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Ele foi injustiçado, usou drogas e teve até desejo de matar por vingança

Goleiro Nasser, em 1998, quando jogava na Portuguesa Santista Imagem: Folhapress

José Ricardo Leite e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

09/05/2014 06h00

Ele foi acusado de fraudar um resultado em um jogo da Portuguesa e viu seu nome ser queimado no futebol. Sua carreira praticamente acabou por isso. Acabou entrando em depressão e se afundou nas drogas. Pensou até em fazer justiça com as próprias mãos contra aqueles que acusa de tê-lo prejudicado.

Se você pensa que o caso em questão é sobre o meia Héverton, se enganou. Se trata de Nasser, goleiro que defendeu o time do Canindé na década de 90, mas que depois vivenciou enorme polêmica em um jogo contra sua ex-equipe e uma tentativa de voltar a atuar no clube. Virou manchete e não entendia o porquê.

Há 16 anos, Nasser Dantas Khalil ganhou destaque no noticiário esportivo por supostamente ter facilitado a vida da Portuguesa em um duelo contra a Portuguesa Santista, time no qual defendia, em um jogo do Campeonato Paulista de 1998. O resultado final da partida foi de 4 a 4.

O empate classificava a equipe da capital para a fase seguinte, enquanto o time do litoral, com o resultado, foi disputar um quadrangular contra o rebaixamento. A partida ficou conhecida como “jogo do suborno”, mas nunca foi provado nada sobre Nasser ter facilitado para levar quatro gols para ajudar o ex-clube.

A suposta fraude começou a ser ventilada depois que as contas internas do clube não fecharam e que um valor de R$ 130 mil não constava mais no caixa. Investigações do Conselho de Orientação Fiscal do clube constataram desvio desse dinheiro. A suspeita foi que cartolas justificaram o uso dessa verba para “comprar” Nasser naquela partida.

De acordo com reportagem da "Folha de S.Paulo", o relatório do conselho, feito dezembro de 1998, inocentou o goleiro e apontava, de forma não conclusiva, que o então vice de futebol da Lusa (e hoje atual presidente), Ilidio Lico, o diretor de futebol, Camões Salazar, e o empresário Toninho Silva teriam sido os responsáveis pelo sumiço do dinheiro.

Nunca houve prova de que o dinheiro chegou a todos eles, e o caso acabou arquivado na Justiça. Hoje, Nasser apenas lamenta a proporção que o caso tomou na época e as consequências da imagem arranhada até que o desfecho fosse divulgado.

“Ninguém da Portuguesa nunca me procurou, isso foi provado na Justiça. Esse ocorrido praticamente acabou com a minha carreira. Passei por maus bocados. Quem ficou fodido nisso tudo foi eu. Acabaram com a minha carreira”, resumiu Nasser em entrevista ao UOL Esporte.

O imbróglio teve uma sequência: meses depois do jogo entre as duas Lusas, Nasser foi chamado por Lico para uma negociação para ser contratado pelo time. Mas a conversa acabou sendo uma cobrança do dirigente para esclarecer se ele tinha mesmo recebido o dinheiro. Nasser diz que Lico então percebeu que ele não sabia de nada e que a negociação para sua volta ao Canindé ganhava ares de tensão. Depois de cinco dias, ele assinou um contrato de oito meses, mas sem saber do real motivo que estava sendo procurado.

A contratação e o pagamento tinha mais cara de um “cala a boca” para que o arqueiro não abrisse o bico sobre tudo o que ocorrera, vide que ele diz ter sido obrigado a rescindir o contrato e sem nunca ter se apresentado. Nasser recebeu cerca de R$ 80 mil da Portuguesa pela rescisão.

“Tive que aceitar o dinheiro (da rescisão) por estar todo endividado. Eu não cheguei nem a me apresentar, e depois disso minha vida virou um inferno. Meu pai me ligou dos Estados Unidos e perguntou ´filho, é verdade que você aceitou suborno? Se sim, vou te matar´. Imagina ouvir do seu próprio pai que ele quer te matar por uma coisa que você é inocente?”, desabafou.

O goleiro diz que depois do episódio, era mal visto a ponto de ninguém querer contratá-lo mais. Pediu para treinar no Gama-DF, clube no qual havia sido revelado, mas teve as portas fechadas. Teve passagens rápidas por Itumbiara e Anápolis, de Goiás e Brasília-DF, respectivamente, todos por intermédio de amigos que o conheciam. Ficou parado por quase três anos e diz ter sofrido depressão e abusado de drogas.

“Na época tive depressão e usei muita droga. Foram muitas noites sem dormir, muita cachaça.  Usei cocaína, crack e merla. Se existe um lugar mais fundo do que o poço, eu estava lá. Fiquei quatro meses deprimido, perdi 15 kg. Minha mãe foi parar no hospital quatro vezes por conta disso. Sabe o que é próprio clube que o revelou te bater a porta na cara?. Tive até meus neurônios e memória afetadas de tanta droga que usei”, relatou.

Nasser conta que ficou com muita raiva de Lico, Camões Salazar (diretor de futebol na época), Amilcar Casado (presidente da Portuguesa na época) e do empresário Toninho Silva. Culpa todos pela vida tensa que passou a viver. E admite que chegou a sair com capangas na “caça” do quarteto por uma vingança por terem arruinado sua carreira.

“Só passava pela minha cabeça de ir lá matar os caras. Entrei várias vezes dentro do meu carro com quatro, cinco maus elementos para fazer o serviço. Isso eu não nego, pois além de acabar com a minha carreira, acabaram com a minha vida”, falou.

Nasser é atualmente preparador de goleiros do Horizonte, do Ceará. Chegou a vender peixe por alguns anos ao ter a ideia de fazer sua paixão por pescaria virar um trabalho. Mas retornou ao futebol por convite dos amigos.

O UOL Esporte procurou Camões Salazar, mas não conseguiu entrar em contato. Toninho Silva e Amilcar Casado foram contatados pela reportagem, mas não quiseram comentar o assunto. Ilidio Lico deu breve declaração.

“Não vou falar disso, 15 anos depois, nem sei onde ele está. Eu chamei ele pra descobrir o que aconteceu, mas vi que ele não tinha nada com isso e foi vítima de pessoas mal intencionadas. Quem errou foi o diretor e o empresário, que armaram tudo isso”, se defendeu Ilidio Lico.

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