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Paulo André pede que mais atletas "aumentem volume" contra cartolas

Capitão ocasional do Corinthians, Paulo André pede que mais atletas se levantem contra o atual sistema Imagem: Daniel Augusto Jr./Ag. Corinthians

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

13/09/2013 06h00

Em uma coluna publicada no último domingo no jornal O Estado de S. Paulo, Paulo André pediu “reforma política esportiva já”. Para que a ideia saia do papel, o zagueiro do Corinthians pede companhia. Em entrevista exclusiva, o jogador fala sobre o processo de eleição para a presidência da CBF e diz crer que o barulho dos colegas de profissão é o que pode mudar o cenário atual da cartolagem.

“Acredito que esse tipo de crítica e proposta deve ampliar o volume. Eu falo, o Alex [meia do Coritiba] falou, o [Paulo, ex-técnico do São Paulo] Autuori, o Rogério [Ceni]. Quanto mais gente falar, mais volume vai ter. Quando ganhar peso as coisas podem mudar. Antes disso é difícil”, diz o zagueiro.

O histórico de Paulo André com o assunto é extenso. Em agosto de 2011, quando ainda era reserva do Corinthians, ele sugeriu, em entrevista ao UOL Esporte, que a saída de Ricardo Teixeira da CBF seria benvinda. Desde então, o zagueiro ganhou espaço e títulos em campo, escreveu um livro, pintou quadros e segue se destacando pela postura fora de campo.

Há duas semanas, ele ganhou as manchetes por questionar José Maria Marin, presidente da CBF, sobre o atual cenário do futebol brasileiro em um debate. Foi chamado de “intelectual” pelo cartola e ganhou mais espaço para expor suas ideias.

No texto publicado há uma semana, Paulo André pede, entre outras coisas, que o modelo de eleição da CBF seja modificado. Hoje, só federações estaduais (27) e os clubes da primeira divisão (20) podem participar do pleito. Para o zagueiro, o cenário deveria ser modificado para que o sistema não fique preso nas mãos dos mesmos personagens de sempre. Defender tudo isso estando em atividade, porém, é um problema a mais. 

“Me preocupo muito em não expor ou prejudicar o Corinthians. Estou falando em meu nome, mas sei que represento o Corinthians. Eu nunca expus o Corinthians de forma negativa ou delicada, e espero continuar assim, porque acima de tudo sou atleta profissional do Corinthians. Minha primeira defesa é meu salário e minha profissão”, disse ele.

Confira, a seguir, a entrevista na íntegra:

UOL Esporte: Como foi a repercussão do seu texto do último domingo?
Paulo André:
A repercussão está sendo boa. As pessoas que me procuraram elogiaram a coragem, a clareza das ideias. É uma posição propositiva, construtiva, de não só criticar, mas indicar situações.

UOL Esporte: Você deu algumas sugestões, mas como fazer para que elas sejam discutidas na eleição da CBF, por exemplo?
Paulo André:
Eu falo no texto que o candidato que for contra esse modelo está fadado ao fracasso. O primeiro passo é limitar o número de reeleições, que é o que pede, por exemplo, a MP  620, que está sendo votada na Câmara hoje*. No caso, a CBF não utiliza verbas públicas, então ainda não teria essa mudança no estatuto. Seria um passo importante para mostrar que o modelo está mudando. E aí a CBF daria um passo em caminhar nesse sentido. Acredito que esse tipo de crítica e proposta deve ampliar o volume. Eu falo, o Alex [meia do Coritiba] falou, o [Paulo, ex-técnico do São Paulo] Autuori, o Rogério [Ceni]. Quanto mais gente falar, mais volume vai ter. Quando ganhar peso as coisas podem mudar. Antes disso é difícil.
 

Nota da Redação: A entrevista foi concedida na última terça, dia da aprovação da MP 620 na Câmara. O projeto teve a participação da Associação Atletas pelo Brasil, presidida pela ex-jogadora de vôlei Ana Moser e que tem o próprio Paulo André entre seus membros.

