganso não era só o camisa 10, mas a estrela do Tricolor e muitas vezes capitão da equipe no difícil 2019. Líder do elenco e titular absoluto com todos os treinadores que passaram, o jogador "ajudou" o amigo Nenê em seus primeiros meses no clube.

Nene e Ganso: camisa 10 'sugeriu' mais chances a concorrente, insatisfeito no Fluminense em 2019 Imagem: Mailson Santana/Fluminense FC

Após a saída de Diniz e a rápida passagem de Oswaldo de Oliveira, Ganso participou de uma reunião com outras lideranças do vestiário, o técnico Marcão, o presidente Mário Bittencourt, o diretor Paulo Angioni e algumas outras pessoas do clube. Sem a presença de Nenê, o camisa 10 defendeu mais chances para o veterano, que não escondia sua insatisfação com a reserva e tinha alguns atritos internos com a comissão técnica permanente do clube àquela altura.

O pedido foi acatado por Marcão, que passou a "revezar" Ganso e Nenê no time titular. Ao fim da competição, o objetivo de fugir do rebaixamento foi cumprido com antecedência com pouco auxílio do veterano, o suficiente, entretanto, para cessarem suas insistentes reclamações em treinamentos e no vestiário.

Gols, 2020 fulminante e liderança do elenco

Se o 2019 foi decepcionante, o ano de 2020 começou como um sonho para Nenê. Em trabalho conjunto, comissão técnica e departamento médico traçaram um plano especial com fisioterapia e fisiologia para uma pré-temporada mais longa para Paulo Henrique Ganso, que sofria com problemas físicos.

Nenê com Odair Hellmann: 2020 foi melhor ano do meia, que tinha ótima relação com técnico e virou líder do elenco Imagem: Lucas Merçon/Fluminense FC

Na ausência de Ganso, a "era Odair Hellmann" começou com o camisa 77 titular em um início fulminante: nove gols e duas assistências em 11 jogos. Referência do time, dono da vaga e em lua de mel com o novo treinador, com quem nutre ótima relação, Nenê enfim desabrochou no Tricolor. Ao todo, foram 20 gols e sete assistências na temporada, mas a postura fora de campo foi o que mais chamou a atenção.

Com moral pelas atuações, o meia tomou a frente das negociações junto a lideranças do elenco tanto para acordos com o clube durante a pandemia, mas também em posicionamentos externos, defendendo a posição do Fluminense contrária ao retorno do futebol. Internamente, ganhou prestígio principalmente com os mais jovens.

Relação com presidente e funcionários

O bom momento vivido pelo Fluminense e Nenê em 2020 fez o meia ocupar as manchetes. A #VovôTáON era sucesso nas redes sociais e transmissões, e o jogador se destacava pelo humor principalmente em sua relação com o presidente Mário Bittencourt.

O meme "Mário Bitcoins" viralizou na internet após contratações do Tricolor, e Nenê costumava aparecer sempre brincando com o dirigente, o que gerava críticas, principalmente de opositores. Nem sempre, inclusive, mesmo em boa fase, o jogador foi exaltado pelos torcedores, muito críticos ao seu futebol na maioria dos momentos.

Saída conturbada e decepção de dirigentes

Se parecia construir uma história bonita ao fim de sua carreira, que se deu em maior escala fora do país, Nenê saiu com certa decepção de dirigentes. Embora Mario Bittencourt tenha agradecido ao jogador em suas redes sociais, fato incomum, outros membros da cúpula de futebol se decepcionaram com a postura do meia em seu adeus — algo que já havia acontecido em Vasco e São Paulo.

A saída pareceu anunciada porque, no dialeto do futebol, Nenê "cavou" sua volta ao Vasco em meio à insatisfação pela reserva no Fluminense. O presidente, que bancou sua renovação com alarde no último ano, não gostou da forma com que o jogador levou a negociação, embora até compreendesse a vontade do jogador.

Fato é que o meia de 40 anos forçou a barra para voltar ao ex-clube. A diretoria tricolor tampouco gostou de saber da negociação "por trás" do rival, que mesmo na Série B, atraiu o atleta. O incômodo causado por pouco não modificou a decisão de emitir notas e homenagens amistosas a Nenê.

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