"Cidade mais cosmopolita da Copa" já fez brasileiros sofrerem por racismo
Dassler Marques e Pedro Ivo Almeida
Do UOL, em São Petersburgo (Rússia)
21/06/2018 04h00
Sede do próximo jogo do Brasil, contra a Costa Rica, sexta, às 9h, São Petersburgo é "a cidade mais cosmopolita da Copa do Mundo". A expressão, quase um "slogan" da segunda cidade mais importante da Rússia no ponto de vista político, se repete quase toda vez que ela é citada. De todas as 11 sedes, nenhuma se mostra tão aberta e se assemelha tanto às características do ocidente quanto aquela fundada por Pedro, o “Grande”, czar da Rússia durante quase 40 anos entre os séculos XVII e XVIII. Nem sempre, no entanto, os brasileiros conseguiram experimentar a cordialidade que diferencia a região do frio país.
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Mesmo buscando se aproximar de um jeito mais amável de Europa e restante do mundo, São Petersburgo foi palco de caso de racismo contra jogadores brasileiros com passagens pela seleção brasileira e Mundial no currículo. Em 2015, o atacante Hulk revelou diversos episódios de preconceito que sofreu durante o início de sua passagem pelo Zenit. Anos antes, em 2011, o lateral Roberto Carlos foi alvo do racismo de um torcedor que mostrou uma banana durante partida do time local contra o Anzhí, sua equipe.
Com Hulk, o preconceito começou no vestiário, onde companheiros não aceitavam seu salário milionário. Em 2012, o clube desembolsou 60 milhões de euros (R$ 153 milhões à época) para tirar o atacante do Porto. Discriminado, tinha dificuldade de se entrosar com o grupo.
Fora dos campos, mais problemas. O atacante ouvia imitações de macaco vindas da arquibancada. Em dezembro do mesmo ano, a torcida do Zenit chegou a divulgar um manifesto defendendo que “ausência de jogadores negros na escalação é uma importante tradição que enfatiza a identidade do clube”, argumentava a controversa carta.
“Nós como o clube mais setentrional das grandes cidades europeias nunca compartilhamos a mentalidade da África, América do Sul, Austrália ou Oceania. Nós apenas queremos jogadores de outras nações eslavas, como Ucrânia e Belarus, assim como dos países bálticos e Escandinávia. Temos a mesma mentalidade e histórico e cultura como estas nações”, completava o manifesto.
O episódio marcou o futebol europeu e gerou polêmica. Anos depois, a Uefa chegou a punir o Zenit a jogar sem torcida por conta de atitudes racistas da torcida em jogo da Liga Europa.
Cursos para sorrir e mudança de imagem
A história pouco lembra a tentativa atual do povo de São Petersburgo de se mostrar cordial e receptivo. Às vésperas da Copa, redes de restaurante e hotéis da cidade chegaram a promover cursos para que seus funcionários pudessem sorrir aos turistas que chegassem para acompanhar a Copa do Mundo.
A cultural local, ainda que busque se aproximar do mundo ocidental, guarda traços de uma Rússia distantes de gestos afetuosos. Um sorriso a um estranho soa como algo invasivo, uma atitude abusada.
Ainda assim, a imagem do racismo a um brasileiro vai ficando para trás. Ou tentando. Na última quarta-feira (20), moradores da cidade se juntavam a torcedores da seleção para fazer festa na porta do hotel durante a chegada da delegação para o próximo jogo. O clima era fraternal entre as partes.
Na próxima sexta-feira (22), o time de Tite vai em busca do seu sorriso após uma estreia que deixou quase todos de semblante fechado. A seleção brasileira encara a Costa Rica, na moderna arena de São Petersburgo, tentando apagar a imagem do empate por 1 a 1 contra a Suíça na estria da Copa. A cidade, por sua vez, também tenta mudar, mas a sua imagem para o Brasil.
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