UOL Esporte: Você acha que a MP 620 pode resolver todos os problemas da gestão esportiva hoje?
Paulo André:
É difícil, porque tem uma bancada da bola pesada em Brasília, que acaba barrando propostas interessantes. A participação dos atletas nos conselhos técnicos das competições é fundamental, limitar número de gestões também é fundamental para trocar ideias e poderes. Transparência é fundamental, para que se saiba de todos os números gerados. Isso é benéfico. Exemplo disso é CPB [Comitê Paralímpico Brasileiro], cujo estatuto já é nesses moldes e é a confederação que mais cresce.

UOL Esporte: Como você acompanha os problemas de gestão que existem em outros esportes?
Paulo André:
Eu acompanho muito mais via imprensa, até porque não tenho muito tempo. Sou um dos associados da Atletas pelo Brasil. O assunto me interessa por ser um apaixonado por esporte, principalmente por entender que é uma ferramenta de educação.

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É difícil falar porque não conheço a proposta do Andrés, muito menos a do Marco Polo del Nero [provável candidato da situação]. Vamos discutir ideias, assumir compromissos. Isso é de interesse público, movimenta milhões de pessoas

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Paulo André, sobre possível apoio a Andrés na eleição da CBF em 2014

UOL Esporte: Voltando à eleição da CBF. Você acha que o Andrés Sanchez, que aparece como o principal nome de oposição à administração atual, é a melhor opção?
Paulo André:
É difícil falar porque não conheço a proposta do Andrés, muito menos a do Marco Polo del Nero [provável candidato da situação]. Vamos discutir ideias, assumir compromissos. Isso é de interesse público, movimenta milhões de pessoas. Por mais que os votos não sejam dados da forma democrática, mas o resultado final é público. Essas discussões seriam legais, bacanas, para podermos dizer: ‘Eu prefiro o modelo do candidato x ou y’. Sem discutir modelo, como vou ficar do lado de alguém?

UOL Esporte: Você acha que o Corinthians te apoiaria nisso?
Paulo André:
Tudo que eu falo e faço é de acordo com meus ideais e as coisas que eu acredito. Me preocupo muito em não expor ou prejudicar o Corinthians. Estou falando em meu nome, mas sei que represento o Corinthians. Talvez por isso que eles aceitem e me respeitem e às vezes me elogiem. Eu nunca expus o Corinthians de forma negativa ou delicada, e espero continuar assim, porque acima de tudo sou atleta profissional do Corinthians. Minha primeira defesa é meu salário e minha profissão. Depois vem os ideais.

UOL Esporte: Mas você já discutiu sobre essas questões internamente no clube? Sabe se o Corinthians, ou algum dirigente do clube, o apoiaria em uma briga política por reforma esportiva?
Paulo André:
Eu não sei a resposta. Nunca falei de política com o Mário Gobbi. Acima do Edu [Gaspar, gerente de futebol], o Duilio [Monteiro Alves, diretor-adjunto de futebol] e o Roberto [de Andrade, diretor de futebol] também me elogiaram pessoalmente. Eu falo como Paulo André. Não represento o Corinthians nessas questões. O Corinthians é muito grande, tem de pensar no todo, não em uma ação pontual. É muito mais delicada a posição do clube e é por isso que tenho de respeitar e tomar cuidado, porque não quero prejudicar o clube. Não posso apontar dedos. Não posso criticar abertamente, tenho de ser muito correto porque sou um dos que representam o clube.

UOL Esporte: Você apoia a iniciativa lançada pelo Andrés semana passada, que questionou a atual administração da Conmebol em um encontro no Parque São Jorge?
Paulo André:
Eu sou a favor de todo debate para que se melhore qualquer tipo de modelo. Acho interessante o movimento proposto, não sei se foi pelo Andrés ou por mais gente, não conheço todo mundo que estava lá. Acredito que esse movimento é necessário e precisa de um volume maior. Precisa da adesão de clubes brasileiros de expressão. É notório e público que as competições sul-americanas não são rentáveis como me parece que poderiam ser. Que todos os clubes acreditem no projeto, desde que concordem com ele, que se aumente o volume, e que se possa criar estrutura suficiente. Essa é a minha posição. Espero que mais clubes possam aderir, porque parece ser benéfico.

