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Por que a dona da Bola de Ouro abriu mão de disputar Copa do Mundo feminina

Ada Hegerberg, jogadora do Lyon e vencedora da primeira Bola de Ouro feminina da história Imagem: Benoit Tessier/Reuters

Ana Carolina Silva

Do UOL, em São Paulo

19/04/2019 04h00

A Copa do Mundo de futebol feminino não terá uma das melhores atletas do planeta. Dona da primeira Bola de Ouro entregue pela France Football a uma mulher, Ada Hegerberg tem apenas 23 anos e já fez mais de 250 gols na carreira. Com o Lyon, conquistou as três últimas edições da Liga dos Campeões, e, em 2016, foi eleita pela Uefa como melhor jogadora da Europa.

O histórico impressiona, mas a norueguesa optou por não defender mais a seleção e não desfilará seu bom futebol no Mundial da França.

Quem viu a reação tímida de Ada ao ouvir uma pergunta sobre seu "rebolado" logo após ganhar a Bola de Ouro (veja abaixo) não imagina que a atleta é, na verdade, uma jovem mulher de personalidade forte e muito passional com as ideias que defende.

Filha dos treinadores Gerd e Erik e irmã de Andrine, que joga pelo PSG, ela cresceu em um lar que sempre valorizou a igualdade e foi incentivada pela mãe a usar a própria voz de forma positiva. Por isso, desde 2017, quando decidiu deixar a equipe da Noruega, Ada já se reuniu com a Federação Norueguesa de Futebol e colocou na mesa as demandas que, em sua visão, fariam o futebol feminino evoluir no país.

Ada Hegerberg divulga vídeo da infância como jogadora

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"O futebol é o maior esporte na Noruega para as mulheres e tem sido assim por anos, mas, ao mesmo tempo, as mulheres não têm as mesmas oportunidades que os homens. A Noruega tem um grande histórico no futebol feminino, mas é mais difícil agora. Nós paramos de falar sobre desenvolvimento e fomos superados por outros países", afirmou à CNN.

O fato de que Ada encontrou desigualdade de gênero em seu caminho pode ser chocante para alguns brasileiros. Afinal, estamos falando da Noruega, o país que anunciou um acordo em 2017 que iguala os salários das seleções masculina e feminina. A entidade que rege o futebol norueguês ofereceu um aumento às mulheres da equipe e propôs aos homens uma pequena redução salarial, que foi prontamente aceita.

Portanto, o que falta? "Nem tudo na vida é sobre dinheiro", respondeu ela. "Algumas boas mudanças seriam necessárias para eu considerar um retorno ao time. Não é questão de eu mudar de ideia ou não. A questão é que a federação e a seleção precisam evoluir, e há um longo caminho neste sentido", explicou em entrevista à rede NRK, da Noruega.

Personalidade forte: Ada exibe olho roxo em foto Imagem: reprodução/Instagram

Ada criticou os dirigentes da federação. Consequentemente, começaram a circular histórias sobre uma atleta supostamente "difícil" e "direta demais" na forma como conversava com as colegas de seleção.

"Se as pessoas têm um problema comigo ou minhas atitudes, espero que venham falar diretamente comigo, cara a cara. Ninguém fez isso", rebateu Ada, com firmeza, em entrevista ao jornal britânico Independent.

"Obviamente, eu adoraria jogar pelo meu país. Eu tenho sido muito crítica e direta com a federação sobre o que eu sentia que não estava bom o suficiente para a seleção e para a minha carreira", disse. "Eu sei o que quero, e conheço meus valores. Portanto, é fácil tomar decisões difíceis quando você sabe por quais valores vale a pena lutar. Sou verdadeira comigo mesma", completou.

Renunciar à seleção não parece ter sido tão fácil quanto Ada diz agora. Ao jornal Independent, ela já revelou ter perdido noites de sono antes de oficializar a decisão; só relaxou recentemente, ao entender que foi justa com seus próprios ideais. "É sobre preparação, atitudes, profissionalismo. São pontos bem claros que levantei diretamente para eles", declarou.

Ada e Andrine Hegerberg treinam com o pai, Erik Imagem: reprodução/Instagram

A vencedora da Bola de Ouro não desbancou Marta na premiação por acaso: a jovem atleta é extremamente competitiva e cresceu em um ambiente que estimulou esta personalidade. No recesso de janeiro de 2019, por exemplo, ela e Andrine treinaram intensamente em casa, na neve, e sob instruções do pai. Parece loucura, mas, para Ada, isto é "relaxar".

"Pai, você é a minha rocha. Por favor, permaneça em forma. Vou precisar dos seus cruzamentos para treinar por mais uns 10 anos", escreveu Ada ontem (18), no Instagram, para celebrar o aniversário do pai.

Ela já passou de 250 gols na carreira e estipulou uma meta pessoal de marcar pelo menos 50 por temporada. Se mantiver este ritmo, chegará facilmente aos 300 gols até o fim de 2019, quando terá 24 anos de idade. "Será um desafio manter esta média, mas é preciso encontrar soluções quando as coisas são desafiantes", disse, tranquila, à CNN.

"Eu estou animada para trabalhar em cima de cada detalhe e permanecer no topo pelo maior tempo que puder. (...) Estou focada em jogar 100% do meu melhor futebol pelo Lyon. É claro que tenho ambições mesmo sem jogar pela seleção", acrescentou. O clube a ajuda muito neste sentido: das 14 atletas que concorreram com Ada pela Bola de Ouro, seis são colegas de time.

Ada Hegerberg conquistou as três últimas edições da Liga dos Campeões feminina pelo Lyon Imagem: Mike Egerton/EMPICS/PA Images via Getty Images

Não é difícil concluir que o Lyon é referência. "O que é ótimo sobre o Lyon é que nós somos um grupo muito competitivo, mas nos conhecemos muito bem. Então o que acontece em campo permanece no campo", explicou Ada. Martin Sjogren, técnico da Noruega, deixou claro à AFP que gostaria de tê-la no elenco, mas é tão objetivo quanto ela:

"Torço para que Ada mude de ideia e que possa ser parte da seleção da Noruega no futuro. Porém, como treinador de uma seleção, você sempre quer ter os melhores atletas à disposição, mas não pode focar nos que não querem fazer parte da equipe".

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Copa do Mundo Feminina - 2019