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Pais de jogadores ganham status no futebol e vão de conselheiros a 'mãe de miss'

Maior companheiro de Neymar, pai é companheiro de baladas e administra sua carreira Imagem: Caio Guatelli/Folhapress

Luiza Oliveira

Do UOL, em São Paulo

07/03/2013 06h02

Foi-se o tempo em que os pais dos jogadores de futebol tinham como único papel incentivar os filhos e torcer não apenas por gols e belas defesas, mas também por um futuro melhor para a família. Hoje, eles colocam a mão na massa. Os pais ganharam status e comandam a vida dos atletas como empresários e conselheiros ou assumem o papel de ‘mãe de miss’.

Não são só os boleiros que se deparam com um mundo novo e cheio de desafios quando começam a fazer sucesso. Seus genitores passam pelo mesmo processo. Em sua maioria de origem humilde, são obrigados a lidar com dinheiro, fama e contratos, e  têm a missão de administrar uma empresa de carne e osso.

Foi o que aconteceu com Neymar, o pai. Jogador de futebol mediano com frustrações ao longo da carreira, ele viu sua vida mudar quando o filho explodiu. Os salários no Santos e os contratos de publicidade se tonaram mais gordos e complexos.

O primeiro passo do pai foi se cercar de pessoas experientes no assunto. Contratou um empresário do futebol, Wagner Ribeiro, e profissionais das áreas jurídica e contábil. Foi aprendendo com o tempo, e hoje é responsável por administrar o dinheiro do craque que ainda recebe mesada e admite que não sabe quanto ganha.

Neymar pai conta que sua principal contribuição para o sucesso do herdeiro são os conselhos. “Falo para ele ser o mais simples possível, ter humildade e pés no chão porque tudo é consequência disso e do trabalho. O Neymar é minha empresa. Tudo gira em torno dele. E não tem receita definida. Com o tempo fui aprendendo a lidar com isso, a virar empresário. O que eu vivi como atleta com certeza ajuda porque quero cortar caminhos para que meu filho não erre, especialmente na parte contratual”.

Será que os pais também ficam deslumbrados diante de tanto sucesso? Neymar é conhecido por sair com o filho para baladas e desfrutar das regalias que a fama e o dinheiro permitem. Muitos o criticam por se fascinar com o sucesso do filho. “As pessoas confundem deslumbramento com felicidade”, defende-se.

Assim como Neymar, o pai de Kaká também está entre administradores de carreira bem sucedidos. Bosco Leite é hoje quem cuida dos negócios do filho desde que o meia se desvinculou de Wagner Ribeiro. Ele é elogiado pelo empresário que relata a dedicação de Bosco no início da carreira do filho para aprender a trabalhar o marketing e a gestão esportiva. Acabou virando inspiração para outro pai de atleta e empresário.

Jordão Corrêa dedica não só seu amor e apoio ao filho, mas também seus conhecimentos de administração. Ele é pai do lateral Kléber, do Inter, que teve passagens por Corinthians, Hannover, Basel e Santos.

Jordão reconhece suas limitações como empresário, e, quando sente necessidade, pede auxílio a agentes mais experientes. Além disso, mantém conversas rotineiras com outros pais para trocar experiências.

O que mais prega ao filho é respeito pelo clube, colegas, imprensa e, principalmente torcedores. Como empresário, tenta esquecer o lado passional e encarar o filho como um produto. “Tenho essa preocupação. A gente conhece o potencial dele e sabe até onde pode ir em uma negociação. Ele é um produto do mercado”, conta.

A dificuldade de fazer essa diferenciação é um dos maiores problemas enfrentados pelos pais empresários. Agente de estrelas como Neymar e Lucas, Wagner Ribeiro critica quem que julga seus filhos como os melhores do mundo: os chamados ‘mãe de miss’.  Esse tipo prejudica a carreira por exigir contratos que não correspondem ao talento do atleta.

“Todo pai acha que o filho é o melhor do mundo, tem que ir para o Real Madrid ou para o Barcelona. Nós fazemos essa separação. O pai vai defender o filho, não vai ser profissional. O termo que usamos para falar desse pai é ‘mãe de miss’. A filha é a mais bonita, não erra e não pode ter constrangimento”.

O empresário cita um caso no São Paulo, em meados dos anos 2000, de um meia que teve sua carreira prejudicada por causa das atitudes do pai que comparava o jovem a Kaká, que estava estourando no clube paulista.

“O pai dele era dono de uma grande empresa de desentupidora. O moleque era bom de bola, mas ele começou a reclamar que meu escritório dava mais atenção ao Kaká, achava que o filho dele era melhor. Aí levou uma joia para minha filha no aniversário dela como se estivesse me comprando. Chamei o pai, falei ‘aqui está o contrato, não quero mais trabalhar com vocês’. Uns três anos atrás tentei ajuda-lo e levei para o Juventude, mas nem deu certo”.

O grupo Sonda empresaria jogadores, especialmente garotos das categorias de base ou no início da vida profissional. Um dos administradores, Guilherme Miranda, trabalha diretamente com os pais e já tem uma tática. Ele conta que qualquer tipo de desgaste é resolvido no começo para não se transformar em um grande atrito. Para orientar, sempre usa a conversa com ‘pequenos toques’,  já que ‘nada imposto funciona’.

A estratégia tem dado certo e alguns pais viraram até profissionais contratados pela empresa. É o caso de Carlos Gomes, cujo filho Matheus Índio veste a camisa 10 do time juvenil do Vasco e da seleção sub-17. "Ele faz a função como de qualquer empresário. Acompanha o dia a dia dos atletas. É uma situação rara, mas acontece”.

Guilherme reconhece que muitos pais dão trabalho. “O pai deve ser o ponto de equilíbrio. Se o atleta estiver mal, é importante motivar para não ficar tão mal. Se o atleta estiver super bem,  ele tem que diminuir essa euforia. Mas às vezes o pai faz o contrário. Se está mal, deixa o filho mais para baixo e o pressiona por considera-lo a salvação da família. Se está bem, supervaloriza o garoto e acaba se empolgando, sendo que ainda falta um longo caminho”.

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