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Sete legados de Blatter no comando da Fifa

Do UOL, no Rio de Janeiro

02/06/2015 16h50

Após 17 anos no comando da Fifa, Joseph Blatter abriu mão da presidência do cargo de presidente da entidade que comanda o futebol mundial nesta terça-feira. O suíço de 79 anos viveu tempos intensos na organização. Pupilo de João Havelange, o cartola iniciou trajetória na organização em 1975.

BLATTER DÁ FORÇA À ÁFRICA, ÁSIA E AMÉRICA LATINA

Imagem: Laurence Griffiths/Getty Images

Ásia, África e América Latina sempre foram os alvos de Blatter, que mostrou poder de convencimento para ter um apoio quase cego da elite do futebol desses países. Tal lealdade determinou vitórias fundamentais para que o cartola sobrevivesse a escândalos que o balançaram no cargo. A atenção dada pelo dirigente a federações até então esquecidas o transformou em uma espécie de “salvador” em diversos lugares.

Iniciativas como Programa Gol de Desenvolvimento da Fifa levam dinheiro do mundo do futebol a países subdesenvolvidos. Na África, o seu papel era visto como fundamental. “Ele sente a África, ele vê a África e nos incluiu em diversos programas de desenvolvimento”, afirmou Amaju Pinnick, presidente da Federação Nigeriana de Futebol, antes da eleição de Blatter em 2015.

A Copa do Mundo da África do Sul, em 2010, no Brasil, em 2014, e no Qatar, em 2022, mostram que estar ao lado de Blatter gerava recompensas importantes.

RODÍZIO DE PAÍSES ABRE ESPAÇO PARA PAÍSES

Imagem: Xinhua/Lui Siu Wai

Adotado em 2000, o rodízio de continentes na organização das Copas do Mundo serviu como uma espécie de alavanca para os grandes eventos da Fifa pudessem chegar a locais ainda inexplorados. África do Sul e Brasil receberam as últimas edições do Mundial, mas Blatter teve que voltar atrás após receber forte pressão – política e financeira.

Os poucos concorrentes nas disputas – o Brasil, por exemplo, não teve adversário para sediar a Copa-2014 – pesavam contra. Uma briga maior entre países seria mais interessante e rentável para atrair publicidade. A Uefa também brigou para garantir mais espaço, com a proposta de um modelo rodízio com um mundial no continente e outro fora.

FORTE REJEIÇÃO DOS EUROPEUS

Imagem: AFP

Os europeus nunca estiveram entre as prioridades de Blatter. O suíço se relacionou bem com os diversos blocos durante o seu mandado, mas a Uefa sempre esteve em um plano diferente. Mandachuva da organização que comanda o futebol europeu, o ex-jogador francês Michel Platini usou a veia política para bater e assoprar em Blatter em momentos distintos. Platini bateu quando vislumbrava a possibilidade de suceder o mandatário na Fifa.

Assoprou quando via a chance de ser escolhido como o seu queridinho para assumir o poder. O francês viu a segunda opção escapar em 2015, quando Blatter desistiu de se aposentar e confirmou presença no pleito. Oposição, Platini pediu sua renúncia após o agora rival ter sido confirmado no cargo mesmo com forte rejeição dos europeus.

MANCHAS POR CASOS DE CORRUPÇÃO

Imagem: Antonio Scorza/AFP

Sucessor de João Havelange, Blatter chegou ao poder em 1998. O cartola foi eleito presidente da Fifa após superar o rival sueco Lennart Johansson. O pleito foi cercado de dúvidas e acusações sobre compra de votos. Uma reportagem do jornal inglês The Guardian, de março de 1999, afirma que vinte líderes no mundo do futebol aceitaram receber suborno de US$ 50 mil – totalizando um valor de US$ 1 milhão. O dirigente sempre negou a propina, sob alegação de "ajuda ao desenvolvimento". Johansson pediu que o pleito fosse investigado, mas não houve resposta das autoridades.

Um escândalo de enormes proporções sacudiu a Fifa até 2013, quando Joseph Blatter foi considerado inocente no caso de corrupção envolvendo a ISL, empresa de marketing parceira da entidade e que declarou falência em 2011. Documento do Comitê de Ética da Fifa livrou o presidente, mas não deixou de citar atitudes “infelizes” do cartola.

Personagens de altos escalões do organismo – entre eles João Havelange e Ricardo Teixeira – receberam subornos entre 1992 e 2000 em troca de apoio para que a ISL garantisse direito de transmissão das Copas do Mundo. A postura de Blatter por não agir para acabar com o que ele classificava como “comissões” foi apontada pelo Comitê como “equivocada”.

COPA INÉDITA REALIZADA EM DOIS PAÍSES

Imagem: AFP PHOTO / JUNG YEON-JE ORG

A Copa do Mundo de 2002, conquistada pelo Brasil, foi realizada simultaneamente no Japão e na Coreia do Sul. O primeiro Mundial do século 21 foi também a primeira Copa sediada na Ásia e a primeira realizada em conjunto por dois países. Uma vitória para Blatter, que conseguiu unir nações com rivalidades históricas em torno do futebol. Os dois países Investiram bilhões de dólares para construir e reformar os 20 estádios que receberam jogos do torneio.

FUTEBOL FEMININO ENGATINHA

Imagem: EVARISTO SA/AFP

Defensor do futebol feminino, Blatter disse ser um padrinho das meninas que buscavam maior espaço no futebol. O dirigente afirmava estar atento ao anseio das mulheres desde que chegou ao cargo, mas sempre houve diversas reclamações a respeito da importância dada pela entidade. O cartola destacava ainda que cabia ao futebol feminino mostrar que podia ter mercado, ou seja, gerar dinheiro.

Blatter criou polêmica sobre o assunto, quando afirmou as mulheres deveriam usar “calções justos” para chamar a atenção do público masculino.

GOLPE FATAL DÁ ESPERANÇA DE MUDANÇAS

Imagem: REUTERS/Ruben Sprich

Sem peso como outros países de tradição do futebol, foram os Estados Unidos que conseguiram dar o golpe fatal em Joseph Blatter. A ação que prendeu sete altos dirigentes da Fifa – entre eles José Maria Marin – foi resultado de uma investigação permitida pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos e executada pelo FBI. 

Cercada de suspeitas de corrupção, a escolha do Qatar como sede da Copa do Mundo de 2022, foi o estopim para os EUA buscarem explicações. Isso porque os norte-americanos foram derrotados no pleito. Segundo o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, as investigações vão desde 1991. A procura por negociatas ganhou ainda mais força em 2010, após a definição do Qatar como destino do Mundial.

A renúncia de Blatter dá fôlego à investigação e levanta esperança de que uma renovação em larga escala aconteça no futebol mundial.

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