Reforço de R$ 440 mi enfim brilha, mas risco de "mico" ainda assombra Barça
DO UOL, em São Paulo
10/05/2018 04h00
Um reforço que custou 105 milhões de euros (cerca de R$ 440 milhões, em valores atuais), em teoria, é contratado para resolver problemas imediatos de um clube. Porém, não foi o que aconteceu com o atacante Ousmane Dembélé, que encerra em 10 dias a primeira temporada no novo clube deixando mais incertezas do que entusiasmo para a sequência de sua carreira no time. A partir de agosto, quando voltar de férias, ele terá a missão de provar que o Barcelona não errou ao apostar alto em seu futebol e afastar a sombra que o acompanhou neste primeiro ano: será que sua contratação virou um mico?
Neste período, Dembelé conviveu com lesões que o afastaram ao todo por quatro meses do time, mas quando saudável pouco contribuiu em campo. Foram 21 jogos na temporada, grande parte deles entrando apenas no segundo tempo, e apenas quatro gols, dois deles na última quarta-feira na goleada por 5 a 1 sobre o Villarreal. A melhor atuação do jogador de 20 anos com a camisa do Barça serve de alento, mas não deixa o Barcelona confortável com uma contratação que ganhou a fama de supervalorizada, ainda mais diante de sua ausência - física ou de futebol - em momentos importantes e decisivos.
No último domingo, por exemplo, Dembelé passou o clássico contra o Real Madrid 90 minutos no banco de reservas, o que é simbólico para uma temporada em que pouco foi lembrado por Ernesto Valverde. Na final da Copa do Rei e no duelo que marcou a eliminação na Liga dos Campeões, contra a Roma, o atacante só entrou no segundo tempo, e não se destacou.
Fora de campo, Dembelé também enfrentou polêmicas. Segundo a rádio “Cadena Ser”, a difícil adaptação também tem como justificativa o estilo de vida: o jovem de 20 anos seria apaixonado por comidas de fast food e costuma aproveitar bastante a badalada noite da cidade de Barcelona.
”Dembélé é uma aposta para o futuro. Quando um jogador chega ao Barça é porque Valverde o quer. Eles são jogadores que sempre podem jogar ", disse Bartomeu em entrevista à emissora “RMC”.
De fato, uma temporada irregular não pode ser definitiva para analisar um jovem que interessava dez de dez grandes clubes europeus. Em contraponto, depois do início de carreira profissional no Nantes, Dembelé acumulou apenas um ano de Borussia Dortmund para ir de promessa a segundo jogador mais caro da história do Barcelona, atrás apenas de Philippe Coutinho. O alto valor pago pelo Barcelona colocou uma grande pressão nos ombros do jovem jogador e do próprio clube. Afinal, as expectativas são muito maiores quando se gasta 105 milhões de euros em um jogador.
O prestígio de Dembelé pode ter sido arranhado nesta sua primeira temporada na Espanha, mas o potencial de se transformar em um craque segue intacto. Não à toa, ao ouvir de um repórter que o meia-atacante poderia ser emprestado pelo Barcelona para ganhar experiência, o técnico do Liverpool, Jurgen Klopp, logo se animou. “Oh, ele está no mercado? Então agora eu estou interessado!”, brincou Klopp.
Ainda neste sentido, depois de meses de uma postura mais crítica a imprensa espanhola enfim se derreteu por uma atuação de Dembelé, classificando a de quarta-feira, contra o Villarreal, como a melhor desde a sua chegada, mas sem esquecer da ponderação. Além de marcar dois gols, ele deu assistência para outro e fez boas jogadas individuais.
"O jogador mais misterioso do Barcelona", disse o jornal "Sport", que analisa Dembelé como um jogador imprevisível tanto para os rivais como os companheiros. “É um jogador que precisa de liberdade para cometer erros. E desordem para expressar seu melhor futebol", completou.
A médio prazo,é improvável que o Barcelona se desfaça de um jogador de 105 milhões de euros. Até porque, hoje, o prejuízo seria enorme. Mesmo por empréstimo, a saída de Dembelé seria encarada como uma admissão do clube catalão de que o preço pago por um jogador que ainda dá seus primeiros passos na carreira foi supervalorizado.
Nova política sob xeque
Um possível fracasso de Dembelé a longo prazo no Barcelona também significaria um duro golpe na nova política do clube no mercado. Antes econômico nas aquisições, o clube catalão optou por colocar a mão no bolso nas últimas janelas de transferência. Gastou 312 milhões de euros para formar o time da atual temporada e já planeja novas investidas, principalmente para contratar o atacante Antoine Griezmann.
Tal mudança levou o clube a viver uma situação inusitada neste Campeonato Espanhol. No dia 17 de abril, o Barcelona enfrentou o Celta de Vigo com uma equipe titular sem nenhum jogador formado na base. Pouco mais de cinco anos antes, em 25 de novembro de 2012, 11 jogadores com formação em La Masia estavam em campo no duelo contra o Levante. Uma reviravolta que explica em parte os 105 milhões de euros pagos por Dembelé.