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Valdir de Moraes pede trabalho e vive dias de comentarista na frente da TV

Valdir Joaquim de Moraes, ex-goleiro do Palmeiras, entrega placa a Marcos Imagem: Fabio Braga/Folhapress

Luis Augusto Simon

Do UOL, em São Paulo

28/03/2013 06h00

Quando Valdir Joaquim de Moraes era apenas Valdir, um desconhecido goleiro baixo, de 1,75 m, do Renner, campeão gaúcho de 1954 – rompendo a eterna dualidade entre Grêmio e Internacional – ou mesmo quando defendia o Palmeiras, chamado de Academia – fez isso por 11 anos e 482 jogos -, a posição estava sob suspeita no Brasil.

A moda era elogiar os argentinos. Gente como Vacca, Cláudio Vacca, que defendeu o Boca de 1938 a 1950 e que era famoso por sua agilidade e coragem de ir ao encontro da bola, mandando-a para longe. Uma piada definia a sensação de inferioridade que os brasileiros tinham em relação aos goleiros “deles”. Quando havia um cruzamento, o brasileiro gritava para o zagueiro: “vai que é sua”, o goleiro argentino berrava: "deixa que é minha”.

O Brasil tinha grandes goleiros, é claro, tudo podia ser um exagero, mas a percepção de que os argentinos eram melhores mudou mesmo quando Valdir tornou-se “seo” Valdir, um excepcional treinador de goleiros. A conversa com Valdir de Moraes, que está com 81 anos, demonstra, desde o primeiro momento, a saudade que ele tem dos campos. Do trabalho. Desempregado, ele está morando com a mulher, Yvone, e a filha Denise em uma ampla casa no Jardim Lindóia, bairro próximo ao centro de Porto Alegre.

“É bom ficar um pouco ao lado da família, mas eu quero voltar ao trabalho. Tenho conhecimento e experiência e sei que ainda posso dar muito ao futebol”, diz o velho goleiro, já com 81 anos. “Não interessa a idade, tenho muito a ensinar ainda”.

Ele não esconde a mágoa que trouxe de sua despedida do Palmeiras em janeiro do ano passado, quando tinha o cargo de consultor, trabalhando junto com Carlos Pracidelli, o preparador de goleiros. “Cheguei para trabalhar e me mandaram conversar com um advogado do clube, que me dispensou. O presidente nem falou comigo, foi falta de respeito. Aquela época estava cheia de indecisão no Palmeiras. Não sabiam direito o que fazer. Um clube como o Palmeiras tem de pensar grande, precisa ter grandes objetivos, buscar jogadores de muita qualidade para respeitar as tradições do clube”, afirmou.

Por suas mãos e ensinamentos passaram Velloso, Rogério Ceni, Marcos, Sérgio e Zetti. Todos, com exceção de Sergio, com passagens pela seleção brasileira.

Diego Cavalieri, não. Quando ele surgiu no Palmeiras, à sombra de Marcos, Valdir já não estava lá. O que dá ainda mais peso ao seu depoimento.

“Cavalieri deveria ser o goleiro da seleção brasileira. Ele fez um campeonato brasileiro perfeito em 2011 e ajudou o Fluminense a ser campeão. Ele tem sangue frio, tem colocação e também é arrojado. Para mim, ele está pronto para defender  Brasil”, diz.

Cavalieri, revelado no Palmeiras, teve uma carreira de pouco êxito na Europa. Esteve no Liverpool, sempre na reserva de Pepe Reina, e no Cesena. Nada que se compare à gloriosa passagem de Julio Cesar – agora reabilitado por Scolari para a seleção – pela Inter de Milão.

Uma diferença de currículo que não muda a opinião de Valdir de Moraes. “O Cavalieri não jogou na Europa por opção dos treinadores e não por falha técnica dele. Se tivesse jogado, daria conta do recado. A inatividade por lá atrapalhou o rendimento dele quando voltou ao Brasil, mas logo ele recuperou a forma. O Julio Cesar é bom, mas eu confio muito no Cavalieri. Outro goleiro que eu acho muito bom é o Jefferson, do Botafogo”.

Os dias em Porto Alegre são recheados de futebol. “Não saio da frente da televisão. Assisto a tudo o que passa, tem jogo de todo o canto do mundo. De vez em quando, faço um churrasco”.

Programas fora de casa? Apenas um jantar ou outro com os amigos. “Outro dia, mesmo, eu tinha combinado de sair com o Mello (Antonio Mello, preparador físico do Grêmio) para ir na casa do Vanderlei Luxemburgo para tomar um vinho. Mas ele não passou por aqui, deve ter esquecido ou acontecido alguma coisa asssim”, afirmou.

O velho trabalhador não reclama do “exílio” forçado com a família na terra natal. Diz que está gostando, mas afirma bem alto que trocaria tudo por um estilo de vida mais dinâmico. “Quero trabalhar, eu repito. Sempre trabalhei na vida e gosto de trabalhar. Ainda tenho o que passar aos jogadores, ainda posso ser muito útil”

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