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"Árbitro é mais apaixonado que jogador por futebol", diz autor de manual de arbitragem

Valdívia reclama com árbitro durante partida do Palmeiras contra o Mogi Mirim Imagem: Rodrigo Paiva/UOL

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

14/04/2012 06h00

“Árbitro de futebol faz isso porque ama o esporte. Entre os jogadores, essa relação está um pouco afastada. Os atletas ganham milhões para jogar, mas a maioria dos juízes tem uma segunda ocupação e a principal fonte de renda não é o esporte. Fazem isso pelo amor”. A frase é de Gustavo Korte, psicólogo esportivo e um dos maiores especialistas em arbitragem no país.

Ele cuida há três anos da preparação mental dos árbitros da Federação Paulista de Futebol e, nesta semana, lançou o resultado desse trabalho: o livro “Treino Mental – Arbitragem no Futebol. Objetivo: Rendimento e Bem-Estar”. A publicação é um manual com técnicas que foram usadas com sucesso pelo quadro de arbitragem paulista, aumentando concentração, confiança e capacidade de comunicação dos profissionais.

“O grande problema do árbitro é que ele é o responsável por todo o jogo. Se um atleta cometer um erro, a responsabilidade por uma derrota acaba sendo diluída com os seus companheiros. O árbitro não tem essa ajuda. Por isso, precisa ser mentalmente forte para não se abalar quando comete um erro”, analisa Gustavo.

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Segundo ele, um dos principais pontos do livro é ajudar os profissionais do apito a entenderem que eles são personagens dentro do espetáculo que é o jogo de futebol. “Errar é humano, faz parte da atividade. O que a gente tenta é despenalizar o erro. Fazer com que ele entenda que o erro é uma oportunidade de aprendizado para que, no próximo lance, ele não caia na mesma armadilha. As técnicas do livro ajudam a criar um ambiente positivo de crescimento”.

Para fazer isso, as dicas são simples. Primeiro, o juiz precisa saber como se comunicar. “E isso não quer dizer usar o português correto em cada instrução. É usar uma linguagem que os outros envolvidos na partida entendam. Ele precisa saber como falar para que os outros aceitem o que está sendo dito”.

O segundo passo é controlar, também, a comunicação não-verbal. “O juiz precisa ter consciência que a postura dele, o som do apito, a forma de acompanhar o jogo, tudo isso envolve a imagem e a mensagem que ele está passando para os jogadores e para a torcida”, continua Gustavo.

Depois entram as técnicas de visualização, que são usadas na preparação antes das partidas, mas também podem servir para momentos críticos dentro de campo. “O livro é montado em formato de cartilha, com páginas em branco e exercícios para que o árbitro preencha, ele mesmo, com as técnicas que funcionam para ele. Com dicas de concentração que ele usa normalmente, visualizações que o ajudam a se manter focado. Ele pode ser consultado no caminho até o estádio e até mesmo durante o jogo, no intervalo, por exemplo”.

Podem parecer afirmações óbvias, mas os resultados que Gustavo mostra são concretos. “A grande dúvida era como avaliar o trabalho. Não adianta ouvir elogios dos juízes. Eu sei que muitos deles gostam das técnicas, alguns inclusive relataram que estão usando em suas vidas fora do futebol. Mas eu precisava de números concretos. E o que eu achei foram as reclamações dos clubes durante o período antes do início do trabalho e depois. Em 2009, foram feitas 22 reclamações sobre decisões da arbitragem que puderam ter influência no jogo, em 202 partidas. Em 2010, esse número baixou para 3. Em 2011, nenhuma reclamação procedia. Acho que isso é um sinal do sucesso”, explica o psicólogo.

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