UOL Esporte: Quando mudou a estrutura do Clube dos 13, o Andrés passou por cima do estatuto da entidade. Dessa vez, pode fazer o mesmo com a Conmebol. O que você dessa quebra de regras para que um objetivo maior seja alcançado?
Paulo André:
No caso do estatuto da CBF, por ser uma entidade privada, não tem como alterá-lo dessa forma. Como faz para que todos, federações, clubes e atletas, trabalhem juntos sem que um atrapalhe o outro, que é o que acontece hoje? Se ninguém chegar na presidência e perceber que pode mudar isso de dentro, uma liga parece ser a solução. Mas do que depende isso? Da união dos clubes. Isso é tão difícil quanto alguém mudar isso pela CBF. Me parece que alguém precisa desenvolver um produto que mostre que é mais rentável. Mas quem é essa pessoa eu não sei.

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Os estrangeiros em geral são mais politizados, como o próprio D'Alessandro, o Seedorf. Tem um pessoal um pouco mais velho que está realmente interessado em fazer um movimento legal.

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Sobre possíveis parceiros na briga por uma reforma política esportiva

UOL Esporte: No seu texto, você cita Alex, Raí, Paulo Autuori e Dorival Júnior como exemplos de pessoas que também questionam o sistema atual. Tem mais gente no futebol com capacidade para fazer isso?
Paulo André:
Eu tenho um sentimento, quase uma constatação, de que quase a maioria das pessoas tem a mesma leitura e gostaria da mesma coisa, só que tem dificuldade de falar e se posicionar. Vejo alguns jogadores como Juninho pernambucano, que também já deu entrevistas nesse sentido. No Inter temos gente assim. Os estrangeiros em geral são mais politizados, como o próprio D’Alessandro, o Seedorf. Tem um pessoal um pouco mais velho que está realmente interessado em fazer um movimento legal. Estamos agregando gente, mas ainda é pouco. A partir do momento em que se possa fazer um movimento estruturado, essas pessoas que talvez não tenham tanta coragem vão poder aderir.

UOL Esporte: No seu clube, o Corinthians, você vê mais gente disposta a caminhar nesse sentido?
Paulo André:
Vejo. O Alessandro é um deles. Publicamente ele não se expõe muito, mas internamente ele troca ideias e ajuda a repassar coisas interessantes. Acho que é um pouco cultural do brasileiro. As pessoas falam: ‘Paulo, se você conseguir isso vai ser meu ídolo’. Pessoas aqui dentro mesmo, mas ao mesmo tempo falam que é ‘tão difícil’. O Júlio César me disse isso: ‘Você está tentando isso desde 2009, se conseguir eu vou te respeitar’. Ainda brinquei: ‘Que bom que você vai me respeitar só depois disso, Júlio’ [risos]. É a cultura do brasileiro. Por que vou perder meu tempo? Exatamente por isso, os que tentam, sofrem e batalham anos. Mas quem vai fazer? Eu assumo uma responsabilidade maior. Recebo críticas para caramba por não falar de futebol. Se não corresponder em campo, vão falar que estou distraído. É extremista e chega a ser ignorante. Antes de dormir eu penso, o que eu posso deixar de melhor? Acho que é um pouco disso que o país inteiro precisa.

UOL Esporte: Você acredita que pode ser prejudicado pelas posições que assume?
Paulo André:
Eu acho muito difícil. Essa é minha ingenuidade. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Estou simplesmente propondo uma coisa que parece melhor. Não tem problema nenhum fazer isso e viver em uma democracia.

UOL Esporte: Como os jogadores podem ser mais participativos nesse processo político?
Paulo André:
Eu acho que os jogadores devem ter um posto nos conselhos técnicos das competições e das entidades. Porque eles são parte atuante do modelo e do espetáculo como um todo. Não só os jogadores como os treinadores, executivos, preparadores. Precisa criar algum mecanismo. Não tenho o modelo ideal ainda, mas a gente tem de pleitear o direito de participar.

UOL Esporte: Você cogita a ideia de alguma comissão de jogadores para sentar com os candidatos à presidente da CBF no ano que vem?
Paulo André:
No momento é difícil prever. Isso nunca aconteceu antes. Pelo estatuto atual a nossa opinião pouco importa. A vida deles não vai mudar porque a gente pensa a, b ou c. Se a gente conseguir ter volume e peso, eles vão ser obrigados a escutar a gente. Antes disso, como a gente vai pedir para conversar? A ideia é que um dia a gente tenha direito a voto, mas para isso precisa ter uma entidade organizada. Vai demorar algum tempo.

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