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Para entender como Deschamps resiste à crítica na França, pense em Felipão

O técnico francês Didier Deschamps em entrevista coletiva na sexta (15), antes de enfrentar a Austrália Imagem: AP Photo/David Vincent

Marcel Rizzo

Do UOL, em Istra (Rússia)

08/07/2018 17h00

Quem vê Didier Deschamps, 49, de paletó na beira do gramado orientando a França semifinalista da Copa do Mundo da Rússia imagina que ali pode estar um grande gênio de esquemas táticos revolucionários. Mas não. Segundo os próprios jogadores franceses, o técnico tem como principal característica a de motivador.

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É com essa aura mais de brasileiros como Felipão e Abel Braga que ele tem resistido às críticas que o acompanhavam até agora na seleção francesa. “Deschamps é muito bom para deixar os jogadores motivados, Ele é um vencedor, e tem muito a passar sobre isso, sobre sua carreira. Ele faz conversas individuais para conhecer os problemas de cada um. Não é à toa que vejo uma união gigantesca nesse elenco", disse o atacante Giroud.

O currículo de Deschamps é recheado, mas não precisa de muitos fatos e histórias para que os atletas, principalmente os mais jovens, maioria nessa equipe francesa, o admirem: ele foi o capitão no único título mundial até hoje da França, em 1998.

Assumiu a seleção francesa em 2012, após passagem vitoriosa como técnico do Olympique de Marselha, em momento turbulento: uma troca de gerações inevitável fez com que o ambiente na equipe, por alguns anos, fosse muito ruim.

O treinador tentou, na base da conversa, melhorar, mas ao final precisou sacar jogadores como Ribéry e Benzema. Aos que ficaram, como Giroud e Lloris, e aos que chegaram, como Pogba e Girezmann, e agora Mbappé, Deschamps se tornou uma espécie de conselheiro.

"É uma pessoa fundamental, me dá grandes conselhos. Um grande técnico e, acima de tudo, uma grande pessoa", disse o lateral-direito Pavard, que, aos 22 anos, faz parte da nova geração que tem cuidado especial de Deschamps.

Por exemplo: havia questionamentos sobre a presença, ou não, de Pavard na equipe titular. O jogador do Stuttgart, da Alemanha, era visto com alguma desconfiança por parte dos torcedores e imprensa. O trabalho de Deschamps foi fundamental, na base da conversa, para dar confiança ao garoto.

Antes do jogo contra a Argentina, o técnico falou que Pavard poderia arriscar mais quando subisse. Principalmente em chutes. E foi bem nesse jogo que ele fez um dos gols mais bonitos da Copa até agora, chutando de primeira, com efeito, uma bola que entrou no gol de Armani quando seu time perdia por 2 a 1. "Ainda não sei o que vai significar esse gol para minha carreira, não parei para pensar. Só depois da Copa vou conseguir medir isso", disse Pavard.

Deschamps costuma chamar para conversas individuais, não para falar de tática, mas para sentir como o atleta está com relação ao momento na seleção. Em outros momentos reúne também grupos pequenos, de quatro ou cinco jogadores, quando o tema a ser tratado é comum a todos eles. Uma maneira de trabalhar que, neste momento, está funcionando muito bem.

O "treinador" de campo

Mas se Deschamps é o motivador, quem é o principal responsável por armar a equipe? A missão é de Guy Stephan, o auxiliar do técnico. Claro, sempre com a palavra final sendo de Deschamps, que afinal é o chefe.

Aos 61 anos, Stephan teve uma carreira sem brilho como meia-atacante em times do quilate de Guingamp, Le Havre e Caen. Neste último, logo ao pendurar as chuteiras, assumiu o cargo de treinador do time B.

Mas ele fez, mesmo, sua carreira como auxiliar. No Lyon, foi adjunto de Raymond Domenech, que seria treinador da França no futuro, e de Roger Lemerre na Holanda e no Japão. Como técnico do time A, teve experiência no Bordeaux e na seleção de Senegal, entre 2003 e 2005.

Em 2009, quando Deschamps chegou ao Olympique de Marselha, as 40 anos, foi natural que o clube decidisse colocar alguém experiente pra ajudá-lo. Stephan foi o escolhido. O casamento deu certo e, três anos depois, quando convidado para assumir a seleção, Deschamps o levou a tiracolo.

Antes da partida contra o Uruguai, pelas quartas de final, Stephan foi o escolhido para dar entrevista. Num primeiro momento, houve resmungos dos jornalistas presentes na base francesa em Istra, cidade a 80 km de Moscou. Afinal é o auxiliar. Mas em 45 minutos, ele falou de tática, posicionamento dos atletas, como utilizar Mbappé e Griezmann, a função de Giroud, entre outros assuntos. Ao fim da coletiva, os jornalistas franceses quase o aplaudiram.

Um deles, então, classificou a união entre Deschamps e Stephan como "perfeita".

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